O comentarista Sergio Caldieri, sempre atento, nos manda um importante artigo sobre a estratégia dos Estados Unidos para se comporem com o partido da Fraternidade Muçulmana no Egito, que ganhou as eleições parlamentares e está chegando ao poder. O artigo explica tudo.
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OS EUA, DO “LADO CERTO DA HISTÓRIA”
MK Bhadrakumar (Indian Punchline)
Um alto dirigente da Fraternidade Muçulmana no Egito, em recente visita aos EUA, assegurou, publicamente, que os Irmãos islamitas podem aprender a conviver com o acordo de paz entre Egito e Israel. Segundo o Washington Times, a frase dele foi a seguinte: “Nós respeitamos obrigações internacionais. Ponto final.”
Perguntado especificamente se a Fraternidade Muçulmana havia proposto fazer um referendum sobre o Acordo de Camp David de 1979, respondeu com negativa firme e explicou que não haverá qualquer referendum, absolutamente, sobre obrigações internacionais. E garantiu que “todas as obrigações internacionais do governo serão respeitadas pelo partido Liberdade e Justiça, inclusive Camp David”.
O governo Barack Obama prometeu dar 1,5 bilhão de dólares para ajudar o governo chefiado pela Fraternidade Muçulmana no Cairo. A prodigalidade tem ares de negócio acertado. A Fraternidade Muçulmana quer o dinheiro para firmar-se no governo, sob a vigilância do povo egípcio, que fiscalizará seu desempenho no governo. Na essência, Washington está emprestando o dinheiro para que os Irmãos possam ‘cumprir’ as promessas que fizeram ao povo durante a campanha, e, ‘em troca’, os Irmãos aprendem a viver com Israel – ou, pelo menos, a não precipitar, bem agora, mais um front no Sinai, quando os EUA têm panelas fervendo no Irã, Síria, Iraque e Iêmen.
De bônus, Israel suspira aliviada, e os dividendos correm para a campanha de Obama, em ano eleitoral. Além disso, o ramo sírio da Fraternidade Muçulmana é também aliado de Turquia, Arábia Saudita e Qatar, todos parceiros dos EUA na empreitada de derrubar o governo de Damasco. Há notícias de que os Irmãos sírios já se encontraram secretamente com agentes israelenses. Como se vê, o mundo é mesmo pequeno…
Tudo isso torna infinitamente interessantes as próximas eleições presidenciais no Egito, dias 23 e 24 de maio. A Fraternidade Muçulmana mudou de ideia e decidiu apresentar, como candidato, seu número 2, Khairat El-Shater. Seus adversários incluem três nomes facilmente identificáveis como do establishment da era Hosni Mubarak – o ex-ministro de Relações Exteriores e chefe da Liga Árabe Abu Moussa; o ex-comandante da inteligência de Mubarak, Omar Suleiman (chamado amorosamente de “o açougueiro do Cairo”); e o ex-primeiro-ministro Ahmed Shafiq.
A aliança tática entre os Irmãos e os militares egícios provavelmente rachou. E a Fraternidade Muçulmana também tem de concorrer contra os salafistas ultraconservadores baseados na Arábia Saudita e contra a plataforma islamista centrista de Al-Azhar. A plataforma islamista está gravemente fragmentada, e, aos olhos dos EUA, a Fraternidade Muçulmana parece mais homogênea.
Em resumo, Obama joga para ganhar nas duas pontas: se der cara, ganha; se der coroa, não perde.
Os EUA têm fortes laços com os militares egípcios, próximos dos sauditas e qataris (mentores dos salafistas). Agora, estão abertamente enlaçando os Irmãos. Perdem, é claro, os liberais e os secularistas egípcios, que deveriam ser aliados ‘naturais’ dos EUA na revolução democrática.
Mas é que os EUA querem estar “do lado certo da história”.
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OS EUA, DO “LADO CERTO DA HISTÓRIA”
MK Bhadrakumar (Indian Punchline)
Um alto dirigente da Fraternidade Muçulmana no Egito, em recente visita aos EUA, assegurou, publicamente, que os Irmãos islamitas podem aprender a conviver com o acordo de paz entre Egito e Israel. Segundo o Washington Times, a frase dele foi a seguinte: “Nós respeitamos obrigações internacionais. Ponto final.”
Perguntado especificamente se a Fraternidade Muçulmana havia proposto fazer um referendum sobre o Acordo de Camp David de 1979, respondeu com negativa firme e explicou que não haverá qualquer referendum, absolutamente, sobre obrigações internacionais. E garantiu que “todas as obrigações internacionais do governo serão respeitadas pelo partido Liberdade e Justiça, inclusive Camp David”.
O governo Barack Obama prometeu dar 1,5 bilhão de dólares para ajudar o governo chefiado pela Fraternidade Muçulmana no Cairo. A prodigalidade tem ares de negócio acertado. A Fraternidade Muçulmana quer o dinheiro para firmar-se no governo, sob a vigilância do povo egípcio, que fiscalizará seu desempenho no governo. Na essência, Washington está emprestando o dinheiro para que os Irmãos possam ‘cumprir’ as promessas que fizeram ao povo durante a campanha, e, ‘em troca’, os Irmãos aprendem a viver com Israel – ou, pelo menos, a não precipitar, bem agora, mais um front no Sinai, quando os EUA têm panelas fervendo no Irã, Síria, Iraque e Iêmen.
De bônus, Israel suspira aliviada, e os dividendos correm para a campanha de Obama, em ano eleitoral. Além disso, o ramo sírio da Fraternidade Muçulmana é também aliado de Turquia, Arábia Saudita e Qatar, todos parceiros dos EUA na empreitada de derrubar o governo de Damasco. Há notícias de que os Irmãos sírios já se encontraram secretamente com agentes israelenses. Como se vê, o mundo é mesmo pequeno…
Tudo isso torna infinitamente interessantes as próximas eleições presidenciais no Egito, dias 23 e 24 de maio. A Fraternidade Muçulmana mudou de ideia e decidiu apresentar, como candidato, seu número 2, Khairat El-Shater. Seus adversários incluem três nomes facilmente identificáveis como do establishment da era Hosni Mubarak – o ex-ministro de Relações Exteriores e chefe da Liga Árabe Abu Moussa; o ex-comandante da inteligência de Mubarak, Omar Suleiman (chamado amorosamente de “o açougueiro do Cairo”); e o ex-primeiro-ministro Ahmed Shafiq.
A aliança tática entre os Irmãos e os militares egícios provavelmente rachou. E a Fraternidade Muçulmana também tem de concorrer contra os salafistas ultraconservadores baseados na Arábia Saudita e contra a plataforma islamista centrista de Al-Azhar. A plataforma islamista está gravemente fragmentada, e, aos olhos dos EUA, a Fraternidade Muçulmana parece mais homogênea.
Em resumo, Obama joga para ganhar nas duas pontas: se der cara, ganha; se der coroa, não perde.
Os EUA têm fortes laços com os militares egípcios, próximos dos sauditas e qataris (mentores dos salafistas). Agora, estão abertamente enlaçando os Irmãos. Perdem, é claro, os liberais e os secularistas egípcios, que deveriam ser aliados ‘naturais’ dos EUA na revolução democrática.
Mas é que os EUA querem estar “do lado certo da história”.
14 de abril de 2012
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