"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O ESTRANHO MUNDO POLITICAMENTE CORRETO

Os homossexuais lutaram para “sair do armário”, agora querem ser “invisíveis”. Mas querem criticar o comportamento alheio e limitar a liberdade de expressão.

discriminação | s. f.
discriminação
(latim discriminatio, -onis, separação)
s. f.
1. Acto ou efeito de discriminar (ex.: o exercício envolve discriminação visual). = DISTINÇÃO
2. Acto de colocar algo ou alguém de parte.
3. Tratamento desigual ou injusto dado a uma pessoa ou grupo, com base em preconceitos de alguma ordem, nomeadamente sexual, religioso, étnico, etc.

segregação | s. f.
derivação fem. sing. de segregar
segregação
s. f.
Acto ou efeito de segregar.
segregar - Conjugar
v. tr. e pron.
1. Separar ou separar-se de um todo. = APARTAR, DESMEMBRAR
2. Pôr ou pôr-se de parte. = SEPARAR
v. tr.
3. Lançar para fora (líquido ou secreção). = EXCRETAR, EXPELIR, SECRETAR

Dicionário Priberam:
http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=discriminar

Os estudos sobre como a Cultura é formada indicam que devemos observar certas coincidências ao longo do tempo. Tais coincidências poderiam ser chamadas de Inconsciente Coletivo por Carl Gustav Jung, mas penso que um inconsciente coletivo externo às pessoas é uma idéia um pouco estranha, com suas raízes na metafísica.

Li um texto sobre o pensamento de um autor checo, Ivan Bystrina, em que a Cultura, independente do local onde surja, resulta do exercício de Imaginação do Ser Humano para superar suas angústias existenciais. Como o ser humano é estrutural ou fisiologicamente semelhante em qualquer lugar, a forma de reagir ao meio é muito parecida.

Assim, os raios, os trovões, a noite, o sol, os terremotos, os tsunamis, os sonhos, o sono, os estados alterados de consciência, fenômenos e fatos que hoje os denominamos com tais nomes, no início das culturas não tinham nomes e nem se sabia o que eram.

Já Augusto Comte, quase 150 anos antes de Bystrina, na primeira metade do Século XIX, indicava que as culturas, nascidas sempre do contato do homem com o meio, não tinham como explicar os fatos ao modo moderno, com uma abordagem científica.

Assim, as primeiras explicações seriam hipóteses fantasiosas sobre a “vontade” das coisas (mas não menos verdadeiras para aqueles grupos). As primeiras explicações devem ter sido, sempre, de caráter animista. Isso (o vulcão) está bravo e vomita fogo. Aquilo (a árvore) está agitada e se balança. De fato deveria tratar-se de uma árvore ao vento. Mas quem poderia explicar o vento?

A compreensão do mundo vai se dando, então, e também, pela observação dos fatos externos, com a correspondente criação de nomes. Para Bystrina, as culturas sempre começam a ser articular por meio de polarizações, eixos norteadores, que orientam as pessoas, de onde acabam saindo os valores. Os valores seriam pressões sobre um dos pólos, gerando uma assimetria.

Por exemplo: vida X morte. Vivemos a vida, o que nos chama a atenção é morte, que passa constituir, então, um valor negativo e mais atrativo que a vida no processo de geração de hipóteses explicativas. Isso explicaria as inúmeras abordagens sobre a morte, ao longo dos tempos, nas diversas culturas. Como entender a morte, como conviver com ela, como superá-la.

Certos comportamentos humanos podem ser comparados aos de outros seres vivos.
Ação X descanso; vigília X sono; ataque X fuga. A noite, escura, amedronta; daí a associação entre falta de luz e perigo. O que não conhecemos pode ser perigoso.

Daí vem a discriminação. Originalmente saber distinguir algo e manter separado ou à distância poderia ser a chave entre a vida e a morte. Para que não houvesse dúvidas, os grupos iniciais, certamente, deveriam ter sinais identificadores, para não haver confusão. Este é o povo dos crocodilos (marcas no corpo); aqueles são os filhos do Sol; aqueles outros o povo Tigre.

Quem não faz parte do grupo é discriminado. Separado. Pode oferecer perigo. Separar é, também, segregar (palavra latina originada de carneiro. Carneiros precisam ser separados, controlados).

Provavelmente, das ações da vida pratica surgiram outras mais complexas, de caráter simbólico, associando sinais concretos a marcas especiais (o que significa um albino em algumas culturas africanas? O que significam gêmeos em algumas culturas?).

Tais mecanismos podem atingir alta complexidade e o autor René Girard, profundo estudioso do surgimento de mitos dedica longo tempo à pesquisa que visa compreender, por exemplo, o surgimento e o significado do Bode Expiatório, aquele que tem sinais diferenciados e que deve ser culpado de alguma ruim que acontece para certo povo, cidade ou cultura.

Isto exposto, compreendemos que segregar e discriminar nem sempre tiveram o caráter odioso e criminoso de hoje em dia. Evidentemente, com o conhecimento atual certos comportamentos baseados em algumas explicações tradicionais não são cabíveis.

Entretanto, isso nos faz compreender que certas práticas do campo do chamado Politicamente Correto e Multiculturalista não têm sentido. Dizer apenas que um cego é deficiente visual, como se isso fosse mais respeitoso ou apropriado que dizer “cego” não explica muito, e mostra, apenas, que há grupos que brigam com o significado das palavras, quando deveriam estar preocupados com outras coisas relativas aos cegos.

