"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 26 de maio de 2012

QUEREM SALVAR A DELTA VIA BNDES

Circula na internet um artigo do deputado Sergio Guerra sobre a Delta e o BNDES

O ator Paulo Paraná nos envia um artigo do deputado Sérgio Guerra (PSDB-PE) que está circulando na internet, sobre um dos mais maiores absurdos dos últimos tempos: a “compra” da empreiteira Delta pelo frigorífico JBS, que é associado ao BNDES e é presidido por Henrique Meirelles, vejam só como o mundo é pequeno…

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QUEREM SALVAR A DELTA VIA BNDES
Sérgio Guerra

Uma frase antiga ensina que, na política, para se entender de verdade os
fatos, é preciso esperar as ondas pararem de bater e analisar a
espuma.

O que a espuma do escândalo Cachoeira revela é estarrecedor e ofende a
integridade dos brasileiros.

Explico.

Existem na República dois cargos que são os mais importantes na
definição de um governo, seja pelo seu caráter simbólico seja pelo que
significam na realidade: o do ministro da Justiça e o do presidente do
Banco Central. Cabem a esses dois cargos, mais do que a qualquer
outro, zelar pela Justiça e pelos interesses maiores do país,
manifestados nas decisões econômicas que afetam todos os brasileiros.
São, portanto, cargos cujo exercício é indissociável da ética.


É, portanto, com perplexidade que os brasileiros são informados pela
imprensa que o ex-ministro da Justiça do governo Lula, Márcio Thomaz
Bastos, se transformou, nada mais, nada menos, do que em advogado de
defesa de Cachoeira pela bagatela, publicada, de 13 milhões de reais.


Não fosse essa aberração suficiente, o país é surpreendido com a
revelação de que o ex-presidente do Banco Central, também no governo
do PT, será o novo presidente da construtora Delta. E isso, numa
operação absolutamente atípica, já que a imprensa revela que a “holding”
que comandará a Delta assumirá seu controle sem fazer nenhum aporte
financeiro.


Seria abusar muito da ingenuidade dos brasileiros acreditar que os
dois teriam aceitado essas funções, sem antes consultar o governo
federal e os líderes do PT, já que as biografias e credenciais no
mercado de ambos estão certamente vinculadas às suas antigas funções
no governo petista.


Mas se alguém ainda acreditasse – e antes que o governo diga que não
tem como interferir na atuação profissional de ninguém -, a pá de cal
na boa-fé foi dada com a informação divulgada de que a empresa que vai
assumir a construtora Delta tem, na verdade, como maior acionista o
BNDES. Em outras palavras, o dinheiro público dos brasileiros está
sendo usado para salvar a construtora.


E confirmando-se a tese de que tudo o que é ruim pode piorar, um dos donos
da empresa controladora afirma em alto e bom tom que o governo federal
foi previamente consultado e apoiou essa transação tapa-buraco porque
“não quer que a construtora quebre”.
E arremata: “Imagina que o doutor
Henrique Meirelles [ex-presidente do Banco Central e presidente do
Conselho de Administração da "holding" J&F] vai fazer um negócio que o
governo não quer! 99% da carteira da Delta é com o governo federal,
estadual e municipal.”


O tabuleiro de xadrez se fecha com a lembrança de que, após contratar
José Dirceu como consultor, a Delta teve seus contratos com o governo
federal ampliados de forma extraordinária.


A pergunta que se impõe é:
quais são os verdadeiros elos que existem
entre o PT e Cachoeira, que fazem com que alguns dos principais rostos
do governo petista estendam a mão de forma tão urgente ao contraventor
e à empresa acusada de manter relações ilícitas com ele?

Como pode o governo federal se mobilizar – e mobilizar recursos públicos que tanta
falta fazem em outras áreas da vida nacional – para salvar uma empresa
acusada de superfaturamento e danos ao erário? Por que tanto interesse
em ajudar Cachoeira e a Delta?

O que está se passando diante de nossos olhos e o país ainda não enxergou?
Tudo indica que existe um escândalo ainda maior dentro do escândalo
gigantesco que já conhecemos.

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