"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O MARXISMO E O HOSPÍCIO CULTURAL


Como o marxismo aposentou os proletários e elegeu as minorias como canais da revolução.

A eterna revolução em um manicômio ideológico


Para o marxismo cultural, vale tudo, e os fins da revolução justificam todos os meios. E como o proletariado se tornou obsoleto para a revolução, qualquer bicho-careta serve de meio-objeto para a revolução.

A política da chamada “Terceira Via”, anunciada com pompa e circunstância por Tony Blair em meados da década de 90 do século passado, foi defendida pela primeira vez pelo marxista Merleau-Ponty em 1956, no seu livro “As Aventuras da Dialéctica” (Paris, Gallimard).

Foram precisos quarenta anos para que as ideias da “Terceira Via” de Merleau-Ponty fossem oficialmente assumidas na política europeia; e depois de Tony Blair, seguiram-se uma série de idiotas úteis: Zapatero, José Sócrates, Lula da Silva, e até o Obama nos Estados Unidos.

Através do seu livro supracitado e do seu conceito de “Terceira Via”, Merleau-Ponty afastou-se definitivamente da ortodoxia leninista e adotou, embora de forma ambígua, o marxismo cultural da Escola de Frankfurt.

Os seus discípulos Claude Lefort, Cornelius Castoriadis, e principalmente Alain Touraine, já antes de Maio’68 em Paris mas sob o signo deste movimento, abraçaram definitivamente uma mistura ideológica entre o marxismo cultural e o estruturalismo francês, adotando não só o conceito político de “Terceira Via”, mas também considerando que o movimento de proletarização terminou, e classificando a classe operária como “esclerosada”.

O que verificamos é que o meios-objeto da revolução se foram alterando sucessivamente de um “meio-objeto revolucionário” para outro, mas esses ideólogos não desistiram do conceito de revolução.

Nos seus escritos de ainda antes de Maio’68, Alain Touraine foi muito claro: os interesses de classe já não são predominantes nas lutas pelo controlo da mudança social e da ação histórica (o proletariado está esclerosado), e agora os meios e objetos da revolução passam a ser as mulheres, os jovens, o estudante, o antinuclear, o regionalista e, segundo o marxista Alain Touraine, mais tarde virão novos meios/objeto da revolução: os ecologistas e os homossexuais. Ei-los aí.

Foram precisos trinta anos para que as ideias de Alain Touraine, e seus camaradas marxistas, fossem oficialmente assumidas pela política europeia — e mais grave: assumidas pelos conservadores europeus!
Criou-se, assim, um mito segundo o qual a Esquerda prevê o futuro (os novos profetas), mesmo que esse futuro revolucionário se revele, na prática, catastrófico para a sociedade.
As profecias dos novos profetas marxistas têm que ser, mais tarde ou cedo, inexoravelmente adotadas sob pena de se incorrer em crime de heresia.

O mais perverso, nos novos marxistas culturais, é que não têm problema nenhum em introduzir (enviesando-as) nas suas ideias revolucionárias, as ideias de conservadores como, por exemplo, Tocqueville, e assumi-las como suas. Para o marxismo cultural, vale tudo, e os fins da revolução justificam todos os meios.

E como o proletariado se tornou obsoleto para a revolução, qualquer bicho-careta serve de meio-objeto para a revolução: a mulher, o jovem ou o homossexual, são apenas meios-objeto, instrumentos de uma visão utópica do mundo segundo a qual é possível construir um paraíso na Terra através de engenharias sociais construídas através do divórcio entre Direito (o justo) e ética (o bem).

Quando a mulher, o jovem ou o homossexual passarem a ser “objetos revolucionários esclerosados” (como aconteceu com o “proletariado obsoleto”), os revolucionários concentrarão as suas atenções reviralhas na libertação de dominação, por exemplo, em relação aos imigrantes, à ameba, ao pardal e aos animais domésticos.

Quiçá, as crianças precisem também de ser libertadas da dominação sexual da merda da cultura ocidental e, assim, a pedofilia seja legalizada.
O que é preciso é um eterno e indiferenciado meio-objeto revolucionário para que a revolução nunca acabe

Orlando Braga,05 OUTUBRO 2011

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