E muito clara a
fronteira entre as atitudes compreensíveis e as inaceitáveis de um ex-presidente
da República, quando se trata de seu relacionamento com os integrantes de seu
partido no poder.
Essa fronteira não muda mesmo que o ex-presidente tenha sido
um dos mais populares da história, seja personagem de prestígio internacional,
prodígio no cálculo político e virtuose na leitura da vontade das maiorias.
Não
muda também mesmo que os correligionários no poder tenham sido inventados para a
política por ele e tenham conquistado o cargo guiados por sua bússola
instintiva.
Enfim, continuam existindo atitudes compreensíveis e inaceitáveis
mesmo quando é Lula o ex-presidente em questão e os aliados no poder são Dilma
Rousseff e Fernando Haddad, dois "postes" transformados em sucessos eleitorais.
O que Lula fez com Haddad na semana passada, e seus próximos asseguram que ele
planeja fazer com a presidente Dilma, se enquadra no campo dos comportamentos
inaceitáveis.
Lula pode e
deve ser consultado por Dilma e Haddad. Ele tem mais experiência e habilidade
política que a presidente e o prefeito de São Paulo. É compreensível que possa
aconselhá-los, alertá-los e até pedir para ser ouvido por eles em momentos
decisivos.
O que não é aceitável é Lula conspirativamente submeter um chefe do
Executivo ao humilhante papel de subordinado, como ele fez com Fernando Haddad,
na quarta-feira passada, na sede da prefeitura de São Paulo.
A intervenção
branca de Lula foi descrita nos jornais por manchetes estranhamente acríticas
que deram contornos de naturalidade a um evento torto:
"Lula se reúne com equipe
de Haddad e dá diretrizes" (Folha de S.Paulo); "Lula recomenda parcerias a
Haddad" (O Estado de S. Paulo); "Lula reúne secretariado de Haddad" (O Globo).
Um dos jornais comprou ingenuamente a plantação dos lulistas de que em reunião
semelhante, no próximo dia 25, Dilma seria orientada a respeito de "projetos
estratégicos e uma agenda de viagens presidenciais".
É quase impossível que a
presidente caia na armadilha que pegou Haddad. Dilma pode não ter as mesmas
habilidades políticas do antecessor, mas, com certeza, distingue com perfeição o
compreensível do inaceitável.
21 de janeiro de 2013
Veja (21.01.13)
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Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
INTERVENÇÃO INACREDITÁVEL
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