Eu estava sem ler jornais e revistas quando foi publicado, na semana passada, o encontro entre Lula, ex-presidente da República, Gilmar Mendes, membro do Supremo Tribunal Federal, e Nelson Jobim, ex-ministro da Justiça, Defesa e do STF.
Noves fora todas as versões e suas visíveis contradições, podemos afirmar com certeza: houve o encontro e foi tratado o assunto do julgamento do mensalão entre um juiz do caso, um amigo comum e um mais-que-interessado. Não vou entrar no mérito se o primeiro tentou ou não tentou chantagear o segundo.
Inimaginável esse encontro em qualquer lugar onde as instituições tenham um funcionamento minimamente responsável (e respeitável).
No depoimento que deu na Comissão de Ética do Senado Federal, o senador Demóstenes Torres, a certa altura, citou um trecho da música de Ismael Silva “Nem é bom falar”. O trecho que o acusado de memória relembrou foi o primeiro verso: “Nem tudo que se diz se faz…”.
Obviamente, referindo-se à discrepância entre seu comportamento na tribuna, condenando (com razão) toda sorte de atitudes inaceitáveis de quem quer que fosse, e suas agora notórias relações com o criminoso chamado Carlinhos Cachoeira.
Nego-me, conscientemente, a chamar este último de “contraventor” ou de “empresário de jogos eletrônicos” porque já ando farta de ouvir eufemismos neste país em que condutas claramente criminosas passam a ser tratadas pela presidente da República como “malfeitos”.
Mas, voltando ao depoimento do senador e à música que ele relembrou, quero acrescentar que sua memória atuou como filtro da verdade para esconder a terceira estrofe, em que o compositor Ismael Silva assinalou: “Mas esta vida/ não há quem me faça deixar/ Por falares tanto/ a polícia quer saber/ se eu dou meu dinheiro todo a você”. É que o que se investiga, não lá no Conselho de Ética, mas na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, é a sua (dele, Demóstenes) participação na rede de atividades legais e ilegais comandadas por Cachoeira.
Enquanto isso, nessa CPMI, trava-se verdadeira batalha entre PT e PMDB (entre si e contra os chamados partidos de oposição), cada um de tudo fazendo para obstruir a descoberta dos desvios de recursos envolvendo governadores, empresas, órgãos governamentais e, inclusive, a menina dos olhos de Dilma Rousseff, o famigerado PAC.
Do nada – pois não se trata de ano eleitoral -, grandes empresas, certamente penalizadas com as dívidas do outrora digno Partido dos Trabalhadores, repassaram mais de R$ 50 milhões para ele. Imagino que essas empresas (todas, diga-se de passagem, donas de obras públicas importantes ou beneficiadas como “empresas vencedoras”, escolhidas pelo BNDES para impulsionar o desenvolvimento nacionalista do capitalismo brasileiro) devem ter acabado por se converterem ao novo programa do partido, isto é, o que esse agora pratica.
Não consegui mesmo optar entre os dois adjetivos. Que o leitor escolha entre insensatez ou desfaçatez para qualificar cada um desses episódios.
08 de junho de 2012
Sandra Starling
Noves fora todas as versões e suas visíveis contradições, podemos afirmar com certeza: houve o encontro e foi tratado o assunto do julgamento do mensalão entre um juiz do caso, um amigo comum e um mais-que-interessado. Não vou entrar no mérito se o primeiro tentou ou não tentou chantagear o segundo.
Inimaginável esse encontro em qualquer lugar onde as instituições tenham um funcionamento minimamente responsável (e respeitável).
No depoimento que deu na Comissão de Ética do Senado Federal, o senador Demóstenes Torres, a certa altura, citou um trecho da música de Ismael Silva “Nem é bom falar”. O trecho que o acusado de memória relembrou foi o primeiro verso: “Nem tudo que se diz se faz…”.
Obviamente, referindo-se à discrepância entre seu comportamento na tribuna, condenando (com razão) toda sorte de atitudes inaceitáveis de quem quer que fosse, e suas agora notórias relações com o criminoso chamado Carlinhos Cachoeira.
Nego-me, conscientemente, a chamar este último de “contraventor” ou de “empresário de jogos eletrônicos” porque já ando farta de ouvir eufemismos neste país em que condutas claramente criminosas passam a ser tratadas pela presidente da República como “malfeitos”.
Mas, voltando ao depoimento do senador e à música que ele relembrou, quero acrescentar que sua memória atuou como filtro da verdade para esconder a terceira estrofe, em que o compositor Ismael Silva assinalou: “Mas esta vida/ não há quem me faça deixar/ Por falares tanto/ a polícia quer saber/ se eu dou meu dinheiro todo a você”. É que o que se investiga, não lá no Conselho de Ética, mas na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, é a sua (dele, Demóstenes) participação na rede de atividades legais e ilegais comandadas por Cachoeira.
Enquanto isso, nessa CPMI, trava-se verdadeira batalha entre PT e PMDB (entre si e contra os chamados partidos de oposição), cada um de tudo fazendo para obstruir a descoberta dos desvios de recursos envolvendo governadores, empresas, órgãos governamentais e, inclusive, a menina dos olhos de Dilma Rousseff, o famigerado PAC.
Do nada – pois não se trata de ano eleitoral -, grandes empresas, certamente penalizadas com as dívidas do outrora digno Partido dos Trabalhadores, repassaram mais de R$ 50 milhões para ele. Imagino que essas empresas (todas, diga-se de passagem, donas de obras públicas importantes ou beneficiadas como “empresas vencedoras”, escolhidas pelo BNDES para impulsionar o desenvolvimento nacionalista do capitalismo brasileiro) devem ter acabado por se converterem ao novo programa do partido, isto é, o que esse agora pratica.
Não consegui mesmo optar entre os dois adjetivos. Que o leitor escolha entre insensatez ou desfaçatez para qualificar cada um desses episódios.
08 de junho de 2012
Sandra Starling
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