Afinal, o que é melhor, ser o primogênito ou o caçula? Qual a vantagem ou a desvantagem em nascer antes, já que em geral esses irmãos não convivem bem na infância, disputando o amor dos pais?
Aliás, a rivalidade é de origem. A Bíblia já mostrou como ela às vezes pode acabar em tragédia. Por inveja, o primeiro homem concebido por sêmen humano, Caim, assassinou o irmão Abel, cometendo o homicídio inaugural da história da humanidade.
Essa herança meio maldita teria chegado até nós, de forma amenizada, mas mesmo assim deixando como sequelas essas relações pouco fraternas entre irmãos (conheço casos em que o mais velho ameaçou furar os olhos do irmãozinho).
Preocupadas com a questão, duas universidades, a de Oslo e a da Flórida, resolveram medir, através de pesquisas, o quociente de inteligência dos dois grupos. A academia norueguesa chegou à conclusão de que o QI dos primogênitos é de 3% a 5% mais alto, ou seja, eles seriam mais bem dotados. Mas não por causas naturais, congênitas, e sim porque recebem mais atenção dos pais quando pequenos.
Já o estudo da universidade americana concorda só em parte com esse resultado. Trabalhando com 12 mil entrevistados, admite que nos primeiros anos de vida os primogênitos “demonstram um desenvolvimento cognitivo maior” do que... e aí vem a surpresa... o dos filhos do meio, não necessariamente o dos caçulas.
O tema me interessa de perto por causa de meus netos Alice, de três anos e meio, e Eric, de seis meses. Mas como a diferença de idade não permite ainda comparar com rigor os níveis das duas inteligências, as observações têm que se restringir ao campo emocional, onde o comportamento da primogênita é um prato para os pais. Mimada com todas as regalias a que tinha direito, por ser neta única de vários avôs e avós, Alice sofreu um forte choque de rejeição quando o irmãozinho nasceu.
De um dia para o outro, descobriu que o mundo não era só dela, e que as pessoas que lhe dedicavam atenção e carinho exclusivos as estavam “traindo” com aquele recém-chegado indesejado. A sua reação foi um misto de manha, pirraça e birra. Na verdade, de dor. Aprendeu precocemente que não só a inveja é uma merda, o ciúme também.
11 de maio de 2013
Zuenir Ventura é jornalista.
O Globo
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