"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 24 de março de 2012

HISTÓRIAS DO FOLCLORE POLÍTICO BRASILEIRO

RIO – Amaral Peixoto, 74 anos, senador do MDB do Rio, no dia 15 de dezembro de 79, quando o PMDB e o PDS estavam sendo criados, passou três horas trancado com o ministro da Justiça Petrônio Portela, 54 anos, traçando seu destino político, por causa do controle do PMDB do Rio por Chagas Freitas. Petrônio queria uma resposta de Amaral para levar a Figueiredo :

- Como é, senador, então o senhor vem mesmo para o PDS?

- Vou. Mas há uma condição inarredável. Preciso do aval do Presidente.

- Não há problema. O Presidente o convocará.

Amaral pega o avião, voa para o Rio.

AMARAL

No dia seguinte, o deputado José Alves Torres, o Zeca Torres, liderado fiel de Amaral, vai visita-lo :

- Como é, comandante? Tudo resolvido? Os jornais dizem que o senhor conversou longamente com Petrônio e acertou a ida para o partido do governo.

- Conversamos, sim. Mas ainda não acertei com o governo. Só vamos com o aval pessoal do Presidente.

- Por que a duvida, comandante?
-
Ora, meu filho, não basta fazer o acerto com o Petrônio. Ele pode sair do ministério, pode morrer, quem é que vai continuar a cumprir o acordo?

- Mas, comandante, o Petrônio está forte no ministério e é muito jovem.

- Sei disso. Mas tudo pode acontecer. Ele pode cair, morrer.

No dia 6 de janeiro, Petrônio morria de enfarte. Que boca!

JURACY

Amaral Peixoto contou à revista “Visão” :

- “Quando ia ser promulgado o Ato Institucional nº 2 (27 de outubro de 65), Juracy Magalhães, ministro da Justiça de Castelo Branco, me declarou que, pelo seu passado revolucionário, de liberal, não poderia permanecer no governo. Que o presidente Castelo Branco, dada a pressão que havia nos meios militares, seria obrigado de qualquer maneira a baixar um Ato, fazendo aquilo que o Congresso não queria fazer”.

“Eu respondi que seria preferível que Castelo fizesse um Ato Institucional, porque o Congresso se desmoralizaria votando aquelas medidas. E Juracy me disse que aconselharia o presidente Castelo a fazer, embora, pelo seu passado, não pudesse continuar no ministério”.

“Juracy dizia que não ficaria no ministério porque o AI-2 era uma medida ditatorial. Tanto assim que, se tivesse querido, teria sido ministro do doutor Getulio (depois de 37), com quem tinha boas relações – e realmente tinha – e nunca aceitou. Mas acho que depois ele se esqueceu disso, porque assinou o AI-2 e continuou no ministério da Justiça”.

GETULIO

Eleito presidente da Republica em 1950, Getulio Vargas foi jantar na noite de Natal na casa da filha Alzirinha e do genro Ernani do Amaral Peixoto, também eleito governador do Estado do Rio.

O jovem jornalista José Lino Grunwald, estudante, comentou o abatimento em que estava Cristiano Machado, candidato do PSD, derrotado por ele. Getulio perguntou a Amaral:

- Já me falaram. É verdade mesmo, Amaral?

- É, presidente.E, pior do que abatido, está muito maguado, sofrido.

- Ora, Amaral, mais do que o Cristiano, sofreu o Cristo.

50 ANOS

Durante 50 anos, de 1937 a 87, Amaral Peixoto liderou o Estado do Rio e, depois da fusão com a Guanabara, em 74, comandou o MDB e, a partir de 80, o PDS do Rio.

Interventor do Estado do Rio de 37 a 45, fundador do PSD em 45, deputado constituinte de 46, governador do Estado do Rio de 51 a 55, embaixador do governo Kubitschek nos Estados Unidos, de 56 a 59, ministro da Viação de JK de 59 a 61, ministro do Tribunal de Contas da União de 61 a 62, ministro da Reforma Administrativa do governo João Goulart em 63, deputado federal de 63 a 71, senador de 71 a 87.

Presidente nacional do PSD de 51 até 65, quando Castelo Branco extinguiu os partidos com o AI-2, a firme e corajosa liderança de Amaral Peixoto, desafiando os vetos militares e do governo udenista de Café Filho, e as dissidencias do PSD do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Pernambuco, foi decisiva para a consolidação da candidatura de Juscelino e sua vitória na eleição.

Veio o golpe de 64, fundou o MDB e nele ficou até ser dissolvido.

100 ANOS

Amaral nasceu no Rio, antigo Distrito Federal, em 14 de julho de 1905 e morreu em 12 de março de 89. Bom livro sobre ele: “Artes da Política, Diálogo com Amaral Peixoto”-CPDOC-FGV (Nova Fronteira).

24 de março de 2012
do Jornalista Sebatião Nery

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