"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 8 de junho de 2012

A OPERAÇÃO TIPO EL SALVADOR PARA A SÍRIA

Modelada nas operações encobertas dos EUA na América Central, a “Opção salvadorenha para o Iraque”, iniciada pelo Pentágono em 2004, foi executada sob o comando do embaixador dos EUA no Iraque John Negroponte (2004-2005) em conjunto com Robert Stephen Ford, que em janeiro de 2011 foi nomeado embaixador dos EUA na Síria, menos de dois meses antes de começar a insurgência armada contra o governo de Bashar Al Assad.

“A opção salvadorenha” é um “modelo terrorista” de assassinatos em massa por esquadrões da morte patrocinados pelos EUA. Ela foi aplicada primeiramente em El Salvador, no auge da resistência contra a ditadura militar, resultando em cerca de 75 mil mortes.

John Negroponte foi embaixador dos EUA em Honduras de 1981 a 1985. Como embaixador em Tegucigalpa ele desempenhou um papel chave no apoio e supervisão dos mercenários “contra” nicaraguenses que estavam baseados em Honduras. Os ataques além fronteiras, na Nicarágua, ceifaram cerca de 50 mil vidas civis.
Em 2004, John Negroponte foi nomeado embaixador dos EUA no Iraque, com um mandato muito específico.

O embaixador na Síria (nomeado em Janeiro de 2011), Robert Stephen Ford, fez parte da equipe de Negroponte na Embaixada dos EUA em Bagdad (2004-2005). A “Opção salvadorenha” para o Iraque estabeleceu as bases para o lançamento da insurgência na Síria, em Março de 2011, a qual começou na fronteira Sul, na cidade de Daraa.

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MATANÇAS E ATROCIDADES

Em relação a acontecimentos recentes, as matanças e atrocidades cometidas que resultaram em mais de 100 mortes incluindo 35 crianças na cidade fronteiriça de Houla, em 27 de Maio, eles foram, com toda a probabilidade, executados sob o que pode ser descrito como uma “Opção salvadorenha para a Síria”.
“À medida que a informação goteja de Houla, Síria, próxima à cidade de Homs e da fronteira sírio-libanesa, torna-se claro que o governo sírio não foi responsável por bombardear até à morte cerca de 32 crianças e seus pais, como é periodicamente afirmadopela mídia ocidental e mesmo a própria ONU “.

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FORD EM DAMASCO

O embaixador Robert S. Ford foi despachado para Damasco no fim de Janeiro de 2011 no momento do movimento de protesto no Egito. (o autor desta matéria estava em Damasco em 27/Janeiro/2011 quando o enviado de Washington apresentou as suas credenciais ao governo Al Assad).

No princípio da minha visita à Síria, em Janeiro de 2011, refleti sobre o significado desta nomeação diplomática e o papel que poderia desempenhar num processo encoberto de desestabilização política. Não previ, contudo, que esta agenda de desestabilização seria implementada dentro de menos de dois meses a seguir à posse de Robert S. Ford como embaixador dos EUA na Síria.

O restabelecimento de um embaixador dos EUA em Damasco, mais especificamente a escolha de Robert S. Ford como embaixador dos EUA, indica uma relação direta com o início da insurgência integrada por esquadrões da morte em meados de Março de 2011, contra o governo de Bashar al Assad.

Robert S. Ford era o homem para este trabalho. Como “Número Dois” na embaixada do EUA em Bagdad (2004-2005) sob o comando do embaixador John D. Negroponte, ele desempenhou um papel chave na implementação da “Opção salvadorenha no Iraque” do Pentágono. Consistiu em apoiar esquadrões da morte e forças paramilitares iraquianas modeladas na experiência da América Central.

