Garante o calendário maia que o mundo vai acabar na próxima sexta-feira, dia 21. Era para ser em 2011, mas houve erros nos cálculos. Agora, asseguram: desta semana não passa.
Mas se o iminente fim do mundo pode justificar desvarios de comportamento, como descreveu Assis Valente na bem-humorada canção “E o mundo não se acabou”, nada justifica o descaramento das reações que se viu em defesa de Lula desde que o jornal O Estado de S. Paulo publicou o teor do depoimento do réu condenado Marcos Valério, feito em setembro ao Ministério Público.
Da presidente Dilma Rousseff ao ex José Sarney (PMDB-AP), de ministros de Estado e a um rol de parlamentares petistas e aliados, todos seguiram à risca, e em coro, o mesmo script: defender o legado de Lula, denunciar o preconceito das elites contra um presidente operário, desqualificar o delator (que até recentemente era um servil aliado), demonizar a mídia conservadora, acusar o Ministério Público e o Judiciário.
Lula de nada disso precisaria se não tivesse beijado a boca de quem não devia.
A conhecida ladainha repetida durante a semana não completa nem o primeiro terço. O depoimento de Valério ao MP pode ou não ser verdade, o que só uma investigação dirá. Mas é notícia, e como tal foi tratado.
E nele nada há contra o Lula operário e sim sobre o tipo de esquema engendrado para se perpetuar no poder, algo já escancarado pela Suprema Corte durante o julgamento do mensalão. Apenas reacendeu-se a dúvida razoável se Lula sabia ou não do que fora arquitetado embaixo de seu nariz.
É certo que envolver o pagamento de contas pessoais no imbróglio faz o alerta vermelho soar. Mas esses, mesmo que tenham existido, dificilmente terão deixado rastros. Então, não há de fato com o que se preocupar.
Ou há? Já um depósito de gente do PT na conta do advogado de Valério pode ser mais difícil de explicar. Por que o PT pagaria o defensor de quem o PT chama de delinquente?
Talvez o nervosismo que tomou conta de todos e fez disparar as baterias em defesa de Lula e de ataque à tríade inimiga mídia-MP-Justiça se deva a outro processo: a operação Porto Seguro.
Na sexta-feira, o MP indiciou Rosemary Noronha, ex-chefe do gabinete da Presidência em São Paulo, protegida de Lula, e outros 23. Os crimes dessa trupe são de mais fácil compreensão do grande público. E deles, Lula está ainda mais perto.
Tanto é assim que a tropa de choque petista impediu que Rose e os irmãos Vieira, demitidos por Dilma na primeira hora, fossem a comissões da Câmara dos Deputados. Só não explicaram o porquê da blindagem a ex-funcionários. Coisa mesmo de fim do mundo.
16 de dezembro de 2012
Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos
jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília.
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