"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

CUBA É UMA DITADURA: NÃO HÁ ELEIÇÕES LIVRES, NEM LIBERDADE DE IMPRENSA

Em Havana, esta semana, ao tocar no tema essencial dos direitos humanos, a presidente Dilma Roussef, para não ter que condenar a política cubana, fez uma comparação escapista entre os Estados Unidos e Cuba, colocando como exemplo a absurda situação de Guantânamo, em que presos cumprem penas aguardando julgamentos por tempo indeterminado. Mas esqueceu que em Cuba não há eleições livres, não existe liberdade de imprensa, nem individuais, há presos e confinados políticos sob ameaça permanente de julgamentos sumários.

Falou do telhado de vidro de todos os países, incluindo o nosso portanto. Porém, não disse que Brasil e EUA vivem regimes democráticos. Há eleições, rotatividade do poder, liberdade de imprensa, direito de defesa. Cuba encontra-se sob uma ditadura de mais de 50 anos.

Em 1959, a revolução de Sierra Maestra derrubou o esquema cruel de poder de Fulgêncio Batista, empunhando a bandeira da redemocratização do país. Tornou-se comunista e acabou substituindo aquele regime ditatorial pela ditadura de Fidel e Raul Castro. Este, agora, começa a buscar uma abertura para dar ao povo um lugar ao sol. Fidel jamais tentou esse caminho. Preferiu o do paredão, como ele próprio chamava o fuzilamento de adversários e dissidentes.

Ernesto Che Guevara, que dividiu o eixo das decisões com Fidel e Camilo Cienfuegos, ordenou a morte de centenas de pessoas de uma forma tirana que lembra Adolf Hitler. Eu me lembro, repórter do Correio da Manhã, que a revolução cubana entusiasmou a juventude. Estive com Fidel Castro, Che Guevara e Cienfuegos, em 59, na então embaixada de Cuba no Rio, num edifício da Rua Djalma Ulrich, Copacabana. Os vitoriosos ofereceram um Cuba Libre, nome de popular bebida da época, mistura de Rum com Coca-Cola, americana.

Surgiu na América Latina uma esperança na convergência da liberdade com a justiça social. Foi um engano. Logo o governo de Havana recorreu ao paredón e implantou a ditadura. O presidente dos EUA era Eisenhower. Iniciou o processo de isolamento de Cuba. Foi pior. Jogou Havana nos braços de Moscou, de Kruschev, que em 53 havia sucedido Stálin na União Soviética.

De 59 passamos a 60. Começa a campanha da sucessão de Juscelino Kubitschek. Jânio Quadros visita Cuba, levando na comitiva Afonso Arinos de Melo Franco, Hélio Fernandes, José Aparecido de Oliveira, Carlos Castelo Branco, Joel Silveira. Melhora sua posição com a esquerda brasileira.

O general Teixeira Lott piora a imagem sob o prisma ideológico. Num encontro na ABI, promovido pela UNE, então presidida por Raimundo Eirado, condena os julgamentos sumários, sem direito de defesa, os fuzilamentos do regime castrista, além das torturas que se banalizam.

A reação contrária foi imediata. Metade dos estudantes se rebelou. A outra parte não se rebelou porque Eirado, orador notável, no estilo dos tribunos de ontem, fez vibrante discurso reduzindo a contradição aberta. Lott havia perdido a serenidade. Eirado acalmou o salão e as escadarias. Mas a divisão da esquerda tornava-se um fato. As urnas comprovaram.

Falei em desfocar. As fotos de Fidel, Guevara, Cienfuegos no prédio da Djalma Ulrich esvaneceram-se. No início da década de 60, Camilo morre em acidente aéreo em Cuba. Enviado por Fidel para missão alucinada e impossível na Bolívia, Guevara é morto pelos rangers americanos que seguiam sua trilha, ao lado dos militares bolivianos.

Guevara escreveu um diário. Foi parar nas mãos do ministro do interior Antonio Arugedas. Ele vendeu o texto a Fidel por 10 milhões de dólares. Do conteúdo foram extraídos algumas partes. Por quê? Fidel Castro assumiu, solitário, o poder total. Sepultou os ideais de Sierra Maestra. Surgiu à frente da ditadura que implantou e envelheceu.

Regime imperial em que até a sucessão é hereditária. Muito diferente de nos EUA e no Brasil.

Pedro do Coutto
02 de fevereiro de 2012

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