"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 25 de dezembro de 2012

UM ANO DE METAS FURADAS: DA ATIVIDADE À ARRECADAÇÃO

O 2012 DA GERENTONA DOS CANALHAS E DE UM POVO CRÉDULO E SETORES COM VÍCIOS.


 
Ao mesmo tempo que ficará na História como o ano em que os juros caíram a um patamar nunca antes experimentado pelos brasileiros, 2012 também será lembrado por previsões frustradas na economia.
Se, de um lado, com os cortes da taxa básica (Selic) desde agosto de 2011, a União economizou US$ 40 bilhões com juros da dívida pública, de outro, o governo injetou na economia, com desonerações e outros incentivos, R$ 45 bilhões e, ainda assim, não conseguiu impulsionar a atividade.
O ano chega ao fim com crescimento de apenas 1%, mas o governo esperava entre 4,5% e 5%.
Outra frustração é a inflação - que deveria ser de 4,5% - e será de cerca de 5,7% no ano. Neste caso, a equipe econômica conta com a complacência dos economistas que lembram o estouro nos preços de commodities e a quebra de safra nos EUA. No caso do emprego, a meta de criar dois milhões de vagas formais não foi atingida: até novembro faltam 230 mil. Dezembro é historicamente um mês de queda na contratação. Em anos bons, são menos 350 mil. Em anos em que a economia vai mal, o déficit pode chegar a 600 mil.
Com a arrecadação em queda muito maior do que a esperada, o governo não poupará o prometido para pagar os juros da dívida. No início de novembro, a equipe econômica anunciou o que analistas dizem há meses: não cumpriria a meta integral de superávit primário de 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB, conjuntos de bens e serviços produzidos).
Se viu obrigada a recorrer, pela primeira vez na gestão de Dilma, ao expediente de abater os gastos com investimentos do Programa de Aceleração Econômica (PAC). Será preciso descontar algo em torno de R$ 25,6 bilhões e ainda assim há dúvidas se conseguirá a economia de R$ 139,8 bilhões prevista na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).
Mas uma conjunção de fatores favoreceu o governo no campo fiscal. Juros em queda e alta do dólar fizeram com que a relação entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB) ficasse no menor nível já visto no Brasil. A mesma sorte não tiveram os investimentos privados e públicos, que não decolaram. Obras como a Usina de Tapajós não saíram do papel.
O leilão dos aeroportos ficou para 2013. O trem-bala também.
A previsão de crescimento da indústria se frustrou e o setor encolheu este ano. Nem mesmo os incentivos governamentais salvaram o ano da indústria.

- Capitalismo não funciona desse jeito, à base de incentivo, o empresário quer regras claras - afirmou um dos maiores críticos do governo e ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman.
crise global, vilã do pibinho
Apática, a indústria não mostrou reação à invasão de importados. No entanto, os outros países não venderam para o Brasil o que o governo esperava. A balança comercial brasileira amargou queda tanto nas compras, quanto nas vendas. A meta de exportações foi esquecida pelo governo.
Para o economista Octavio de Barros, do Bradesco, a crise internacional tem três quartos da culpa do baixo crescimento. Na parcela restante estão fatores como seca no Nordeste, crise do Dnit, queda de produtividade da bacia de Campos, crise argentina que afetou manufaturados brasileiros, problemas com bancos pequenos e médios e com caminhões no início do ano. Ele acha que o crescimento da gestão Lula não se repetirá.
- O país precisa de novos vetores de crescimento mais relacionados à produtividade e à infraestrutura, que avançaram relativamente pouco nos anos anteriores - ponderou o economista. - Tem ficado cada vez mais claro que juros e câmbio não resolvem sozinhos os problemas de crescimento do Brasil.
"fazenda errou bastante"
Para o ex-diretor do Banco Central Carlos Thadeu de Freitas, o governo passou a ser mais realista muito perto do fim do ano. O BC, segundo ele, acertou em cheio. Mas a Fazenda parecia ter um timing diferente e errou bastante.
- Tentou se manter mais otimista, demonstrar mais confiança do que havia de fato. Isso não prejudica a confiança do mercado, que se baliza na condução da política monetária pelo BC, mas atrapalha a previsibilidade empresarial. Muitas companhias podem ter agido seguindo sinais da Fazenda - afirmou o economista Carlos Thadeu.
Para o ex-secretário de Política Econômica da Fazenda Júlio Gomes de Almeida, 2012 começou com um otimismo exagerado.
- Estamos passando por um processo de transição da economia. Com tudo o que foi feito, a gente deveria ver resultado e esse resultado deveria ser igual a maior crescimento - comentou ele.
Valente e Vivian Oswald O Globo
25 de dezembro de 2012
in camuflados

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