O caça francês Rafale.
A licitação para a compra de 126 aviões de caça franceses Rafale pelas Forças Armadas da Índia, um contrato no valor de US$ 15 bilhões, pode estar ameaçada devido a um escândalo de tentativa de corrupção envolvendo o chefe das Forças Armadas indianas.
Esta semana, oficiais indianos teriam demonstrado estar insatisfeitos com as negociações para a compra dos caças Rafale, segundo anunciou o canal de televisão "Times Now". Os problemas se referem ao valor dos aparelhos e à falta de clareza quanto à transferência de tecnologia.
Por outro lado, um escândalo envolvendo a tentativa de corrupção do chefe das Forças Armadas indianas, general V. K. Singh, se agravou, levando o ministro da Defesa, A. K. Antony, a declarar hoje que se for constatada qualquer irregularidade ou indício de corrupção em contratos do setor, o governo indiano não hesitará em "cancelar contratos em fase de finalização, ainda que já tenham passado por avaliações técnicas e comerciais".
Em janeiro, o Rafale foi proclamado vencedor da licitação indiana. Desde então, iniciou-se um processo de negociações exclusivas com a fabricante Dassault.
General revela proposta de propina
O chefe das Forças Armadas indianas criou suspresa ao declarar no início da semana ao jornal The Hindu que havia recebido uma proposta de suborno de US$ 2,8 milhões de um lobista da área, oficial superior agora na reserva, para aprovar um contrato de compra de 600 veículos militares para o Exército. O militar afirma que informou o ministro da Defesa sobre a tentativa de corrupção. A imprensa estima que o caso remonta há dois anos.
O escândalo tomou outra dimensão nos últimos dias com o vazamento de uma carta enviada pelo general Singh ao primeiro-ministro Manmohan Singh, datada de 12 de março, na qual ele critica o estado de sucateamento do arsenal militar indiano. Na carta, o chefe das Forças Armadas diz que o país não está preparado para enfrentar uma guerra, pois « falta munição ao Exército e 97% da capacidade de defesa anti-aérea está obsoleta ».
O ministro da Defesa, A. K. Antony, qualificou o vazamento de um ato antipatriótico que “só contribui para ajudar os inimigos do país ». Furioso, o militar declarou ter sido traído e defende que os responsáveis sejam punidos « sem piedade ».
Recentemente, o general Singh criou uma controvérsia com o governo ao tentar mudar sua data de nascimento em documentos oficiais, a fim de evitar a aposentadoria e ficar no cargo por mais um ano. Ele tentou se defender na Corte Suprema, mas perdeu o recurso.
A tensão entre as Forças Armadas e o Ministério da Defesa gera desconfiança nos contratos de compra de armamento e equipamentos militares.
Brasil acompanha negociações
Em fevereiro, o ministro brasileiro da Defesa, Celso Amorim, veio à Índia pedir ao governo indiano para compartilhar algumas informações sobre a licitação vencida pela Dassault, como modalidades de transferência de tecnologia que também interessam ao Brasil.
O Rafale é um dos três concorrentes na licitação aberta pela FAB para a compra de 36 caças. No Brasil, o avião francês concorre com o sueco Gripen, da Saab, e com o americano F-18 Super Hornet, da Boeing. A licitação foi suspensa no início do governo da presidente Dilma Rousseff.
O Rafale nunca foi vendido no exterior. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, apresenta o sucesso das negociações com a Índia como uma vitória de seu governo. Se as negociações azedarem, seria ruim para a reta final da campanha de Sarkozy à reeleição.
O ministro brasileiro da Indústria, Fernando Pimentel, que acompanha a presidente Dilma Rousseff em Nova Délhi, disse hoje que autoridades indianas reafirmaram nas conversas com o governo brasileiro a escolha do Rafale para equipar suas Forças Armadas.
01 de abril de 2012
Adriana Moysés, enviada da RFI à Nova Délhi
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"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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