"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 26 de abril de 2012

CARNEIROS SÃO ETERNOS


Quando você fala de culturas que se impõem sobre outras, Valentin, você está falando de concepções de mundo, idéias-força, filosofias, sistemas jurídicos. O monoteísmo judaico se impõe ao politeísmo greco-romano, o direito romano se impõe ao Ocidente, a cultura árabe permeia a cultura ibérica. Nada a ver com a nuvem, que não traz em seu bojo idéia alguma. A nuvem é, fundamentalmente, incultura.

Certo, a televisão e a informática são fatores poderosos de transformação. Mas não creio que tenham destruído a capacidade de ler das pessoas. Tanto que as editoras continuam editando e as pessoas continuam lendo. Se lêem lixo ou boa literatura, a culpa não é da televisão. Esta jamais substituirá a leitura. É um meio de comunicação quente – isto é, rápido – e essa rapidez atrapalha a aquisição de conhecimento. Você pode ver uma reportagem na TV, até mesmo um ensaio histórico. Mas nenhum programa televisivo suprirá a leitura de um Renan ou Toynbee. São instrumentos diferentes.

Não é que as pessoas recuem diante de textos longos. É que o texto curto é característico do jornalismo. Pessoalmente, um texto que ocupa duas páginas de jornal me desagrada. Jornalismo é síntese. Mas não hesito um segundo diante de um livro de mil páginas, se o autor me traz informações que me interessam. A História das Origens do Cristianismo, de Renan, tem sete volumes. Já li e reli os sete e de vez em quando volto a algum dos tomos. Não faz muito, li a Histoire de l’Inquisition au Moyen Âge, de Henry Charles Lea. São 1458 páginas, e as li de um fôlego só. O jornalismo, por sua natureza, se alimenta de textos curtos. Neste sentido, a internet aderiu ao jornalismo. O que não impede que produza textos longos, afinal não lida com a limitação de espaço do papel. Jornal é para ser lido em uma hora, no máximo. Livro pode exigir semanas.

Não, a leitura não morreu. Passe em uma boa livraria. Apesar da montanha de lixo que suas estantes abrigam, sobra boa leitura para muitos anos. Ultimamente, tenho até mantido uma certa distância dessas livrarias. Sempre estou lendo livros da penúltima viagem. Sinto que às vezes compro livros por gula, que ficarão intocados em minha biblioteca. Tenho procurado conter-me, comprar só o que posso ler.

Se a TV é manipulada por grupos, os jornais também o são. E cada um quer vender seu peixe. Os editores enchem a boca falando em liberdade de imprensa. Mas todo jornal tem seus temas proibidos. Veja, por exemplo, as barbaridades cometidas pelos muçulmanos na Europa. Nossa imprensa as ignora. O mesmo acontece com grupos editorais. Os livros de Oriana Fallaci venderam como pão quente na Europa. Nenhuma editora brasileira ousou publicá-los. Oriana xinga os cabeças-de-toalha e as editoras nacionais há muito se submeteram ao politicamente correto. O mesmo ocorreu no século passado em relação ao comunismo. Jornais e editoras não ousavam denunciar nem mesmo os crimes de Stalin. A pressão só diminuiu após a queda do Muro.

Não, não atribuo à televisão a nuvem de mediocridade que nos envolve. A televisão não é inocente, é claro. Mas nem tão culpada. Você vê a televisão como responsável pela “criação do homem do século XXI, um carneiro descerebrado, abúlico, que caminha somente para onde os mestres controladores mandam”. Ora, esse homenzinho sempre existiu. É eterno. Ou o cristianismo não teria chegado a nossos dias. O marxismo, outro rebanho de descerebrados, floresceu e tomou conta de um terço do planeta em uma era pré-televisiva. Diga-se o mesmo do nazismo.

Sim, existem aqueles que, ao acordar, têm uma necessidade compulsiva de ligar a televisão. No entanto, conheço não poucas pessoas que não tem televisão em casa. Ou a têm e raramente a ligam. Ano passado, tentando modernizar minhas tralhas, comprei um televisor de 56 polegadas. Quase não o ligo. Uso mais para ver DVDs. De vez em quando, é verdade, encontro algum filme bom que não chegou ao Brasil.

Televisão não impede ninguém de ler. Que mais não seja, tem dois botõezinhos, on e off. Não lê quem não quer ler. E estes são legião.

26 de abril de 2012
janer cristaldo

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