"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 2 de junho de 2013

VAI SAIR DO ARMÁRIO NA TERRA DO NUNCA?



O piadismo militante – como diria o imortal Odorico Paraguaçu – costuma disputar grandes espaços na internet, junto com a pornografia (campeã absoluta de acessos). Uma das eficazes gracinhas virtuais recentes é a “Aula de Gramática”. Sua sistemática apela para um chulo método de revisão da língua portuguesa através da relação direta entra a politicagem e a filhadaputice - no Brasil, coisas quase sinônimas.
 
Fechem os narizes, os ouvidos e os olhos para os ensinamentos de baixaria:
- “Filho da puta” é adjunto adnominal, quando a frase for: "Conheci um político filho da puta".
- Mas se a frase for: "O político é um filho da puta", daí, é predicativo.
- Na sentença: "Esse filho da puta é um político", temos o sujeito.
- Porém, se o cara aponta uma arma para a testa do político e diz: "Agora nega o roubo, filho da puta!" – vemos o vocativo.
- Finalmente, se a frase for: "O ex-ministro, aquele filho da puta, desviou o dinheiro das estradas" – estamos diante do aposto.
- Agora se estiver escrito: "Saiu da presidência e ainda se acha presidente” - o filho da puta vira sujeito oculto.
O Brasil é uma piada seríssima! Neste domingo, a partir do meio-dia, São Paulo vai realizar aquela que é a maior manifestação popular do Brasil. Os antigos locutores esportivos definiam que tal evento era uma comemoração de torcida de futebol. Mas a celebração que levará milhões de pessoas à Avenida Paulista é a 17ª Edição da Parada Gay, com o tema “Para o armário, nunca mais”.
 
Aproveitando o mote da parada de maior sucesso do País, vale a pena perguntar: quando é que a grande massa de indignados cidadãos brasileiros vai sair do armário da apatia, para protestar contra tudo que está errado: corrupção e violência – que matam mais gente que nas guerras convencionais?
 
A indignação pode explodir a qualquer momento? Quando e onde, precisamente? A qualquer hora e em qualquer lugar. O motivo: só se for o mais banal possível. Temas sérios, densos, políticos, não mobilizam tanta gente. Excetuando-se a Marcha para Jesus – que ainda leva muita gente para as ruas -, nem comemoração de campeonato de futebol faz tanta gente “sair do armário”.
 
No próximo dia 10 de junho, às 18 horas, no MASP, em São Paulo, está marcada uma “Marcha da Família com Deus em Defesa da Vida, da Liberdade e da Democracia, contra o Comunismo”. É muito boa a ideia de inundar de verde e amarelo o vermelho do MASP. Tomara que a mobilização via Facebook dê certo e subverta a triste realidade do imobilismo cidadão, levando milhares de pessoas ao protesto, em plena hora do rush paulistano.
 
No dia 11 de junho, a partir das 9h da manhã, na Praça dos Três Poderes, em Brasília, também está agendado o “Dia do Levante”. A intenção é promover uma “Vigília por um Brasil Justo, Ético e Seguro, Pela Valorização dos Profissionais Militares e Respeito ao Povo Brasileiro”. O Palhaço do Planalto não está achando graça do evento – que deve levar muitos militares da reserva e seus familiares para a arena do protesto. Pode haver repressão, no melhor estilo stalinista do governo.
 
Um fato é bem objetivo. As pessoas estão ficando de saco cheio. Mas o que falta para o negócio transbordar em protestos? Nas redes sociais, as reclamações abundam. Difícil e mais raro é tirar a bunda da cadeira diante do computador e sair efetivamente para protestar ou tomar alguma atitude administrativa-judicial (por mais ineficazes que elas pareçam). O governo petralha respira, aliviado, porque poucos ousam sair do armário da apatia cidadã.
 
Sábado, em O Globo, o senador Cristovam Buarque escreveu um artigo muito pertinente sobre o tema “Sede de Indignação”. O parlamentar avalia que “o povo está com sede de indignação”. Cristovam defende que agora precisamos de raiva e vergonha – e não apenas de consciência – para enfrentar os problemas e cobrar soluções para a lamentável realidade brasileira.
A massa ignara e manipulada sai às ruas e convulsiona a sociedade, se sentir necessidade. Vide o teste de fidelidade feito pelo comando petralha com seus zumbis eleitoreiros que recebem o “Bolsa-Voto” do governo. Bastou um boatinho para botar todo mundo protestando. O teste de manipulação rendeu nota 10. Se depender dos beneficiários, o PT sai do poder no dia de São Nunca.
 
Como bem definiu o cantor Lobão, a Terra do Nunca é aqui mesmo. Infelizmente, achar cidadãos com disposição e efetivamente organizados politicamente, em grande número, para enfrentar o Governo do Crime Organizado é igual a encontrar uma fruta começando pela letra E para vencer o joguinho do Stop.
 
Pode parar que você dificilmente vai encontrar...  Mas, não custa tentar e insistir. Quem sabe muitos não topam sair do armário – não apenas para se divertir na parada gay?
 
Afinal, nos tempos atuais, parece que a Esperança é última...
Que solta a franga...
 
Vida que segue... Ave atque Vale! Fiquem com Deus.
 
02 de junho de 2013
Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor.

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