Alguém deveria ter alertado a presidente Dilma Rousseff, logo no começo do seu governo, sobre a alma dos jornalistas ingleses. Durante anos, estiveram entre os principais fornecedores de alegrias para os governos Lula e o seu, apontados na imprensa britânica como exemplos de virtude para o mundo ─ e o que diz um jornalista do reino de Sua Majestade Elizabeth II vale mais do que dizem os outros, por razões que não vem ao caso explicar nos limites deste artigo.
A certa altura, a revista The Economist chegou a colocar em sua capa uma ilustração do Cristo Redentor subindo do alto do Corcovado rumo ao espaço sideral, com uma mensagem do tipo “ninguém segura o Brasil” ─ e que governo precisa de qualquer outro selo internacional de aprovação quando ninguém menos que The Economist está dizendo uma coisa dessas?
O problema, aí, é que governos em geral não devem confiar em jornalistas ingleses. Trata-se, historicamente, de um pessoal imprevisível, indisciplinado e impertinente. Sabem de coisas que não deveriam saber, muito menos publicar.
Escrevem com freqüência o contrário do que se espera. Leem a correspondência privada das pessoas e publicam confissões íntimas de mordomos; não são cavalheiros.
Mais que tudo, estão acostumados há 200 anos com a ideia de que fatos existem para ser publicados e, se forem inconvenientes, melhor ainda ─ sobretudo se incomodam políticos, milionários, celebridades, estrelas do mundo pop, lordes do reino e por aí afora.
Foi um lamentável desapontamento para a presidente Dilma, assim, ler de repente no fim do ano, na mesma The Economist, que deveria botar no olho da rua o seu ministro da Fazenda, Guido Mantega, por incompetência em estágio terminal.
Mas não estava tudo bem? Estava. Só que deixou de estar, embora não pareça claro como alguma coisa poderia mudar para melhor no Brasil com a saída do ministro; se ao longo de seus dez anos no governo ele nunca ocupou uma única jornada de trabalho decidindo questões vitais para a economia, não dá para jogar-lhe a culpa por nada que esteja dando errado.
É verdade que Mantega poderia ser um perigo. No lançamento do Plano Real, por exemplo, escreveu um artigo prodigioso: conseguiu, do começo ao fim, errar em 100% de tudo o que disse.
Com a certeza de quem estava demonstrando o binômio de Newton, garantiu que o plano iria fracassar em todos os seus pontos, sem exceção de nenhum ─ e isso, pela prudência mais elementar, deveria fazer com que o homem fosse mantido o mais longe possível da Fazenda nacional. Mas, como nunca o deixaram resolver nada de importante, também não o deixaram errar.
Mantega, pensando bem, até que tem sido um colaborador útil para o governo. Para começar, ele é um craque na arte de não criar problemas. Foi capaz de nomear para a presidência da Casa da Moeda, onde se fabrica todo o dinheiro deste país, um cidadão que nunca tinha visto em sua vida; alguém mandou que nomeasse, e ele nomeou. É para reduzir o IPI? Está reduzido.
É para suspender a redução? Está suspensa. Se for encarregado de anunciar o fim do mundo, dirá que se trata de “um fato atípico” ─ e que o governo “não trabalha com a hipótese” de que isso atrase as obras do PAC. Acima de tudo, um substituto com vida própria no Ministério da Fazenda não iria durar mais do que quinze minutos no cargo.
Na primeira vez que contrariasse a presidente, nem precisaria esperar o decreto de demissão ─ já poderia sair direto para casa. Dilma, pelo jeito, deseja manter Mantega no posto. “Ele só sai se quiser”, disse a presidente após a sentença de condenação da Economist.
Não chega a ser uma garantia feita de concreto armado; Mantega quer ficar, mas pode de um momento para outro querer sair, se Dilma quiser que ele queira. Por enquanto, continua lá.
Se a presidente resolver, um dia desses, mudar de ideia poderia nomear para o Ministério da Fazenda, quem sabe, a modelo Gisele Bündchen; com certeza, a aprovação a essa escolha seria de 95%, ou mais.
E por que não? Já que não é para resolver nada, é muito melhor ver Gisele no noticiário, principalmente na televisão, do que a cara do ministro Mantega, por mais simpática que seja; ele seria o primeiro a concordar com isso.
O problema é que a sra. Bündchen é uma moça de bom-senso. Se fosse convidada para ministra da Fazenda, diria: “Não posso aceitar, porque eu não entendo nada disso”.
É exatamente o que deveriam dizer, mas não dizem, nove entre dez astros da ciência econômica nacional. É uma pena, realmente, que nossa übermodel tenha a cabeça no lugar.
21 de janeiro de 2013
J. R. GUZZO
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