Foi levado ao limite o forte apelo sexual usado pela direção do BBB para segurar a audiência de um programa cuja classificação indicativa é de 14 anos.
Levou 12 anos, mas depois de muitas brigas que quase chegaram às vias de fato, depois de casos de racismo latente, de um participante muito popular – que acabou ganhando uma das edições passadas do programa – dizer ao vivo que heterossexuais não contraem o vírus da Aids; depois de muito, muito tempo gasto na TV com exercícios de imaginação sobre o que se passou ou deixou de se passar sob os edredons e, ano após ano desde 2001, depois de um sem número de estratagemas da direção do programa para apimentar o “jogo” e fazer o circo pegar fogo, o Big Brother Brasil enfim virou caso de polícia.
Na noite de sábado para domingo do último final de semana dois participantes do reality show protagonizaram um episódio no qual, a rigor, foi levado ao limite o forte apelo sexual que caracteriza o BBB e cada vez mais lhe serve de subterfúgio para segurar a audiência após mais de uma década de cada vez mais monótonas “espiadinhas” — com direito a provocações e incitações explícitas e diárias deste tipo de sensacionalismo por parte do apresentador do programa, cuja classificação indicativa é para 14 anos de idade, e com a distribuição farta de bebidas alcoólicas para fazer os participantes, digamos, soltarem suas feras.
O caso do suposto abuso sexual praticado pelo participante Daniel tendo como vítima a participante Monique (ele é acusado de fazer sexo com ela enquanto a moça dormia, o que caracteriza crime de estupro de vulnerável) é um tanto confuso, e até agora, quase uma semana depois, ninguém sabe ao certo o que aconteceu, apesar de tudo ter acontecido – ou não ter acontecido – sob a vigilância high-tech do onipresente grande irmão.
A primeira reação da direção do BBB após o começo do ronrom nas redes sociais sobre o suposto caso de estupro foi de atribuir às acusações a Daniel, que é negro, uma atitude racista. Depois, com a estrondosa repercussão do episódio, e após uma “criteriosa avaliação” das imagens, a Globo decidiu expulsar Daniel do reality show por ele ter “infringido as regras do programa” com um comportamento “gravemente inadequado”.
Reality-estupro faz Ibope do BBB disparar
Antes do anúncio de um sisudo Pedro Bial sobre as consequências do comportamento “gravemente inadequado” do “brother” limado do BBB, o próprio apresentador havia usado a frase “O amor é lindo” para se referir às imagens que levantaram a suspeita do crime de estupro de vulnerável, o que gerou revolta entre internautas mais alvoroçados.
Na sequência da expulsão, investigadores estiveram no Projac para pegar os depoimentos de Daniel e Mariana. Pelos telejornais da própria Globo (que escalou o repórter de polícia André Luiz Azevedo para cobrir os desdobramentos do caso), ficamos sabendo que o delegado que apura as circunstâncias do suposto estupro ouviu do suposto agressor e da suposta vítima que não houve sexo, que houve apenas carícias, e que ambos afirmaram estar perfeitamente conscientes sobre o que faziam embaixo das cobertas.
No Facebook, começou a circular uma foto de Daniel e Mariana lado a lado com os seguintes dizeres sobrepostos: “A Rede Globo de televisão oferece drogas aos confinados e permite que eles durmam juntos sob o efeito dessas drogas. Filma toda a orgia. Arrecada milhões com as imagens e a polêmica. Agora, usa o rapaz como bode expiatório, para se livrar da culpa”.
O caso ganhou repercussão internacional. A edição britânica da revista The Week, por exemplo, ressaltou que “enquanto a polícia tenta entender a situação, uma petição on-line foi lançada para que a Globo assuma a responsabilidade pelo caso. Cerca de 700 pessoas já assinaram”.
Enquanto a polícia tenta entender a situação, a suspeita do reality-estupro acontece em um momento de ostracismo do Big Brother Brasil ante o distinto público. Antes mesmo de a edição 2012 do programa começar, muitas pessoas aderiram a campanhas no Facebook contra o uso da rede social para fazer comentários e publicar imagens sobre o BBB, cujos vinte pontos no Ibope registrados no último domingo indicavam um programa decadente e que parecia condenado ao ostracismo – um programa que em sua última edição, em 2011, já havia registrado a sua pior média de audiência dos últimos anos.
Agora, a situação mudou. Em três dias, com a polêmica, os 20 pontos do Ibope chegaram a 36 – recorde de audiência desta edição, e as dez matérias mais lidas no portal da revista Veja três dias depois de estourada o “escândalo sexual” do BBB eram todas, 100%, sobre o “escândalo sexual” do BBB.
Caro leitor,
Você acha que o “brother” Daniel vai acabar virando um Big Bode Expiatório da miséria da TV aberta no Brasil?
Ou discutir isso é uma grande bobagem e, enquanto falamos sobre o Big Brother, deixamos de falar sobre coisas mais importantes?
O Big Brother Brasil deveria acabar?
Por Hugo Souza
20/01/2012
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
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"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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