A evidente mudança de atitudes do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, nos últimos dias, reduzindo o ritmo quase frenético de campanha nacional que imprimira à sua agenda, tem muitas explicações, mas traz muitas dúvidas.
Diversas teorias da conspiração andam pelas bocas e cabeças dos políticos, e a que mais mexe com o imaginário é a que dá como razão para essa freada de arrumação a possibilidade de Lula vir a ser o candidato do PT em 2014.
Da mais simples à mais complicada, eis as razões que estariam por trás da mudança de Eduardo Campos. A mais banal é que Campos teria se retraído porque seus assessores detectaram uma superexposição de sua imagem que não seria boa neste momento.
Outra, mais realista, diz que ele teria detectado uma reação às suas andanças pelo país, os pernambucanos estariam se ressentindo de uma ausência do governador nas questões locais, relegadas a um segundo plano. A declaração de que poderia governar Pernambuco mesmo de longe não teria tido boa acolhida entre seus eleitores.
Problema semelhante teve o então prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, quando saiu pelo país para criar o seu PSD.
Kassab, que até então tinha boa popularidade na cidade que governava, passou a ser visto como um prefeito ausente, e seus índices de aceitação desabaram, fazendo com que ele se tornasse um peso para a candidatura de José Serra à Presidência, que apoiou por uma questão de lealdade.
Na verdade, a ação de Kassab não mudou muito nesse período, o que mudou foi a percepção do eleitorado sobre a sua atuação.
Quando estava se preparando para lançar-se nas movimentações com vistas à campanha presidencial, Campos foi alertado pelo vice-presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, de que isso poderia ocorrer, mas só agora estaria sentindo os efeitos nocivos de sua ausência permanente do estado que governa.
Se perder o controle do eleitorado pernambucano, seu cacife fica reduzido a quase nada para uma campanha presidencial. Não será pelos seus olhos azuis que chegará ao Planalto, embora eles possam ajudar, como o programa nacional do PSB mostrou recentemente.
Mas há outras hipóteses circulando nos meio políticos, em Brasília e em Pernambuco, todas em busca de uma explicação para a mudança de atitude do governador, que, na avaliação unânime dos políticos, já foi longe demais para desistir.
Só haveria um modo de Campos recuar de sua decisão de ser candidato a presidente sem perder a credibilidade: Lula vir a ser o candidato do PT. Segundo essa teoria, o governador teria recebido recado de Lula pedindo que ele pesasse bem os passos que estava dando, antes que fosse tarde demais.
O raciocínio de Lula, passado para Campos, seria o seguinte: Dilma é a candidata do PT hoje, mas, se houver alguma mudança que exija a presença de Lula na corrida presidencial, Campos estaria disposto a enfrentá-lo nas urnas? Para bom entendedor, meia palavra basta, e Eduardo Campos engatou a marcha a ré para reavaliar o seu campo de ação.
A mesma crise econômica que pode corroer a popularidade da presidente Dilma, abrindo espaço para as candidaturas de Campos e outros oposicionistas como Aécio Neves, pelo PSDB, e Marina Silva, pode ser também a razão para que o PT volte a pressionar Lula a concorrer no lugar de Dilma.
Essa pressão foi tão forte ano passado que a própria presidente levou Lula a lançá-la candidata à reeleição, para acabar com as especulações. À medida que a situação econômica do país vai piorando, voltam as pressões para que Lula retorne ao papel de salvador da pátria. O movimento ainda é incipiente, mas real o bastante para atuar sobre a ação de Campos.
Por fim, a mais maldosa teoria da conspiração, circulando especialmente nos meios políticos pernambucanos: Eduardo Campos estaria fazendo toda essa movimentação combinado com o ex-presidente, justamente para enfraquecer a candidatura de Dilma à reeleição e favorecer a volta de Lula como candidato.
No meio de todo esse tiroteio, a notícia de que Campos convidou a ex-prefeita Luizianne Lins para entrar no PSB do Ceará, enfraquecendo assim os irmãos Gomes, é sinal de que ele continua atuando como candidato a candidato, organizando seus palanques para a batalha eleitoral.
11 de maio de 2013
Merval Pereira, O Globo
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