Eufemismos que tornam até assassinatos respeitáveis
Polidez artificial e mensagens ambíguas: um guia para eufemismos
30/12/2011
Palavras curtas e fortes podem esclarecer pontos importantes. Mas as pessoas muitas vezes preferem suavizar suas falas com eufemismos: uma combinação de abstração, metáfora, gírias e atenuação que oferece proteção contra o ofensivo, áspero ou repentino. Em 1945, em um dos grandes eufemismos da história, o Imperador Hirohito do Japão informou seus súditos que seu país estava se rendendo incondicionalmente (depois de duas bombas atômicas, a perda de três milhões de vidas e a ameaça iminente de invasão) com as palavras, “A situação de guerra se desenvolveu de forma não necessariamente vantajosa para o Japão.”
Eufemismos estão em toda a parte, da diplomacia (“o ministro está indisposto” significa que ele não vai vir) ao quarto (uma grande horizontale na França é uma cortesã admirável). Mas é possível tentar formular uma taxonomia eufemística. Uma forma de categorizá-los seria pela ética. Em Política e a Língua Inglesa, George Orwell escreveu que a linguagem política capciosa é feita para “fazer com que mentiras soem verdadeiras e o assassinato seja respeitável”. Alguns eufemismos de fato distorcem e enganam; mas alguns são motivados pela gentileza.
Outra maneira de tipificá-los seria por tema. Uma terceira – e uma forma útil para se começar – é por nacionalidade. Um eufemismo é uma forma de mentira, e as mentiras que pessoas em países diferentes contam a si mesmas são reveladoras.
Eufemismos norte-americanos pertencem a uma classe própria, principalmente porque eles parecem envolver palavras que poucos considerariam ofensivas para começar, substituídas por frases inutilmente ambíguas: tecido de banheiro (bathroom tissue) para papel higiênico, aplicativos dentários (dental appliances) para dentaduras, carro de propriedade prévia (previously owned) ao invés de usado, centros de bem-estar (wellness centers) para hospitais, onde se realizam procedimentos (procedures) e não operações.
Sensibilidade chinesa
Alguns eufemismos chineses também decorrem do excesso de escrúpulos e discrição. Ao invés de perguntar sobre a vida sexual de um paciente, os médicos costumam indagar se ele tem conseguido fazer fang shi (negócios de quarto). Sites online de produtos sexuais vendem qinqgu yongpin, literalmente “interessantes produtos de amor”.
Os britânicos são provavelmente os campeões mundiais do eufemismo. Os melhores são amplamente compreendidos (pelo menos entre nativos), criando uma agradável sensação de cumplicidade entre o “eufemista” e sua audiência. Obituários de jornais britânicos são uma fonte rica: ninguém gosta de falar mal dos mortos, mas muitos apreciam uma pista quanto a verdade sobre a pessoa que “faleceu”. Um bêbado é descrito como “festivo” ou “animado”. Tagarelas insuportáveis são“sociáveis” ou o pavoroso “exuberantes”; “sagacidade vivaz” significa uma tendência a contar histórias cruéis ou sem graça. “Austero” e “reservado” significa triste e deprimido.
Sala de reuniões, quarto de dormir
Uma taxonomia temática do eufemismo deve ter uma categoria reservada para o comércio. Uma residência “bijou” é minúscula (também pode ser “charmosa”, “aconchegante” ou “compacta”). Uma vizinhança “vibrante” é ensurdecedoramente barulhenta; se é descrita como “emergente” tem taxas de criminalidade assustadoras, enquanto a “um passo de” geralmente significa que você precisaria de uma catapulta para chegar ao centro da cidade.
Sexo supera até excreção como fonte de eufemismos. A Bíblia está cheio deles: “pé” no lugar de pênis, “conhecer” no lugar de relações sexuais. Uma prostituta abordando um cliente nas ruas do Cairo vai perguntar Fi hadd bitaghsal hudoumak? (Literalmente, “Você tem alguém para lavar suas roupas?”)
Eufemismos politicamente corretos estão entre os mais nocivos. Bom e mau se transformaram em “apropriado” e “inapropriado”. Um problema terrível vira uma menos alarmante “questão desafiadora”. Gastar é investir; cortes são economias.“Afetado por erro matemático” (na terminologia da União Europeia) significa dinheiro roubado do orçamento.
Mas eufemismos também podem ser benignos, até mesmo necessários. Às vezes a necessidade de não ferir sentimentos tem precedência justa sobre a clareza. Dizer que crianças muito retraídas ou muito agitadas tem “necessidades especiais”, ou que elas exibem “comportamento desafiador”, não as torna mais fáceis de se ensinar – mas pode fazer com que elas não sejam alvo de provocações ou se sintam desencorajadas. “Frágil” (sobre uma pessoa idosa) é mais gentil do que fraco ousenil. Eufemismos podem ser uma forma de mentira, mas alguns deles são mentiras brancas.Uma cultura sem eufemismos seria mais honestas, porém mais dura. Aqui vai uma resolução de Ano Novo: tire os eufemismos das suas conversas por um dia. Os resultados vão te surpreender.
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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