MAIS UM : BC decreta intervenção no BVA por graves violações às normas legais
O Banco Central (BC)
decretou nesta sexta-feira intervenção no banco BVA, especializado em crédito
para companhias de médio porte, citando comprometimento da situação
econômico-financeira da instituição. O BVA é o terceiro banco a sofrer
intervenção do BC no ano e o quinto desde 2011.
Em 14 de setembro,
foram anunciadas a liquidação dos bancos Cruzeiro do Sul e Prosper, em 14 de
setembro , que estavam sob administração do BC desde junho.
Em comunicado, o BC
afirma que foram detectadas graves violações às normas legais e descumprimento
de normas que disciplinam a atividade da instituição. BC nomeou como interventor
na instituição, com amplos poderes, Eduardo Félix Bianchini.
Servidor do BC desde
1973, ele ocupa o cargo de gerente técnico regional, baseado em São Paulo e terá
prazo de 60 dias para apresentar um relatório sobre a situação contábil do
BVA.
De acordo com
agência Reuters, uma fonte da equipe econômica informou que o BVA precisava de
um aporte de R$1 bilhão para recompor seu patrimônio, mas controladores da
instituição não conseguiram negociar a injeção de capital. Segundo a fonte, o
banco e a equipe econômica do governo tentaram, sem sucesso, uma "solução de
mercado" para o BVA.
A intervenção foi
decretada porque a instituição financeira possuía "grande problema de
subprovisionamento", com ativos com riscos maiores que os valores reservados
para cobri-los.
"Com o
subprovisionamento, avaliação inadequada de riscos e perdas potenciais, a
instituição financeira acabou gerando informações contábeis não fidedignas e o
Banco Central determinou que fossem feitos os ajustes", informou o integrante da
equipe econômica.
Entre os ajustes,
seria necessário cobrir um patrimônio negativo de R$ 580 milhões e reenquadrar
novamente o patrimônio de referência, totalizando a necessidade de R$ 1
bilhão.
"Os controladores
não conseguiram cumprir a exigência de aporte de capital, buscaram formas junto
ao Fundo Garantidor (de Crédito-FGC), mas não foi possível e o BVA acabou tendo
uma deterioração rápida da sua liquidez nas últimas semanas por ter ativos
poucos líquidos", informou a fonte.
Banco tinha sete
agências nos estados do Rio, SP e MG
Segundo o BC, o BVA,
controlado pelo seu fundador, José Augusto dos Santos, e por Ivo Lodo,
ex-executivo do grupo Safra, detém 0,17% dos ativos do sistema financeiro
nacional e 0,24% dos depósitos. A instituição possui sete agências nos estados
do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo.
Em 26 de setembro,a
agência de classificação de risco Moody's rebaixou a nota de força financeira do
BVA para "E" (de "E+"), assim como a nota de seus depósitos em moeda estrangeira
e local, de "B2" para "Caa1". Segundo a agência, o rebaixamento decorria de
incertezas em relação ao desempenho financeiro do banco e da demora para
publicar o resultado semestral.
A intervenção do BC
acontece em um momento em que o governo está pressionando pela redução de custos
de empréstimos e redução de tarifas bancárias. Alguns analistas dizem que bancos
de médio porte são os mais prejudicados, já que a pressão pela queda dos juros
pesa sobre suas receitas e encoraja práticas de empréstimo mais
arriscadas.
Três empresas e 17
pessoas com bens bloqueados
De acordo com o BC,
os bens dos controladores e dos ex-administradores da instituição ficarão
indisponíveis. A determinação do regime especial (intervenção e liquidação
extrajudicial) ocorre depois que a fiscalização do Banco Central verifica algum
tipo de problema na instituição financeira, como ausência de liquidez (recursos
disponíveis), desvio de dinheiro, descumprimentos de normas ou não pagamento de
obrigações.
Três empresas e 17
pessoas, então, ficarão com os bens bloqueados. Os controladores diretos do BVA
são as companhias Vila Velha Empreendimentos, V55 Empreendimentos e Vilaflor
Participações. O controlador indireto é o fundador José Augusto Ferreira dos
Santos.
Os membros da
diretoria do BVA são:
Antônio Carlos
Conversano, Antônio luiz de Oliveira Pinto Pascoal, Benedito Ivo Lodo Filho,
Carlos Jorge Moreno Yasaka, Edison Gandolfi, Edson Vicente Sivieri, Hermes
Xavier dos Santos, José Antônio La Terza Ferraiuolo, José Ricardo Ceravolo
Risolia, Luiz Rodolfo Palmeira Vasconcellos e Robson Luiz de Souza
Brandão.
