Desgaste antecipa disputa na Procuradoria-geral da República
Conhecidos como os "tuiuiús" antes de chegar ao poder, numa referência à ave pantaneira que tem dificuldade para levantar voo, o grupo que apoiou a escolha de Gurgel em 2009 controla a cúpula do Ministério Público Federal há uma década.
Alan Marques/Folhapress |
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel |
Mas a independência exibida por Gurgel no processo do mensalão criou incômodo no governo e pôs em risco a continuidade do grupo. O novo procurador-geral será escolhido pela presidente Dilma Rousseff em julho de 2013.
Os "tuiuiús" conseguiram a nomeação dos ex-procuradores-gerais da República Cláudio Fonteles e Antônio Fernando de Souza, autor da denúncia do mensalão, além de Roberto Gurgel, que acompanha o caso atualmente.
Em conversas reservadas, lideranças do grupo manifestam preocupação com o desgaste criado pela posição mais combativa do órgão.
Existem rusgas entre os "tuiuiús". Eles combinaram inicialmente que haveria um rodízio no cargo a cada dois anos, mas Antônio Fernando descumpriu o combinado em 2006 e ficou mais dois anos.
Um integrante do grupo original dos "tuiuiús", o procurador Rodrigo Janot, é um dos cotados para substituir Gurgel. Os nomes de Débora Duprat, vice-procuradora geral, e Raquel Dodge, coordenadora da área criminal, também têm aparecido com força nas discussões internas.
Nunca uma mulher chefiou a Procuradoria. No processo de escolha do procurador-geral, a categoria organiza uma votação e submete ao presidente da República uma lista com os três candidatos mais votados. Dilma poderá escolher quem quiser, ou mesmo ignorar a lista e nomear outro procurador.
No governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva virou tradição respeitar a lista tríplice e sua ordem. Mas o desgaste de Gurgel com o mensalão gerou dúvidas sobre a manutenção da regra.
"Só me importa que o próximo procurador-geral venha da lista tríplice", afirmou o presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), Alexandre Camanho. "Um procurador que aceitar ser o líder do órgão sem estar na lista seria visto como um traidor."
16 de dezembro de 2012
MATHEUS LEITÃO - Folha de São Paulo
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