A visita da presidente Dilma Rousseff a Havana quase coincidiu com a primeira conferência nacional realizada pelo Partido Comunista de Cuba (PCC) nos últimos 50 anos. As conferências têm caráter extraordinário e, segundo o estatuto do Partidão cubano, devem ser realizadas para estudar temas que não podem esperar até o Congresso Nacional, que acontece a cada cinco anos.
A urgência se deveu à encruzilhada em que se encontra a sonífera ilha, que não sabe até que ponto vai continuar comunista e até que ponto vai adotar práticas capitalistas, vejam só que dilema verdadeiramente shakespeareano.
Estiveram em pauta projetos de mudanças políticas sensíveis – como a redução no mandato de dirigentes – para não deixar a legenda atrasada em relação às reformas econômicas que, mesmo a passos curtos, aos poucos estão mudando a ilha caribenha.
Nos últimos anos, o presidente Raúl Castro, desde abril também primeiro-secretário do partido, fez duras críticas ao funcionamento do organismo, que para ele se envolve em tarefas que não lhe competem e interfere nas atividades do governo.
No último Congresso Nacional do PCC, em abril de 2011, Raúl advertiu que “a primeira coisa que temos que modificar no partido é a mentalidade, que, como barreira psicológica, nos dará mais trabalho por estar atada durante anos aos mesmos dogmas e critérios obsoletos”.
A conferência, portanto, teve como objetivo, segundo as autoridades cubanas, implantar essa mudança de mentalidade sugerida por Raúl, de modo a “preservar o socialismo” e acompanhar “a atualização” do modelo econômico cubano.
Na agenda, estiveram em discussão a limitação de mandatos dos dirigentes do partido, a adaptação às novas tecnologias e o combate à corrupção – uma das últimas bandeiras levantadas pelo presidente.
Foi o próprio Raúl Castro também que lançou a ideia de limitar a dois anos (em vez de cinco) os mandatos dos dirigentes do partido, incluindo os seus – presidente do Conselho de Estado, presidente do Conselho de Ministros e primeiro-secretário.
Muitos tratam a reunião extraordinária do fim de semana passado, que teve a participação de 800 delegados, como a última da geração histórica de dirigentes cubanos, hoje quase todos com mais de 80 anos.
Raúl Castro também já lamentou que a revolução não tenha conseguido preparar de forma adequada a sucessão da ala mais antiga do partido, o que explica muita coisa sobre a curiosíssima situação hamletiana que Cuba vive hoje.
Carlos Newton
04 de fevereiro de 2012
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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