O PT deveria ter ordenado ao departamento de necrofilia eleitoreira que, antes de transformar o assassinato de Vladimir Herzog em instrumento político, confrontasse a lista de envolvidos no episódio com a relação dos bandidos de estimação do chefe.
Essa medida preventiva conduziria, já na escavação inaugural, à localização de José Maria Marin na catacumba reservada às assombrações que Lula abençoou.
Hoje presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Marin era deputado estadual da Arena de São Paulo quando se envolveu na conspiração que resultou na prisão, tortura e morte de Herzog, então diretor de jornalismo da TV Cultura.
Ele entrou em cena na tarde de 9 de outubro de 1975, durante a sessão da Assembleia Legislativa, com o aparte ao discurso do colega Wadih Helu que o incorporou oficialmente à ofensiva forjada para “impedir que uma emissora sustentada pelo governo continuasse sob o controle de comunistas”.
Depois de reiterar que a Cultura só divulgava notícias desfavoráveis ao regime militar e prejudiciais à imagem do país, Marin cobrou do governador Paulo Egydio Martins o imediato desencadeamento do expurgo.
“É preciso mais do que nunca uma providência, a fim de que a tranquilidade volte a reinar não nesta casa, mas principalmente nos lares paulistanos”, concluiu.
O apelo foi atendido em 25 de outubro por agentes da linha dura liderada em São Paulo pelo general Ednardo D’Ávila Mello, comandante do II Exército.
Resgatada pelo jornalista Juca Kfouri, a participação de Marin no episódio acrescentou um item especialmente repulsivo à folha corrida que vinha registrando delitos pouco impressionantes para os padrões do Brasil Maravilha ─ furtos de medalhas, por exemplo, ou pagamentos mensais suspeitíssimos ao comparsa Ricardo Teixeira.
É constrangedor imaginar que, aos olhos do mundo, o país que organiza a Copa de 2014 tem cara de José Maria Marin.
“É como se a Alemanha tivesse convidado um membro do antigo partido nazista para organizar a Copa de 2006″, compara o jornalista Ivo Herzog, filho de Vlado.
“Sou vítima de uma torpe campanha, baseada em mentiras e deturpação de fatos do passado”, repetiu Marin nesta segunda-feira.
A foto que registra a harmoniosa tabelinha, aprovada pelo retrato de Dilma, avisa que pode contar com a ajuda do ex-presidente.
“Lula é 10″, diz Marin na camiseta da Seleção. O sorriso amarelo do parceiro informa que, para Lula, Marin é 10 também. Mas não convém que todo mundo saiba disso.
18 de março de 2013
Augusto Nunes
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