Para uma pessoa comum um cego é quem não vê nada. Quem vê com um olho é caolho. Quem não enxerga bem pode ser chamado, hoje em dia de míope, por exemplo, ou ser dito que tem a “vista cansada” (idoso). Dizer que uma pessoa é deficiente visual não diz muito, pois vários quadros se encaixam nisso. Todo cego é deficiente visual, mas nem todo deficiente visual é cego.

Por er uma expressão vaga não ajuda muito a quem se quer ajudar. E não resolve o problema do cego, concretamente. Tais operações de escamoteamento indicam, apenas, que está em curso um trabalho de tentar reconstruir a realidade, sonho de todos os totalitários.

Isso me lembra um texto que li de Olavo de Carvalho em que ele criticava os que, escudados nas políticas sociais, não dão esmolas aos pobres pedintes que não sendo nem atendidos pelo Estado, e nem pelos outros indivíduos, afundam cada vez mais.

Esta época foi esvaziada de qualquer compaixão pelo próximo. Mas o discurso politicamente corrreto fala cada vez mais no “outro”. Mas é um próximo abstrato, sistêmico, um “outro” invisível, mera conversa de propaganda.

Discriminar e segregar, portanto, são palavras que expressam praticas ancestrais e que permanecem. Obviamente, hoje em dia, conforme a aplicação, podem constituir praticas criminosas. Contudo, o ser humano agrega e discrimina, não no sentido criminal, mas no cultural, numa perspectiva antropológica. Uma torcida organizada não se mistura com a outra; uma tribo urbana se diferencia de outra.

A aceitação dessa evidência não implica justificar crimes de discriminação ou racismo, por exemplo. Mas, por outro lado, a existência da tipificação de crimes de discriminação ou racismo não implica em eliminar a liberdade de expressão. Assim, uma coisa é um ato criminoso de discriminação, outra a expressão de um pensamento sobre um comportamento de alguém.

Não se pode dizer que alguém seja inferior, enquanto ser humano, por ser desta ou daquela raça (como querem alguns) ou etnia. Contudo o cidadão tem o direito de estranhar certos comportamentos destes ou daqueles grupos. Isso é expressão de pensamento. Crime é discriminar ou segregar.

Vemos que os totalitários, na sua tentativa de reconstruir a Realidade ou recriar o Ser Humano, começam por implicar com as palavras. Um das que está em moda é “homofobia”.

O que significa, de fato? Fobia designa doença. Aplicando a palavra a qualquer expressão ou comportamento das pessoas que criticam atos ou atitudes homossexuais, e tentando fazer isso virar lei, os ativistas querem impedir a liberdade de expressão. Se alguém respeita o cidadão homossexual, enquanto cidadão, mas critica algo de seu comportamento, isso por acaso é crime? Ou doença?

Se qualquer critica for taxada de doença e deveria ser “tratada”? Isso levaria aos campos de concentração russos para tratamento de “doentes mentais”. A “doença” era criticar o comunismo. Se homofobia é “doença”, por que tratar como crime? As duas alternativas são idiotas.

Quem critica um comportamento não é doente e nem criminoso, apenas expressa um pensamento. Não sendo um pensamento que se encaixe na definição de discriminação racial ou religiosa, ou injúria, ou calúnia ou difamação ( que são crimes), por que não poderia ser expresso? Aliás, até o pensamento criminoso pode ser expresso, mas aí o
Sujeito autor arcará com as consequências.

Então pelo fato de alguns grupos poderem sacrificar animais em seus rituais religiosos alguém não pode expressar pena pelos animais sacrificados? Alguém não pode ponderar que sacrificar animais para a alimentação é tão ruim como sacrificar para um culto? E alguém não poderia dizer que sacrificar animais para alimentação humana é melhor que alimentar deuses?

E alguém não poderia, como os que defendem que não se matem animais, dizer que ambos estão equivocados? Os que matam animais por razões de culto tem um direito que garante isso; assim como os que matam animais para a alimentação. Todavia, o direito de matar animais não está associado a um direito que proíba a terceiros o exercício da crítica, ou da análise. É isso que faz uma sociedade democrática.

Vejamos. Digo: muitas grã-finas são bastante afetadas. Todo mundo concordará e achará que quem disse está certo. Se alguém disser: certos homossexuais são afetados será logo taxado de homofóbico. Isso é de uma idiotice extrema. Certos homossexuais são mesmo afetados em seu comportamento, como certas grã-finas pernósticas. Isso é uma constatação. Constatar algo da realidade não é crime.

Assinalar que algumas grã-finas são pernósticas é preconceito ou grãfinofobia? Tenham a santa paciência! Grã-finas do Mundo, uni-vos!

E os ativistas dos movimentos ligados ao homossexuais não se cansam de dizer que cristãos são homofóbicos, ou conservadores, ou retrógrados, ou qualquer um que criticar seus valores. Valores e comportamentos são inquestionáveis agora? Então quem criticar certos comportamentos cristãos ou atitudes cristãs é cristianofóbico? Será crime criticar um cristão?

Não é crime ser cristão, assim como não é crime ser homossexual. Mas não é crime expressar o pensamento, desde que não se configure crime já previsto em lei. Isso é muito diferente do que tentar criar um crime, como se faz com a aplicação abusiva do rotulo “homofobia” ou “homofóbico”, quando se tenta cassar a palavra de quem pensa diferente. É curioso, os homossexuais, como se diz, lutaram ao longo do tempo com tanto empenho para “sair do armário”, e agora querem ser “invisíveis”.

Antes não podiam existir, socialmente, por diversas razões. Agora não querem que os outros digam que eles existem; apesar de fazerem todo o barulho possível para mostrarem que existem. Há algo mais barulhento que as marchas e passeatas gays?


Postado por gutenberg

Nenhum comentário:

Postar um comentário