Prezada presidente Dilma:
Não sei se a senhora terá tempo ou oportunidade de ler esta pequena carta, mas me julguei no dever de lhe escrever.
Poderia tratar de várias dezenas de questões referentes a seu governo. Várias delas têm merecido a publicação de posts neste blog.
Queria apenas, e rapidamente, abordar algo de que, com certeza, a senhora tomou conhecimento. Refiro-me aos primeiros movimentos do novo primeiro-ministro da Itália, Mario Monti, em seu posto, e a seus esforços para restabelecer a respeitabilidade do governo italiano após longos anos de berlusconismo e, ao mesmo tempo, recuperar a credibilidade da Itália perante seus credores.
A senhora certamente não ignora as credenciais de Monti, nem o fato de que o chamavam “SuperMario”, por sua eficiência discreta, nos dez anos longos anos em que exerceu o importante cargo de comissário da União Europeia – ou seja, um dos 27 integrantes do órgão executivo da UE, espécie de superministro.
Ele aplicou multa de meio bilhão de dólares na Microsoft
Só para lembrar. Numa primeira fase, de 1995 a 1999, ele foi encarregado de assuntos como mercado interno, questões aduaneiras e taxação. Depois, de 1999 a 2004, exerceu o posto de comissário para a livre concorrência. Não brincava em serviço, como a senhora há de se recordar. Entre outras ações, a ele coube a iniciativa de aplicar pesada multa de meio bilhão de dólares na Microsoft por ferir os princípios de livre competição na área da União Europeia.
Sua competência como economista, professor universitário, ex-reitor da Universidade Bocconi, renomada instituição de Milão onde ele próprio se formou, com posterior doutorado em Yale, nos EUA, onde foi aluno do Prêmio Nobel James Tobin, tornaram-no capaz de circular no difícil terreno minado da complicadíssima política italiana.
Tanto é que sua primeira nomeação para o posto de comissário que cabia à Itália foi proposta ao Parlamento pelo agora ex-primeiro-ministro conservador Silvio Berlusconi. E a renovação de seu mandato, pelo ex-primeiro-ministro de centro-esquerda Romano Prodi.
Pois bem, presidente, a senhora viu qual foi a primeira medida saneadora, a primeira de todas, tomada por Monti, logo ao tomar posse?
Sim, isso mesmo: reduzir o número de ministérios da Itália de 24 para 17. De uma penada, cortou sete ministérios, economizando recursos e simplificando a gestão pública. E ele acumulou o cargo de premier com o de ministro da Economia. Um ministério a menos.
A senhora, sabemos todos, governa com um ministério de 39 pastas, prestes a tornar-se 40, com a provável criação de uma para micro e pequenas empresas.
Com já escrevi antes, presidente, na iniciativa privada, um CEO de empresa que tivesse 40 diretores se reportando a ele levaria o negócio à bancarrota ou ficaria doido, se a senhora me permite esta expressão.
Enxugar um pouco esse ministério-monstro
Será que o exemplo da Itália não poderá inspirá-la, na reforma ministerial que, ao que tudo indica, a senhora fará em janeiro próximo?
Sim, sei que Monti é um técnico, que governa graças a um acordo parlamentar que lhe conferiu um mandato, de prazo ignorado, para montar um governo sem considerações partidárias.
E já a senhora, infelizmente, como ocorre com os presidentes no Brasil, precisa de um pacote de partidos para conseguir governar e passar leis no Congresso. E que esses partidos querem nacos do governo, principalmente ministérios.
Mas, quem sabe, com sua crescente popularidade – e não cabe aqui discutir se seu governo vai bem ou não –, sua maior experiência e segurança no cargo, a senhora não consegue dar um jeito nisso e enxugar um pouco, pelo menos, esse ministério-monstro?
Acho que o país só teria a ganhar com isso.
Pelo menos pense no assunto, presidente.
Atenciosamente,
Ricardo Setti
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
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"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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