A presidente Dilma Rousseff está na lista das 100 personalidades mais influentes do mundo segundo a revista Time. Não se trata de menosprezo, mas de fato: o chefe do Executivo do Brasil, qualquer que fosse, estaria fatalmente numa lista assim a esta altura. Essas eleições têm sempre um quê, ou muitos quês, de ridículo. Neste ano, integra o grupo, por exemplo, Manal al-Sharif. Quem é ela? Aquela mulher saudita que decidiu desafiar a lei e dirigir um carro! Um ato corajoso, sem dúvida! Mas cadê a “influência mundial”? O mundo muçulmano, pra começo de conversa, está se tornando progressivamente menos laico, e isso quer dizer mais hostil às mulheres, como demonstra o Egito “pós-revolução”. Os outros dois brasileiros do grupo são o empresário Eike Batista e a presidente da Petrobras, Graça Foster. Sigamos.
A Time sempre convida alguma personalidade para escrever uma minibiografia dos eleitos. A de Dilma é assinada pela presidente da Argentina, Cristina Kirchner — a Neovermelha da Casa Rosada. O artigo original está aqui.
Cristina abre o texto comentando a já famosa foto em que Dilma, presa, participa de uma auditoria militar. Os militares escondem o rosto com as mãos. Para Cristina, era a Dilma quem exibia o ar de desafio, acusando, então seus acusadores. Dá curso à fantasia criada pelos “dilmófilos” no Brasil segundo a qual os próprios militares estariam com vergonha de seu ato. É uma bobagem monumental! É ler o passado com os olhos do presente. Aquela não era uma sessão clandestina de tortura, tanto que estava sendo documentada. Eles escondiam o rosto por medo mesmo. Sabiam que corriam o risco de ser assassinados pelos grupos de extrema esquerda se a foto fosse tornada pública. E sem julgamento ou auditoria…
Cristina emenda: “A mulher que conheci em 2003, quando ela se tornou ministra do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tem o mesmo compromisso da menina da fato”. Tamara que não! A menina da fato lutava para instaurar uma ditadura comunista no Brasil. Dilma jurou defender a Constituição democrática.
Sabem como é… Cristina é quem é… E sempre será uma questão controversa, para os argentinos ao menos, decidir quem foi o melhor: Pelé ou Maradona. No momento, diga-se, eles querem desbancar Pelé com Messi, que atua na Espanha; Mas não por muito tempo se depender de Cristina e de seu garotão de costeletas grandes, o tal Axel Kicillof (ver post desta manhã)… A dupla pensa em enviar a Barcelona um comando especial para resgatar o jogador argentino. Kicillof já avisou: não pagarão um centavo pela “nacionalização” de Messi. Ele já sabe como explicar a decisão: dando um murro na mesa e chamando todo mundo de imbecil. Mas volto.
Com essa mania de jamais querer ficar atrás, de nunca perder para os “macaquitos”, Cristiana resolveu ombrear a sua própria biografia com a de Dilma. Segundo ela, ambas compartilham “muitas experiências pessoais”, a saber: a herança imigrante, o ativismo, a militância juvenil e, claro, o desafios próprios das mulheres que “tentam crescer num espaço dominado por homens”. A presidente argentina estava dizendo que Dilma foi escolhida o Pelé da turma, mas que ela é Maradona… Não há um só registro de que Cristina ou Néstor tenham arriscado um fio de cabelo na luta contra a ditadura do seu país — de uma brutalidade assombrosa: 30 mil mortos. O casal começou a fazer fortuna atuando na advocacia. Mas a condição de milionários graúdos só veio mesmo com a política, especialmente depois que Néstor chegou à Presidência.
Cristina encerra seu texto de forma meio marota. Diz que, historicamente, o interesse de cada país da América Latina era sempre usado contra o do vizinho — inferindo, entendo, que isso concorreria para a desunião do continente. Agora, diz a Neovermelha da Casa Rosada, sob a liderança de Dilma, “vemos um Brasil convencido de que o interesse nacional está absolutamente ligado aos interesses de seus vizinhos”.
Huuummm…
Quando dá na telha, os argentinos impõem taxas a produtos brasileiros e mandam princípios do Mercosul às favas. Cristina e seu garotão das costeletas grandes simplesmente cancelaram uma concessão da Petrobras para exploração de petróleo. E passaram, vejam só, a cobrar mais investimento da empresa brasileira no país.
Cristina Kirchner assina, enfim, um perfil de Dilma para falar bem de si mesma e para defender ações de seu governo que lembram atos de pistolagem internacional.
18 de abril de 2012
reinaldo azevedo
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