Muita gente acha estranho quando se diz que a humanidade já está consumindo 1,5 planeta (um planeta e meio). Mas, segundo a metodologia da pegada ecológica, o mundo deverá atingir o consumo equivalente a 2 planetas entre 2030 e 2050, dependendo da continuidade do ritmo das loucuras do modelo atual.
Mas como é possível consumir mais de um globo terrestre?
A resposta é simples: não existe apenas um planeta Terra, mas dois, um planeta vivo e um planeta morto. O primeiro está na superfície e o segundo no subsolo.
O planeta morto é composto por material orgânico decomposto e que foi fossilizado em decorrência dos efeitos da pressão e das temperaturas elevadas atuando durante milhões de anos junto ao processo de soterramento.
A matéria orgânica é constituída por substâncias contendo carbono na sua estrutura molecular. A queima deste carbono transforma este material em combustíveis fósseis.
O carvão mineral, o petróleo e o gás natural são os combustíveis fósseis mais utilizados, servindo para colocar em movimento as locomotivas, trens, carros, caminhões, navios, além de gerar eletricidade para toda a cadeia produtiva da economia (inclusive hospitais e escolas) e para o consumo particular das famílias.
Os combustíveis fósseis, além de serem finitos, provocam grande poluição, sendo um dos principais responsáveis pelo efeito estufa que aquece a atmosfera da Terra, gerando mudanças climáticas. A utilização dos combustíveis fósseis possibilitou que a população humana e a economia apresentassem um crescimento sem precedêntes nos últimos 200 anos.
A humanidade se espalhou por todo o planeta, em muitos casos, destruindo biomas e comprometendo a qualidade das águas, ao mesmo tempo que a capacidade de regeneração da Terra é reduzida. Num processo de crescimento permanente da pegada ecológica, o ser humano tem ultrapassado as fronteiras planetárias.
Porém, cabe a pergunta: é possível consumir mais de um planeta?
Sim, no curto e médio prazo, da mesma forma como é possível uma pessoa gastar mais do que recebe.
Tudo depende das condições herdadas. Suponha que uma pessoa herdou uma empresa com um capital de R$ 10 milhões de reais, propiciando uma receita líquida mensal de R$ 20 mil para o herdeiro proprietário.
Mas suponha que este felizardo resolva gastar em média R$ 30 mil por mês. Provavelmente este proprietário conseguirá viver nesta situação por 20 ou 30 anos.
Todavia, irá certamente à falência depois de destruir o patrimônio herdado. Este tipo de situação acontece com frequência e está explícito naquele velho provérbio: “Pai rico, filho nobre, neto pobre”.
Jorginho Guinle é um “bom” exemplo de pessoa que passou toda a vida torrando os recursos herdados. Segundo a Wikipedia:
“Jorge Guinle (1916-2004) foi um socialite, playboy e herdeiro milionário brasileiro. Viveu a época áurea do Rio de Janeiro entre a década de 1930 e 50, onde conheceu e acredita-se que tenha tido relações amorosas com diversas atrizes de Hollywood. Residiu no hotel Copacabana Palace (fundado por seu tio, Octávio Guinle) até a sua morte, gabando-se de nunca ter trabalhado na vida. Jorge se orgulhava de ter gasto a fortuna de quase cem milhões de reais que lhe foi deixada de herança”.
De certa forma, a humanidade está seguindo o princípio de Jorginho Guinle de viver dos recursos da herança e gastar mais do que a mãe Terra oferece. A humanidade está vivendo da riqueza deixada e acumulada durante milhões de anos em forma de combustíveis fósseis.
Porém, a economia e a renda per capita mundial crescem na medida em que essa herança é, literalmente, queimada.
Ao mesmo tempo em que a humanidade está consumindo e torrando o planeta morto vai também destruindo ou danificando seriamente as matas, os rios, os lagos e os oceanos. Ou seja, a humanidade está utilizando um modelo de desenvolvimento que consome a herança do passado e destrói as bases da vida do futuro.
A falta de compromissos sérios por parte dos governos e das Conferências da ONU indica que este processo deve continuar até 2050. Provavelmente, em meados do século XXI, os cerca de 9 billhões de habitantes do mundo estarão em situação semelhante àquela da senilidade de Jorginho Guinle.
Ou seja, a humanidade vai estar com um passivo contábil muito grande, mas sem a contrapartida do ativo natural para sustentar o padrão de vida alcançado.
A continuidade deste processo vai tornar quase impossível a sobrevivência de todos os seres vivos depois que a humanidade queimar os restos do planeta morto e destruir o planeta vivo.
