"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 14 de abril de 2012

DEMOCRACIA AFRICANA: UM COPO MEIO CHEIO

Governos representativos progridem na África apesar de espasmos recentes

Qual o rumo da política africana? O mesmo rumo do Senegal, onde o presidente admitiu a derrota eleitoral em 25 de março para um oponente mais jovem, estendendo a tradição democrática ininterrupta desde a independência do país em 1960? Ou o seu vizinho Mali é um termômetro mais preocupante da situação? Alguns dias antes da eleição no Senegal, oficiais do exército de patentes baixas invadiram violentamente e saquearam o palácio presidencial da capital malinesa, Bamako, pondo fim abruptamente a um período de 20 anos de democracia que elevou a esperança da região.

Experiências tristes como a do Mali dominam as notícias que vêm da África, embora no longo prazo o sistema político do continente tenha evoluído mais na direção de políticos de ternos do que de militares em missões de combate. A democracia ao sul do Saara pode ser confusa e desorganizada, mas disputas eleitorais e limites de mandatos são cada vez mais aceitos como regras irremovíveis, tornando arriscado o seu desrespeito por aspirantes a ditadores, ao invés de tomadas por ideais inatingíveis. Hoje em dia, o único país africano a não ter eleições é a Eritreia.

Ainda assim muitos observadores da África percebem uma erosão gradual dos padrões de democracia. As eleições africanas não necessariamente geram governos representativos. Estudos acadêmicos também pintam um quadro sombrio. O índice anual de democracia da Economist Intelligence Unit ranqueia apenas um país africano, Maurício, como uma democracia “completa”.
O índice Mo Ibrahim, uma medida quantitativa de boas práticas de governo, revela uma queda de 5% desde 2007 na participação política africana. O Freedom House, um centro de estudos norte-americano, diz que o número de “democracias eletivas” completas entre os 49 países subsaarianos caiu de 24 em 2005 para 19 hoje.

Ao mesmo tempo, taxas de crescimento impressionantemente altas em muitos países africanos estimularam uma explosão das comunicações. Campanhas políticas não precisam mais depender de mídias estatais ou da habilidade de viajar a lugares longínquos.
 Elas podem atingir eleitores diretamente e através da internet e, especialmente, via os onipresentes telefones celulares. Governos espúrios têm que inventar modos de manipular os resultados cada vez mais complicados e por isso menos eficientes.
Deixando de lado a qualidade da democracia africana, quase toda a população de 1 bilhão do continente agora pode contar com eleições nacionais regulares. Isso é algo que 1,5 bilhão de asiáticos, apesar de seu impressionante desenvolvimento econômico, não pode fazer.



14 de abril de 2012

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