Marcelo Machado, sargento reformado do Exército e um dos organizadores do ato marcado para o próximo dia 11, diz que onda de insatisfação pode gerar motins nos quartéis
02 de junho de 2013
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- iG São Paulo
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Presidente da Associação Nacional dos Militares do Brasil (ANMB), o sargento reformado do Exército, Marcelo Machado, um dos articuladores da reação da direita às investigações da Comissão Nacional da Verdade (CNV) afirma que uma onda de insatisfação no meio militar pode gerar motins nos quartéis em protesto contra o governo e em resposta a “passividade” com que, a seu ver, têm se comportado os comandantes das Forças Armadas.
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“O governo está usando a Comissão da Verdade para desmoralizar as Forças Armadas. Somos favoráveis à apuração da tortura e desaparecimentos de presos políticos, mas também queremos que se investiguem os sequestros, assaltos e explosões de bomba envolvendo a esquerda. Tem de mostrar os dois lados”, diz Machado.
Segundo ele, mais de 95% dos efetivos militares são formados por jovens que tomaram conhecimento dos anos de chumbo pela leitura de livros oficiais e que agora – diante das novas revelações – podem ser induzidos a entender a história da luta armada apenas pela versão da esquerda. Ele diz que os militares e policiais que atuaram contra as organizações que pegaram em armas cumpriram ordens.
“É como uma panela de pressão. Sem válvula de escape, explode. Além do sucateamento das Forças Armadas e dos péssimos salários, os militares estão sendo humilhados. A insatisfação dentro das unidades militares é generalizada. Tenho recebido reclamações e informes de que pode ter motim”, afirma Machado. Segundo ele, o Rio de Janeiro é o principal ponto de insatisfações do país.
A mobilização de militares está sendo coordenada pela ANMB e por outra entidade correlata, a União Nacional das Esposas de Militares (UNEMFA), que pretendem reunir mais de três mil pessoas em Brasília no próximo dia 11 num evento que vem sendo organizado como a primeira manifestação pública contra os rumos das investigações CNV.
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A lei que criou a CNV – que não tem poder de punir nem de produzir peças processuais – restringe as investigações aos crimes praticados por agentes da ditadura. As ações de militantes da esquerda armada (sequestros, assaltos e assassinatos), segundo entendimento do governo e dos integrantes da CNV, representaram resistência ao regime ditatorial e já foram punidos com prisões, condenações e banimento durante o período de repressão.
“A manifestação é uma reação democrática da família militar contra o revanchismo. Não terá nenhum caráter partidário”, garante Machado. Até entrar para a reserva, ele era terceiro sargento do Exército no Rio. Além do comando da entidade, Machado é também presidente do diretório municipal provisório da Aliança Renovadora Nacional (Arena), o partido que sustentou a ditadura militar e está sendo reestruturado no País pela estudante gaúcha Cibele Baginski.
Machado diz que as entidades representam cerca de 5, 2 milhões de militares ativos e inativos das Forças Armadas, corpos de bombeiros e polícias militares de todo o País.
As reações contra as investigações sobre os crimes da ditadura começaram no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com declarações de dirigentes dos clubes militares e dos comandantes das Forças Armadas contra o lançamento do livro Direito à Memória e à Verdade, em 2009.
Para tentar estabelecer contraponto, a direita editou e passou a distribuir o Orvil (livro ao contrário) em que listou os atos da esquerda armada segundo a versão da polícia e dos militares que atuaram na repressão.
Com a instalação da CNV, no ano passado, as reações da direita passaram a ser mais ostensivas, mas estavam restritas a declarações de dirigentes dos clubes militares, insistindo sempre que as conclusões só terão a verdade que a esquerda quer.
Os militares acham que o objetivo da CNV é pressionar o Supremo Tribunal Federal a aceitar a revisão da Lei da Anistia para abrir possibilidade de punição aos agentes acusados de tortura, assassinatos e ocultação dos corpos de desaparecidos no período.
O ato programado para o próximo dia 11 é a primeira manifestação em que os militares saem às ruas para protestar. “Já pedimos apoio da PM do Distrito Federal e faremos tudo dentro da lei e da ordem. As despesas serão bancadas individualmente por cada manifestante e ninguém está autorizado a usar camiseta ou qualquer objeto que caracterize partido político”, afirma Machado. A ANMB e UNEMFA, no entanto, estão alinhadas politicamente à Arena.
“A manifestação não é um ato do partido, mas estamos liberando os companheiros que quiserem participar”, afirma Cibele Baginski. Segundo ela, o partido é de direita, representa as correntes nacionalistas e conservadoras, combate “a parcialidade” da CNV, mas agirá dentro da ordem democrática. “Descartamos qualquer radicalismo”, garante a estudante.
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