Que partido dispõe de um candidato reserva com iguais ou maiores chances do que o titular para se eleger presidente da República?
Dilma não será candidata a um segundo mandato se não quiser – e quer.
Ou então se a saúde reservar-lhe uma surpresa (bata na madeira e isole). Ou se a economia chegar mal das pernas ao final do governo. Ou...
Em qualquer hipótese, Lula está pronto para entrar em campo.
Para entrar em campo é modo de dizer. Lula nunca saiu de campo.
Antes de sair formalmente consultou três governadores de Estado, um deles do PT, sobre a ideia de patrocinar uma emenda à Constituição que lhe permitisse disputar o terceiro mandato presidencial consecutivo.
Foi aconselhado a não fazê-lo. Enfrentaria forte oposição. Por que não descansar e voltar revigorado quatro anos depois?
De resto, e se a emenda aprovada pelo Congresso fosse declarada inconstitucional pela Justiça? Colisão entre poderes da República não costuma resultar em boa coisa. Lula seria acusado de caudilhismo.
O continente parira um novo Hugo Chávez! Com a diferença de que Lula sequer serviu ao Exército. Chávez, não. Foi oficial paraquedista. E golpista antes de se eleger presidente pelo voto popular.
É pura lenda a história de que Dilma aceitou ser candidata mediante o compromisso de governar um único mandato. Ela e Lula jamais conversaram a respeito.
Se Lula insinuar que quer voltar, Dilma não oferecerá resistência. Mas só à custa de um motivo extraordinário é que a troca de nomes soaria razoável aqui fora. Afinal, não foi Lula quem apontou Dilma como melhor gestora do que ele?
A indicação de Dilma para presidente atendeu à necessidade de Lula contar com um candidato de sua inteira confiança. Que não lhe fizesse sombra. E que se dispusesse a atender às suas vontades.
Quanto mais fraco fosse como candidato, mais a glória, em caso de triunfo, pertenceria a Lula. Em caso de derrota... Lula ainda não operava milagres. Agora, opera.
Lula enxergou outra vantagem na escolha de Dilma: seu sexo. No início de 2006, enfraquecido com o escândalo do mensalão, Lula falou pela primeira vez em lançar Dilma como candidata. Foi durante uma visita ao Recife.
“Que tal concorrermos à próxima eleição com uma mulher? Nunca uma mulher disputou a presidência da República no Brasil”, argumentou. Ninguém deu bola.
Marqueteiro por intuição, fixou-se no nome de Dilma antes mesmo de se reeleger. Uma vez reeleito, passou a carregá-la por toda parte.
No primeiro semestre de 2009 não fez uma só viagem dentro do Brasil sem Dilma a tiracolo. A mulher era maravilhosa. A mulher era “mais homem” do que muitos homens. A mulher era trabalhadora incansável. Era isso, aquilo e aquilo outro.
Em 2010, “o cara” era a mulher.
E então, companheiro? Enquanto a mulher lhe foi útil não havia ninguém melhor do que ela. Agora que você descansou mesmo contra sua vontade, planeja dar uma rasteira na mulher pedindo de volta a cadeira que ela mal esquentou?
Você usou a mulher como quis. E pretende continuar usando.
(Cadê Rosemary? Foi esse o chefe bom, carinhoso e humano que ela conheceu?)
Por ora, além de Lula, apenas torcem pelo retorno dele: o PT, os demais partidos (salvo os da oposição e o PSB de Eduardo Campos), os banqueiros e empresários das mais diversas áreas – esses, insatisfeitos com a política econômica do ministro Guido Mantega, da Fazenda.
Quem torce para que Dilma concorra a um segundo mandato? Ela mesma, a oposição e o PSB.
21 de janeiro de 2013
Ricardo Noblat
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