"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 24 de março de 2012

LULA, O MARECHAL TITO DE UMA IUGOSLÁVIA CHAMADA PT

Pode parecer normal, coisa do jogo político, mas, lamento, não é. Ao contrário: estamos diante da expressão de uma crise. Hoje foi a vez de Fernando Haddad visitar Lula e ter uma foto da dupla divulgada pelo Instituto Lula. Nem a rainha da Inglaterra — para usar a metonímia (viu, Pedrinho?) da realeza — tem sua vida tão documentada. A razão é simples. Não temos mais monarquias absolutistas no mundo, exceção feita à Arábia Saudita e a alguns paisecos que se tornaram folclóricos. Lula é o monarca absolutista com maior visibilidade no Ocidente.

Por enquanto, o ex-presidente não pode falar. Então ele envia recados por intermédio de suas visitas: Lula acha isso; Lula pensa aquilo; Lula quer aquele outro. Lula é, em suma, um elemento perversamente unificador da política.
Escrevo “perversamente unificador” porque nada cresce à sua sombra, como se vê. Diga o que se quiser de Dilma — que é intolerante com a corrupção (pode ser), com o fisiologismo (pode ser), com os oportunistas (pode ser) —, só não se diga que ela é uma liderança política. Se vai ser ainda, veremos.

A verdade é que a crise que está aí instalada — e, convenham, sem um motivo muito claro; não para que seja tão crispada ao menos — é fruto de um notável autoritarismo de Lula e, como dito, de seu absolutismo.
Dilma, a exemplo do próprio Haddad em escala municipal, é uma invenção sua. Dá pra discutir se o PT tinha ou não tinha outros nomes viáveis; dá pra debater se a escolha obedecia a uma equação ditada pelo marketing; dá para indagar se havia ou não gente mais competente no próprio PT… Uma coisa, no entanto, é absolutamente indiscutível: Lula tinha experiência política para governar (goste-se ou não de sua gestão). Dilma era uma aposta, na origem, de impressionante irresponsabilidade política.

Esclareço o que digo, já que, hoje em dia, o sentido das palavras parece viver uma certa falência. Não acho que Dilma esteja fazendo um governo temerário ou irresponsável, não! É medíocre, é fraco, não tem eixo nem rumo. Mas estamos muito longe do caos, é evidente. O que quero dizer com isso é que, dada a sua brutal inexperiência no jogo político e óbvia inabilidade, ela até que se sai bem. Ao contrário da fala do Gigante Adamastor (Os Lusíadas), com Dilma, o dano é menor do que o perigo — este era imenso; até que está saindo barato.

Como tudo está em transe na base governista e como a oposição vive seu momento silencioso (o DEM acuado pelas denúncias contra o senador Demóstenes Torres; o PSDB nacional, parece, pela falta do que dizer), Lula, que ainda não pode falar em público, se torna a única voz ainda firme da política; aquele de quem se espera algum norte, alguma articulação mágica, alguma resposta.

Que coisa! Em meio a tanta barulheira, a política se tornou refém do silêncio de Lula. É um sinal de fraqueza da oposição, sim!, incapaz de articular uma reação mesmo a um governo descoordenado.
Mas também é evidência de que o PT é, assim, uma espécie de Iugoslávia do Marechal Tito. A balcanização o espreita. É questão de tempo.

24 de março de 2012
Reinaldo Azevedo

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