E os membros do
conselho de administração do banco são, segundo o BC: Ana Paula Peixoto da
Silva, David Barioni Neto, Fabio Augusto Guimarães Ferreira dos Santos, José
Roldão de Almeida Souza e Wagner Braz.
No processo de
intervenção, existe a possibilidade de sanar os problemas da instituição, mas,
se isso não ocorre, a instituição financeira passa por um processo de liquidação
extrajudicial, quando são vendidos os bens da empresa para pagar
credores.
Crise financeira
desencadeou liquidações
Os rumores sobre a
deterioração do banco aumentaram nos últimos dias em função também da falta de
uma solução de mercado para a instituição, agravada pelo fato de o banco não ter
publicado balanço financeiro desde o começo do ano. Segundo a fonte, o banco
registrou prejuízo de R$ 300 milhões no primeiro semestre.
Em balanço de 2011
publicado em março, o BVA informa que fechou o ano passado com lucro líquido de
R$ 63,2 milhões, queda de 29% sobre o resultado positivo de 2010. Os ativos
encerraram o exercício em R$ 6,74 bilhões, alta de 48,8%.
Depois de seis anos
desde a liquidação do Banco Santos o BC não fechava portas de instituições. A
crise econômica mundial e a seca de crédito fez expôs vários problemas em bancos
pequenos e médios brasileiros.
No ano passado, o
Banco Central liquidou o Banco Morada depois de verificar um rombo de R$ 110
milhões. Não apareceram compradores interessados na instituição carioca. Antes
disso, o Panamericano teve de ser vendido para a Caixa Econômica Federal. Foi a
solução de mercado encontrada pelo BC para a que a instituição continuasse a
funcionar.
Neste ano, o Banco
Central liquidou o Cruzeiro do Sul. Os técnicos da autarquia identificaram que
seria preciso colocar R$ 1 bilhão no caixa do banco para fazer com que ele
continuasse a funcionar. O rombo total poderia chegar a R$ 2,2 bilhões,
principalmente, por causa da fraude de R$ 1,3 bilhão.
Por causa da decisão
de liquidar o Cruzeiro do Sul, outra instituição também fechou as portas. O
banco carioca Prosper foi liquidado porque foi comprado pelo Cruzeiro do Sul no
fim do ano passado por apresentar problemas na contabilidade. No entanto, o
negócio nem chegou a receber o aval do BC. Mesmo assim, foi liquidado
também.
Especialistas não
veem risco de contágio
Para os correntistas
desses bancos e de todos os outros, o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) garante
que ele receba um reembolso de até R$ 70 mil em caso de quebra da instituição. O
valor é ressarcido por CPF ou CNPJ, independentemente de quanto o cliente tinha
no banco.
O episódio não deve
desestabilizar o sistema financeiro, embora seja mais um caso para abalar a
confiança nas pequenas instituições bancárias, segundo analistas. Uma fonte da
equipe econômica não vê risco de contágio.
As ações feitas pelo
BC apenas retiram do sistema instituições com fragilidade e isso fortalece o
sistema financeiro... O sistema financeiro é sólido, plenamente saudável e o BC
não está sendo surpreendido disse.
Se somarmos esses
regimes especiais pode parecer muito, mas estamos falando de 0,40 por cento dos
ativos do sistema financeiro e de 0,60% dos depósitos afirmou a fonte, sobre as
cinco instituições que foram alvo de intervenção desde 2010.
Banco não
apresentava balanço há 10 meses
O BVA teve em 2011
um crescimento de 33% nos ativos totais, para R$ 6,7 bilhões. O crédito
correspondia a 67% do total. Os ativos de pequenos e médios bancos no Brasil
triplicou desde 2006, ao custo de erosão da solvência em alguns
casos.
Com a demanda por
empréstimos forte, essas instituições menores embarcaram em ambiciosos planos de
crescimento a causa da atual falta de capital, segundo analistas.
O banco BVA tinha
uma estratégia de crescimento com bastante alavancagem. Ele cresceu muito
intensamente nos últimos anos, fez muita cessão de carteira de crédito. Mas, ao
não aumentar as provisões, criou uma situação de mal estar em relação à imagem e
solidez disse o analista Luis Miguel Santacreu, da Austin Rating.
Há 10 meses eles não
apresentam balanços.
Um banco que demora
10 meses para apresentar balanços gera muita desconfiança.
camuflados
20 de outubro de 2012
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