"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 4 de fevereiro de 2012

O HOMEM DE 25 MILHÕES DE DÓLARES


Mantega cada vez se enrola mais no caso da indicação do presidente da Casa da Moeda, o homem de 25 milhões de dólares.

O episódio da demissão do presidente da Casa da Moeda está caindo no deboche e mais parece a letra de uma célebre marchinha de carnaval, “Nega Maluca”, do poeta Evaldo Ruy. “Toma que o filho é teu”, dizem em uníssono o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do PTB, Roberto Jefferson, pois nenhum deles quer assumir a paternidade da indicação de Luiz Felipe Denucci, o homem dos 25 milhões de dólares.

Mantega garante que, ao contrário do que diz o PTB, não indicou para a presidência da Casa da Moeda o executivo Luiz Felipe Denucci, exonerado no sábado passado. O ministro afirma ainda que não conhecia Denucci na época e que sua substituição já estava programada, ou seja, nem teria cedido a pressões para tirá-lo do cargo.

Mas a Folha de S. Paulo entra no meio da discussão para desmentir a segunda parte da declaração de Mantega. O jornal insiste na tese de que Denucci foi demitido às pressas, em pleno fim de semana, com inclusão do texto no Diário Oficial de segunda-feira na chamada undécima hora, quando a Fazenda tomou conhecimento de que iria ser publicada uma denúncia a respeito.

“Em 2008, quando nós substituímos o presidente da Casa da Moeda, então o PTB fez indicações para a presidência dentro dos critérios que nós utilizamos, critérios de competência técnica para ocupar esse cargo. Os primeiros nomes não foram aprovados, não foram aceitos e, finalmente, me trouxeram o currículo deste ex-presidente da Casa da Moeda que tinha um currículo adequado às missões. Então eu aceitei a indicação”, disse Mantega em Brasília.

“Eu não conhecia essa pessoa, o Luiz Felipe [Denucci], nunca tinha visto. Recebi o currículo da mão do Jovair Arantes [líder do PTB na Câmara]“, acrescentou o ministro.

Mas o presidente do PTB, Roberto Jefferson, reafirma que Denucci é um nome do ministro da Fazenda e o PTB apenas fez um “favor” ao chancelar a indicação, para ajudar Mantega. É uma briga boa, e um dos dois está mentindo.

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MANTEGA FOI AVISADO E NADA FEZ

Contra o ministro da Fazenda há não só a declaração de Jefferson, como também o fato de a Folha ter revelado que a Casa Civil e o PTB avisaram Mantega em agosto de 2010 que Denucci havia aberto “offshores” em paraísos fiscais que teriam movimentado US$ 25 milhões.

Mantega, no entanto, minimiza a suspeita dizendo que não poderia ter tomado uma atitude antes, sem uma acusação formalizada. “Agora, depois que ele já tinha saído, aparece essa nova questão [movimentação de dinheiro via offshore]. Elas serão analisadas, tem uma comissão de sindicância que vai analisar. Além disso, o Ministério Público também está apurando”, afirmou o ministro.

“Quando temos uma acusação formal, a primeira coisa que fazemos é abrir uma comissão de sindicância. Neste período até houve uma sindicância, em que teria havido alguma coisa em compras de máquinas, abrimos uma sindicância que não achou nenhuma irregularidade. Em 2009, 2010. Não havia nada. De qualquer forma, o Denucci vinha terminando sua missão, que era fazer a modernização, fazer com que a Casa da Moeda vendesse para vários outros países, a confecção de moeda para outros países, isso foi alcançado”, acentuou.

Logo em seguida, porém, o ministro caiu em contradição. Depois de dizer que em 2009 e 2010 “não havia nada” contra Denucci, Mantega admitiu que no final de 2010 foi publicada uma reportagem na revista “IstoÉ” que trazia à tona que Denucci remeteu recursos do exterior de forma suspeita. E Mantega tentou se explicar, da seguinte forma:

“A Receita Federal já havia agido no fato, aberto um PAD (Procedimento Administrativo Disciplinar). O fato (remeter recursos ao exterior) não tinha nenhuma interferência com a função que ele desempenhava”, alegou Mantega, dizendo que a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, também teria sido procurada pelo PTB com os mesmos argumentos. “Com a Gleisi foi a mesma história pela qual eles [PTB] vieram falar comigo, acusações que não são baseadas em fundamentos”, disse Mantega, cada vez mais enrolado.

Portanto, o fato é que o próprio ministro da Fazenda confirmou que o PTB (que ele alega ser responsável pela nomeação de Denucci) tentou demitir o presidente da Casa da Moeda, denunciando-o não somente a ele, Mantega, mas também à Casa Civil, através da ministra Gleisi Hoffmann.

Traduzindo: os jornalistas mais antigos costumam dizer que, se uma autoridade demora mais de 30 segundos para explicar uma coisa, é porque não tem explicação. Diante disso, agora só falta aparecer uma foto antiga de Mantega abraçado a Denucci, mostrando que o conhecia antes de nomeá-lo, para entornar o caldo o ministro da Fazenda.

Carlos Newton
04 de fevereiro de 2012

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