18 de abril de 2012
José Eustáquio Diniz Alves é doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE. Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal.
Mas como é possível consumir mais de um globo terrestre?
A resposta é simples: não existe apenas um planeta Terra, mas dois, um planeta vivo e um planeta morto. O primeiro está na superfície e o segundo no subsolo.
O planeta morto é composto por material orgânico decomposto e que foi fossilizado em decorrência dos efeitos da pressão e das temperaturas elevadas atuando durante milhões de anos junto ao processo de soterramento.
A matéria orgânica é constituída por substâncias contendo carbono na sua estrutura molecular. A queima deste carbono transforma este material em combustíveis fósseis.
O carvão mineral, o petróleo e o gás natural são os combustíveis fósseis mais utilizados, servindo para colocar em movimento as locomotivas, trens, carros, caminhões, navios, além de gerar eletricidade para toda a cadeia produtiva da economia (inclusive hospitais e escolas) e para o consumo particular das famílias.
Os combustíveis fósseis, além de serem finitos, provocam grande poluição, sendo um dos principais responsáveis pelo efeito estufa que aquece a atmosfera da Terra, gerando mudanças climáticas. A utilização dos combustíveis fósseis possibilitou que a população humana e a economia apresentassem um crescimento sem precedêntes nos últimos 200 anos.
A humanidade se espalhou por todo o planeta, em muitos casos, destruindo biomas e comprometendo a qualidade das águas, ao mesmo tempo que a capacidade de regeneração da Terra é reduzida. Num processo de crescimento permanente da pegada ecológica, o ser humano tem ultrapassado as fronteiras planetárias.
Porém, cabe a pergunta: é possível consumir mais de um planeta?
Sim, no curto e médio prazo, da mesma forma como é possível uma pessoa gastar mais do que recebe.
Tudo depende das condições herdadas. Suponha que uma pessoa herdou uma empresa com um capital de R$ 10 milhões de reais, propiciando uma receita líquida mensal de R$ 20 mil para o herdeiro proprietário.
Mas suponha que este felizardo resolva gastar em média R$ 30 mil por mês. Provavelmente este proprietário conseguirá viver nesta situação por 20 ou 30 anos.
Todavia, irá certamente à falência depois de destruir o patrimônio herdado. Este tipo de situação acontece com frequência e está explícito naquele velho provérbio: “Pai rico, filho nobre, neto pobre”.
Jorginho Guinle é um “bom” exemplo de pessoa que passou toda a vida torrando os recursos herdados. Segundo a Wikipedia:
“Jorge Guinle (1916-2004) foi um socialite, playboy e herdeiro milionário brasileiro. Viveu a época áurea do Rio de Janeiro entre a década de 1930 e 50, onde conheceu e acredita-se que tenha tido relações amorosas com diversas atrizes de Hollywood. Residiu no hotel Copacabana Palace (fundado por seu tio, Octávio Guinle) até a sua morte, gabando-se de nunca ter trabalhado na vida. Jorge se orgulhava de ter gasto a fortuna de quase cem milhões de reais que lhe foi deixada de herança”.
De certa forma, a humanidade está seguindo o princípio de Jorginho Guinle de viver dos recursos da herança e gastar mais do que a mãe Terra oferece. A humanidade está vivendo da riqueza deixada e acumulada durante milhões de anos em forma de combustíveis fósseis.
Porém, a economia e a renda per capita mundial crescem na medida em que essa herança é, literalmente, queimada.
Ao mesmo tempo em que a humanidade está consumindo e torrando o planeta morto vai também destruindo ou danificando seriamente as matas, os rios, os lagos e os oceanos. Ou seja, a humanidade está utilizando um modelo de desenvolvimento que consome a herança do passado e destrói as bases da vida do futuro.
A falta de compromissos sérios por parte dos governos e das Conferências da ONU indica que este processo deve continuar até 2050. Provavelmente, em meados do século XXI, os cerca de 9 billhões de habitantes do mundo estarão em situação semelhante àquela da senilidade de Jorginho Guinle.
Ou seja, a humanidade vai estar com um passivo contábil muito grande, mas sem a contrapartida do ativo natural para sustentar o padrão de vida alcançado.
A continuidade deste processo vai tornar quase impossível a sobrevivência de todos os seres vivos depois que a humanidade queimar os restos do planeta morto e destruir o planeta vivo.
18 de abril de 2012
José Eustáquio Diniz Alves é doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE. Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal.
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