"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 4 de maio de 2012

O TERROR ISLÂMICO UM ANOS APÓS A MORTE DE BIN LADEN


O chefe terrorista foi eliminado, porém sua organização continuou intacta.

Ao cabo de uma década de incessante procura dentro do hostil entorno islâmico extremista, unidades das Forças Especiais da Marinha dos Estados Unidos abateram Osama Bin Laden, cabeça principal da Al-Qaeda, responsável pelos ataques terroristas contra os Estados Unidos em 11 de setembro de 2001, e o delinqüente mais procurado do mundo.

A notícia captou a atenção dos meios de comunicação do mundo e produziu todo tipo de suposições a respeito da previsível reação dos terroristas contra interesses vitais dos Estados Unidos e, por extensão, das democracias ocidentais e Israel.


A maior parte das análises se enfocaram em eventuais retaliações e prováveis cursos de ação dos sucessores de Bin Laden. Poucos enfoques analíticos abordaram o tema de qual seria a conduta político-estratégica e suas conseqüências da linha operacional militar do Pentágono contra milhares de células adormecidas da rede terrorista dispersas pelo globo terrestre, empenhadas em criar o grande califado salafista, destinado a esmagar os infiéis ocidentais e os apóstatas muçulmanos, com a circunstância agravante que desde há anos eles tecem contatos com as FARC e com os governos pró-terroristas do hemisfério ocidental.


1. Cinematográfica incursão aero-terrestre


O ataque surpresa dos Navy Seals foi precedido por um minucioso e caro trabalho de inteligência militar que incluiu emprego de sofisticada tecnologia de ponta para interceptar comunicações, verificar movimentos migratórios de terroristas identificados, infiltração de agentes de inteligência nas células da Al-Qaeda incrustadas no território norte-americano, filmagens de alta resolução como mini-câmeras de vídeo, emprego de satélites e emprego de grupos humanos de reconhecimento, observação e análise em terra sobre objetivos de alto valor estratégico.


Confirmada e re-confirmada a informação do esconderijo de Bin Laden, as tropas que realizaram o assalto aero-tático sobre a mansão onde se refugiava o chefe terrorista foram transportadas em helicópteros de última geração, adequados para se esquivar da vigilância de radares, minimizar o ruído das pás durante a aproximação, além de estar recobertos com uma camada de pintura que os tornava quase imperceptíveis para a observação anti-aérea.
A ação no objetivo foi rápida, contundente e demolidora.
Em poucos minutos os comandos terrestres desceram por cordas sobre o objetivo, destruíram um dos helicópteros em que chegaram ao local, localizaram e deram baixa em Bin Laden, tiraram seu cadáver e saíram do Paquistão sem ser detectados nem interceptados pelas unidades de defesa anti-aérea e segurança nacional paquistanesas.


Realizada a confirmação científica do DNA de Bin Laden, comedido e direto Barack Obama notificou ao mundo inteiro de que tropas de seu país haviam abatido o terrorista mais procurado e mais perigoso do mundo.
Nesta incursão, os Navy Seals combinaram com absoluta precisão os princípios universais da guerra, com ênfase especial no Objetivo, na Unidade de Comando, na Surpresa e nas medidas de segurança.


Sem dúvida, a Operação Jerônimo é uma incursão aero-terrestre paradigmática na guerra contra o terrorismo islâmico e um referendário ao iniciado por Israel e Colômbia com métodos de defesa ativa ao traspassar fronteiras para golpear estruturas protegidas por governantes de dupla moral, que no futuro se repetirão estas e outras ações audazes contra os terroristas em qualquer lugar do globo terrestre.


2. Paquistão no olho do furacão


A ação militar de surpresa que culminou com a morte de Bin Laden em Abbutabad, teve como cenário os arredores de um complexo militar paquistanês exclusivo, dentro do qual os influentes serviços de inteligência desse país (ISI) exercem especial controle e influência, situação que demonstrou cumplicidade das elites das Forças Armadas paquistanesas com a rede Al-Qaeda, e confirmou as suspeitas que a CIA tinha deles quando decidiu infiltrá-los para chegar ao grande objetivo.


Embora por razões óbvias o governo paquistanês negou qualquer cordão umbilical com a rede extremista islâmica, com habilidoso engenho o alto comando militar norte-americano destacado no Afeganistão, a Agência Central de Inteligência (CIA) e a Casa Branca, fingiram acreditar na suposta inocência e boa-fé do governo do Paquistão.


Com base na importante documentação apreendida em Abbutabad, em vez de reduzir a pressão militar, as forças norte-americanas incrementaram os ataques com aviões não-tripulados conhecidos como “drones”, contra epicentros-chaves da Al-Qaeda localizados dentro do território paquistanês.


Para o efeito e sendo do conhecimento de todos que parte desses recursos podem chegar às células da Al-Qaeda, o governo Barack Obama manteve a vultosa ajuda militar ao Paquistão, a partir do compromisso do governo de Islamabad de combater o terrorismo e intercambiar com os Estados Unidos informação sensível relacionada com as células da Al-Qaeda.
No terreno dos acontecimentos, a situação foi tensa e de mútua desconfiança. Reflexo desta situação foi o confuso ataque da aviação norte-americana contra a unidade militar paquistanesa acantonada na zona fronteiriça com o Afeganistão, na qual morreram 23 soldados paquistaneses.


O escasso espaço de manobra que o Paquistão tem a respeito, lhe granjeou dificuldades de governabilidade com setores extremistas que acobertam a Al-Qaeda, fortes dissensões internas entre os que apóiam a política exterior paquistanesa encabeçada por extremistas incrustados no ISI que são seguidores de Bin Laden, e o amplo espaço de trânsito que têm os integrantes de Haggani para desenvolver o processo revolucionário de recrutamento, doutrinamento e envio de células terroristas a diversas partes do mundo.


