A crise provocada pelas acusações de corrupção no Ministério do Esporte provocou um jogo de empurra entre o ex-ministro Agnelo Queiroz e o atual, Orlando Silva, que até pouco tempo eram colegas de partido (PC do B) e na própria pasta.
Ao rebater acusações de fraudes supostamente ocorridas em sua gestão no ministério (2003-2006), Agnelo, que atualmente é governador do Distrito Federal eleito pelo PT, transferiu a responsabilidade pelas explicações para o atual ministro.
"No meu mandato, tenho as contas aprovadas. Não tem um único processo contra mim. Fora isso, quem responde é o próprio ministro. Quem manda no Ministério do Esporte é o Ministério do Esporte", disse Agnelo, na Suíça, onde acompanha a escolha da cidade que vai sediar a abertura da Copa de 2014.
A declaração foi dada um dia depois de o atual ministro atribuir ao antecessor a responsabilidade por convênios do programa Segundo Tempo, que estão no centro da crise atual na pasta.
Durante a gestão de Agnelo, o ministério firmou contratos com ONGs do policial militar João Dias Ferreira, pivô do escândalo na pasta.
O policial, que é filiado ao PC do B e foi preso por desvios nesses contratos, afirmou que Orlando comanda um esquema de corrupção no ministério.
Tanto o atual ministro quanto seu antecessor negam ter recebido dinheiro. Anteontem, o titular do Esporte jogou para o governador do Distrito Federal a responsabilidade por ter indicado um encontro com o policial, "entre 2004 e 2005". Na ocasião, Orlando era secretário-executivo do ministério, e Agnelo, o ministro.
Nos bastidores, a guerra entre os grupos de Agnelo e Orlando é apontada como estopim para o surgimento das acusações de corrupção. A relação entre os dois estremeceu em 2006, quando Agnelo deixou o ministério para concorrer a uma vaga no Senado pelo PC do B. Ele não foi eleito e não conseguiu retomar o posto no ministério, que foi ocupado por Orlando, promovido pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em 2008, Agnelo trocou o PC do B pelo PT para se candidatar ao governo do Distrito Federal. Com o Mundial de 2014 e a disputa para que Brasília faça o jogo de abertura do evento, Orlando e Agnelo ensaiaram uma aproximação, que foi por água abaixo com as acusações do policial militar.
A crise inaugurou uma guerra de versões: os aliados do atual ministro acusam Agnelo de ser uma espécie de padrinho do policial.
Ontem, em Zurique, Agnelo disse ter apenas ligação política com o policial. "Era candidato a deputado distrital dentro da minha coligação, são dezenas." O governador disse ainda que sua relação com Orlando é boa, mas o apontou como responsável pelo programa Segundo Tempo por ter sido secretário-executivo.
Embora não diga publicamente, Agnelo nega ser responsável pela indicação do atual ministro para ocupar o segundo escalão de sua administração. Atribui ao partido (PC do B) a nomeação.
Sobre o inquérito ao qual responde no STJ (Superior Tribunal de Justiça), Agnelo disse que são denúncias velhas da época da campanha eleitoral. Uma testemunha afirma que o policial militar pagou por silêncio sobre o esquema no Esporte.
Da Folha de São Paulo
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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