"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 25 de dezembro de 2012

"O PAÍS DOS CARIMBOS"

Após cinco meses de julgamento, o presidente da corte bate o martelo e proclama o resultado. Nada acontece. Os réus condenados à cadeia, num processo que durou mais de sete anos, continuam onde estão.

No Brasil, não basta o que 11 ministros do tribunal constitucional disseram, ao vivo, para todo o país. Não bastam os votos já consignados e publicados. Não basta a palavra final do chefe do colegiado, pronunciada à luz do dia.

É preciso esperarque o resultado do julgamento apareça publicado num documento escrito, o acórdão. A divulgação do texto tampouco será o gatilho para o cumprimento das penas. Vai apenas inaugurar uma outra fase de recursos, chamados de embargos.

O advogado vai apontar o que considera ser uma falta de clareza ou uma contradição no acórdão em relação a seu cliente. Vai procurar qualquer brecha para tentar diminuir a pena ou postergar sua execução. O Supremo terá de avaliar cada um desses recursos.

A corte terá de analisar também se cabem os chamados embargos infringentes, se um réu inocentado por quatro ministros, embora condenado pela maioria, tem direito a novo juízo. Enquanto isso durar -e pode levar tanto tempo quanto levou o julgamento, ou mais-, fica suspensa a execução das prisões e das multas.

O julgamento do mensalão é apenas um exemplo bastante visível de como as decisões de Estado demoram para ser efetivadas no Brasil. Mostra também como essas decisões sujeitam-se a alterações substanciais mesmo depois de aparentemente proclamadas.

As coisas custam a acontecer também porque gigantesca quantidade de pessoas vive nos (e dos) interstícios dos processos decisórios. Aqui, não é suficiente dizer quem somos; é preciso mostrar o documento de identidade. Assinar o papel não resolve; é preciso reconhecer firma e carimbar.

25 de dezembro de 2012
Vinicius Mota, Folha de São Paulo

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