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UM PAPEL CENTRAL

Desde a sua chegada a Damasco no fim de Janeiro de 2011 até ser chamado de volta a Washington em Outubro de 2011, o embaixador Robert S. Ford desempenhou um papel central em preparar o terreno dentro da Síria bem como em estabelecer contatos com grupos da oposição.
A embaixada do EUA foi a seguir fechada em fevereiro. Ford também desempenhou um papel no recrutamento de mercenários Mujahideen junto a países árabes vizinhos e na sua integração dentro das “forças de oposição” sírias. Desde a sua partida de Damasco, Ford continua a supervisionar o projeto Síria fora do Departamento de Estado dos EUA.

“Como embaixador dos Estados Unidos junto à Síria – uma posição que a secretária de Estado e o presidente estão a manter-me – trabalharei com colegas em Washington para apoiar uma transição pacífica para o povo sírio. Nós e nossos parceiros internacionais esperamos ver uma transição que estenda a mão e inclua todas as comunidades da Síria e que dê a todos os sírios esperança de um futuro melhor. O meu ano na Síria diz-me que uma tal transição é possível, mas não quando um lado inicia constantemente ataques contra pessoas que se abrigam nos seus lares”. (página da Embaixada dos EUA no Facebook).

“Transição pacífica para o povo sírio”? O embaixador Robert S. Ford não é um diplomata vulgar. Ele foi o representante dos EUA em Janeiro de 2004 na cidade xiita de Najaf, no Iraque. Najaf era a fortaleza do exército Mahdi. Poucos meses depois ele foi nomeado o “Homem Número Dois” (Ministro Conselheiro para Assuntos Políticos) na embaixada dos EUA em Bagdad no princípio do mandato de John Negroponte como embaixador no Iraque (Junho 2004 – Abril 2005). Ford a seguir serviu sob o sucessor de Negroponte, Zalmay Khalilzad, antes da sua nomeação como embaixador na Argélia em 2006.

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O NÚMERO DOIS
O mandato de Robert S. Ford como “Número Dois” sob o comando do embaixador Negroponte era coordenar fora da embaixada o apoio encoberto a esquadrões da morte e grupos paramilitares no Iraque tendo em vista fomentar a violência sectária e enfraquecer o movimento de resistência.

John Negroponte e Robert S. Ford, na embaixada dos EUA, trabalhavam em estreita colaboração no projeto do Pentágono. Dois outros responsáveis da embaixada, nomeadamente Henry Ensher (vice de Ford) e um responsável mais jovem na seção política, Jeffrey Beals, desempenharam um papel importante na equipe “conversando com um conjunto de iraquianos, incluindo extremistas”. Outro ator individual chave na equipe de Negroponte era James Franklin Jeffrey, embaixador dos EUA na Albânia (2002-2004).

Vale a pena notar que o recém nomeado por Obama chefe da CIA, general David Petraeus, desempenhou um papel chave na organização do apoio encoberto a forças rebeldes da Síria, na infiltração da inteligência síria e nas forças armadas.

Petraeus desempenhou um papel chave na Opção salvadorenha do Iraque. Ele dirigiu o programa “Contra Insurgência” do Comando Multinacional de Segurança de Transição em Bagdad em 2004 em coordenação com John Negroponte e Robert S. Ford na Embaixada dos EUA.

A CIA está a supervisionar operações encobertas na Síria. Em meados de março, o general David Petraeus encontrou-se com seu confrades da inteligência em Ancara, para discutir apoio turco ao Free Syrian Army (FSA)

David Petraeus, o chefe da CIA, efetuou reuniões com altos oficiais turcos, segundo o jornal Hürriyet Daily News. Petraeus encontrou-se também com o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan e seu confrade turco, Hakan Fidan, chefe da Organização de Inteligência Nacional (MIT).

Um responsável da Embaixada dos EUA disse que responsáveis turcos e americanos discutiram “muito frutuosamente as mais prementes questões da cooperação na região para o próximos meses”. Responsáveis turcos disseram que Erdogan e Petraeus trocaram pontos de vista sobre a crise síria e o combate antiterror. Tudo coincidência.

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