Anita Leocádia parece estar equivocada em relação à imagem do pai, Luiz Carlos Prestes de um revolucionário pelos grandes meios de comunicação
Em artigo publicado no jornal “Brasil de Fato”, Anita Leocadia Prestes queixou-se da banalização da imagem de seu pai, Luiz Carlos Prestes, pelos meios de comunicação. Leia o artigo.
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Já se passaram mais de 20 anos do desaparecimento de Luiz Carlos Prestes. Tendo sido sempre coerente consigo mesmo e com os ideais revolucionários a que dedicou sua vida, sem jamais se dobrar diante de interesses menores ou de caráter pessoal, Prestes despertou o ódio dos donos do poder, que se esforçaram por criar uma História Oficial deturpadora tanto de sua trajetória política quanto da história brasileira contemporânea.
Mesmo após seu falecimento, Prestes continua a incomodar os donos do poder, o que se verifica pelo fato de sua vida e suas atitudes não deixarem de serem atacadas e/ou deturpadas, com insistência aparentemente surpreendente, uma vez que se trata de uma liderança do passado, que não mais está disputando qualquer espaço político.
Num país em que praticamente inexiste uma memória histórica, em que os donos do poder sempre tiveram força suficiente para impedir que essa memória histórica fosse cultivada, presenciamos um esforço sutil, mas constante, desenvolvido através de modernos e possantes meios de comunicação, de dificultar às novas gerações o conhecimento da vida e da luta de homens como Luiz Carlos Prestes, cujo passado pode servir de exemplo para os jovens de hoje.
Atualmente tornou-se difícil e pouco convincente recorrer aos antigos expedientes para satanizar os comunistas: acusá-los de “comer criancinhas assadas na brasa”, de defender a “coletivização das mulheres”, de renegar a família, de desrespeitar as freiras, etc. etc. Hoje os expedientes são outros, mais de acordo com os novos tempos.
No caso de Prestes – o mais conhecido e o mais respeitado comunista brasileiro -, por tantos anos caluniado ou silenciado, uma nova tática de desmoralização foi adotada pelos grandes meios de comunicação, comprometidos com os interesses das classes dominantes.
Na impossibilidade de questionar sua reconhecida honestidade, assim como sua fidelidade aos princípios revolucionários por que sempre pautou sua existência, o novo expediente consiste na banalização de sua imagem.
Procura-se desviar a atenção do público do legado político e revolucionário de Luiz Carlos Prestes, chamando a atenção para aspectos de sua vida privada, tentando apresentá-lo apenas como um homem comum e inofensivo, portanto, para os poderosos deste país.
Da mesma maneira do que se passou há alguns anos atrás, com a ampla divulgação do filme “O Velho” – que apresentava Prestes como um comunista fracassado e dedicado a cultivar rosas -, agora a Revista de História da Biblioteca Nacional presta sua contribuição ao esforço de banalização da imagem de Prestes pelos grandes meios de comunicação.
Reproduz na capa de sua edição de janeiro de 2012, mês do aniversário natalício de Prestes, foto sua tirada em uma praia, com trajes de banho. Para isso, contou com a lamentável colaboração da viúva do personagem retratado, num flagrante desrespeito à sua vontade e à sua memória.
Todos que conviveram com Prestes sabem que ele não admitia confundir sua vida privada com suas atividades públicas e jamais concordaria com a publicação de semelhante foto na imprensa. Prestes era um homem sóbrio, que detestava qualquer gesto de exibicionismo, qualquer atitude na vida privada que pudesse vir a prejudicar sua atuação como dirigente comunista e revolucionário.
Frente à nova tática dos grandes meios de comunicação, voltados hoje para o expediente da banalização da imagem de revolucionários como Prestes e Guevara – cuja imagem vem sendo mercantilizada pelos donos do capital -, é necessário que todos aqueles, homens e mulheres, comprometidos com a luta pelo socialismo em nossa terra, reforcem a vigilância de classe e procurem contribuir para que o legado revolucionário desses grandes lutadores se torne acessível aos jovens de hoje, aos futuros combatentes de amanhã.
Anita Leocadia Prestes
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PARTIDÃO APOIA ANITA
Carta pessoal de Ivan Pinheiro, presidente do Partido Comunista Brasileiro, a Anita Leocádia Prestes:
A publicação de uma foto do camarada Luiz Carlos Prestes em trajes de praia no jornal mais reacionário do nosso país (que deveríamos voltar a chamar de The Globe, como outrora) me deixou perplexo.
De início, feliz, por ver o incansável Velho num raro momento de justo descanso. Não dá para perceber o ano em que a foto foi tomada, mas sabemos que ele nunca teve uma vida tranquila.Mas comecei a me indignar quando percebi que a foto foi imposta a Prestes. Cochilando, com um chapéu que lhe cobre os olhos, é óbvio que ele não se deixou fotografar naquele momento íntimo; a foto foi tirada à sua revelia.
Acho natural e saudável que entre amigos e familiares de confiança registremos nossos momentos de descontração, de relaxamento.Mas não é ético que uma foto reservada, como que roubada a uma pessoa (que talvez nunca a tenha visto!) seja tornada pública por quem a possuia. E se trata de uma foto de alguém falecido, que não pode concordar nem discordar de sua publicação.
Prestes não era um desses medíocres “famosos” globais cujas fotos íntimas aparecem nas ridículas revistas com que se manipulam as pessoas simples para sonharem com a possibilidade de também virem a ser ricas, bonitas e famosas.Prestes foi um revolucionário, um dos mais importantes da história.
O diário oficial do imperialismo no Brasil certamente não escolheu esta foto para homenagear o Cavaleiro da Esperança, que sem sombra de dúvidas foi o brasileiro mais perseguido e satanizado por este monopólio.Desta forma, Anita, solidarizo-me pessoalmente com você, compartilhando a justa indignação diante desta (vã) tentativa de banalizar a imagem de Prestes.
Ivan Pinheiro
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Comentário de Carlos Newton
Infelizmente, Prestes não está mais aqui para se posicionar sobre a própria imagem. Mas é possível lembrar seu pensamento, através da última entrevista que concedeu, poucos dias antes de morrer, à jornalista Jussara Martins, do Correio Braziliense.
Na matéria, Prestes disse ter parado de assistir à novela “Kananga do Japão” , da TV Manchete, na qual era um dos personagens principais, e estava sendo exibida à época. O líder comunista explicou que ficou indignado com o autor da novela, porque houve uma cena em que o pergonagem Prestes aparecia na praia de terno e gravata. Por isso, parou de assistir à novela.
Na entrevista, o líder comunista disse que a cena era absurda, porque ele ia normalmente à praia como qualquer outra pessoa, jamais apareceria de terno e gravata. E acrescentou que os policiais de Vargas não conseguiam prendê-lo justamente porque se vestia como uma pessoa normal e se misturava com o povo.
Anita Leocádia, é claro, idolatra a memória do pai. Ivan Pinheiro, também. Mas qual é o problema de se publicar uma foto de Prestes de calção de banho? Na verdade, isso apenas humaniza o líder comunista e mostra o ser humano extraordinário que ele era.
Carlos Newton
17 de janeiro de 2012
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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