HISTÓRIAS DE MURILOS
Augusto Frederico Schmidt, poeta rotundo, que com o mesmo talento servia às musas e ao dinheiro, brigou com Murilo Mendes, santo poeta, que só sabia de versos e da eternidade. Os amigos ficaram desolados.
Jorge de Lima, poeta maior, tentou o reencontro. Não dava pé. Um dia, marcou um almoço dos dois no Jockey Club. Schmidt chegaria antes, Murilo depois. Quando Murilo apareceu, o maitre avisou:
- Doutor Schmidt está lá na sala do fundo, esperando o senhor.
Murilo quase caiu duro. A mesa coberta de rosas, lírios debruçados das paredes, o Schmidt sentado no centro, como um buda. E dois violonistas ciganos, languidos e enluarados, tocando czardas. Não dava para resistir.
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FOI LOGO CASSADO
Outro Murilo, o saudoso Murilo Costa Rego e seus vastos bigodes, era deputado do PTB de Pernambuco e estava no Rio no dia 31 de março de 64, quando estourou o golpe militar. Chamou o motorista, entrou no carro, correu para o aeroporto. Queria chegar a Brasília de qualquer jeito.
As tropas do general Mourão Filho ainda não haviam chegado de Juiz de Fora ao Rio, mas já havia patrulhas na Avenida Brasil, quase inteiramente interrompida. E Murilo cortando caminhos, driblando guardas.
Até que lá na frente, na ponte da Ilha do Governador, uma barreira militar cercava tudo. Murilo meteu a cabeça fora do carro e gritou :
- Oh, sargento, então nós fizemos a revolução para quê?
- Pois não, coronel!
Murilo passou. No dia 9, foi um dos cem primeiros cassados.
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