As duas Argentinas
Quando chego a Buenos Aires, sempre me lembro do francês gordinho do bendito hotel de Andorra, no pé dos Pirineus soprados pela nevasca, em pleno dezembro. Três mil metros de neve e precipícios. Frio de menos de 30 graus. Em cima o pico de Estats, como um véu de noiva, embaixo o desfiladeiro, e o carro, com correntes nos quatro pneus, deslizando devagar a madrugada inteira, à beira dos abismos, na estrada branca e mal iluminada.
Ao amanhecer, afinal, um hotel. Chamava-se Argentina. Por que Argentina, ali embaixo da França, se ele era francês e a Argentina tão longe?
– É uma homenagem ao Brasil. Morei um ano no Rio, trabalhei lá em hotéis e tenho muita saudade das praias e das brasileiras.
– E o que é que a Argentina tem com isso, se não é Brasil?
– É porque Argentina é a palavra mais bonita da língua portuguesa.
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A PRATA
A orgulhosa Argentina fez com que lhe pintassem um universal retrato de arrogância, geralmente injusto. Buenos Aires, o “Puerto de Nuestra Señora Santa Maria Del Bueno Aire”, foi fundada em 1536 pelo espanhol Pedro de Mendoza e refundada pelos espanhóis em 1580, onde hoje é a Plazza de Mayo.
A independência é de 1816, com San Martin, o grande herói nacional. Passaram séculos antes de a chamarem de Argentina. Em documentos antigos, já se falava em “civitas argentea”, depois falaram em “argentópólis” e “argyrópolis”, até que o poeta Martin del Barco Centenera criou a “definitiva, bela e melodiosa, maravilhosamente poética” palavra “Argentina”, por causa da prata encontrada com os nativos: nome de mulher, do latim “argentum”, deus das minas de prata (cujo adjetivo é “argentinus”).
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O CUSPE
“Na Argentina, onde se cospe nasce uma flor”, diziam os argentinos. Os não argentinos achavam petulância. Darwin esteve por lá em 1833:
– “Os habitantes respeitáveis do país sempre ajudam os contraventores a escapar. Acham que eles pecaram contra o governo e não contra o povo”.
O comediante mexicano Cantinflas popularizou uma frase invejosa:
– “Os argentinos querem afundar a Argentina mas não conseguem”.
Einstein disse algo parecido quando passou por lá em 1922:
– “Como é que um país tão desorganizado pode progredir?”.
Os espanhóis, pais da Argentina, vingavam-se deles:
– Um argentino dirigia em Madrid, avançou um sinal, o guarda o deteve:
– “Você é argentino, não é?”
– “Sou. E daí? Só os argentinos furam o sinal vermelho?”.
– “Não. Mas só os argentinos fazem isso sorrindo”.
E o brasileiro resumiu tudo na definição italiana:
– Compre um argentino pelo que vale e venda pelo que acha que vale.
Sebastião Nery
04 de fevereiro de 2012
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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