3. Presença ativa da Al-Qaeda no Afeganistão, Iêmen, Somália e Iraque


Em que pese a morte de Osama Bin Laden e de outros cabeças, as células salafistas da Al-Qaeda multiplicaram-se no Afeganistão, Iêmen, Somália e Iraque, e inclusive conquistaram maior apoio de islâmicos filhos de muçulmanos nascidos no Reino Unido, Espanha, França, Alemanha, Canadá, Austrália e Estados Unidos.


Forçado pelas circunstâncias, o governo de Barack Obama tomou decisões militares transcendentais contra o terrorismo islâmico, em razão de que ele é financiado em boa parte pelo narcotráfico e a lavagem de dinheiro, que contrastam com a visão pacifista dos Estados Unidos ao resto do mundo, e com a politizada distinção de Prêmio Nobel da Paz quando nem sequer havia completado um ano na Casa Branca, e tampouco havia acumulado algum mérito excepcional para recebê-lo.


O emprego dos drones para bombardear santuários terroristas no Paquistão, Iêmen, Iraque, Somália e Afeganistão, produziram resultados militares positivos às Forças Militares dos Estados Unidos, porém não em todos os casos favorabilidade à política exterior de Washington, devido aos danos colaterais causados à população civil e às conseqüentes fricções com os governos dos países afetados.


A tolerância com o ditador iemene Alí Abdulah Saleh, devido a que era um aliado na guerra contra a Al-Qaeda, em que pese as atrocidades que ele cometeu contra seu povo em plena “primavera árabe”, deixou uma vez mais em dúvida a imagem do governo dos Estados Unidos ante a comunidade islâmica e ante o resto do mundo.


4. Conduta calculadora da Al-Qaeda junto com a “primavera árabe”


Devido à aproximação de alguns membros da Irmandade Muçulmana com a Al-Qaeda, algumas de suas células inseridas no Magreb, Egito, Síria e Yemen, trabalham intensamente para tirar vantagens políticas e religiosas da cascata de revoluções.
Seu projeto geopolítico, geoestratégico e de universalização do Islam extremista continua de pé. Por esta razão Nigéria, Somália, Quênia, Tanzânia, Argélia, Líbia, Marrocos, a “república Tuareg” e Mali estão na mira.


A incapacidade do governo democrático de Mali para combater as guerrilhas independentistas do norte do país, ligadas cultural e sentimentalmente à etnia tuareg e com amplos nexos com o derrocado regime líbio de Kadafi, que dotou-os com armas de alta importância para a guerra irregular, porém infiltradas até a medula pelas células salafistas da Al-Qaeda, ocasionou um golpe de Estado propiciado por jovens militares patriotas.


De imediato, a comunidade africana apoiada pela Europa e Estados Unidos bloqueou o regime golpista que limitado em seu espaço de manobra conduziu o país ao caos, e a imediata declaração de independência de Mali do Norte governado por elementos afins à Al-Qaeda.
Por sua parte, os piratas somalis e as células terroristas que assediam o Quênia são orientados e estimulados pela Al-Qaeda, junto com o trabalho proselitista permanente nos demais países muçulmanos.


5. Os Estados Unidos são o objetivo principal e o primeiro da lista


Embora os serviços de segurança nacional dos Estados Unidos tenham melhorado a capacidade de prevenir atentados terroristas ao detectar as células e impedir os ataques, isto não significa que o nível da ameaça tenha se reduzido nem muito menos que a Al-Qaeda tenha mudado de objetivos.


Nesse sentido, qualquer indício ou sinal que implique a possibilidade ou a atenção de um ataque terrorista, demanda reação imediata das autoridades norte-americanas e a imediata reação para defender seus interesses dentro e fora do país.


Os documentos apreendidos de Osama Bin Laden em Abbutabad indicam a intenção da Al-Qaeda de atacar com contundência similar ou superior à de 11 de setembro de 2001, o sistema de transporte ferroviário de pessoas e cargas, as linhas aéras comerciais, a sede do governo federal em Washington, o downtown de Manhattan em Nova Iorque, os principais aeroportos do país, e em geral tudo aquilo que implique danos de alta importância ao odiado império capitalista.


Por razões óbvias, o governo federal convida a conservar a calma e a aceitar que as situações estão controladas, porém os funcionários encarregados de verificar as medidas de segurança recebem elevadas cargas de pressão para cumprir seu trabalho e impedir que de uma ou outra forma os terroristas consigam seu intento.


6. O tenso ambiente geopolítico mundial facilita o terrorismo islâmico


São muitas e variadas as ocupações que a Casa Branca encara para enfrentar com êxito o terrorismo islâmico, o narcoterror comunista na América Latina, a crise econômica mundial, a “primavera árabe” e as dificuldades de seus aliados, as ameaças nucleares do Irã e da Coréia do Norte, a dupla moral da China e da Rússia, a sinuosidade das relações internacionais com a Europa Ocidental e a marcada dependência da África dos apoios econômicos que os Estados Unidos oferecem ao empobrecido continente.


Desde a época da Guerra Fria, o governo dos Estados Unidos têm enfrentado uma onda de propaganda e desprestígio, às vezes com razão outras sem ela, contra o que significa a poderosa nação americana no fluxo de interações com os demais países, em especial os muçulmanos e o terceiro mundo, onde tem florescido o ódio e a violência contra o capitalismo.
Nesse entorno é lógico deduzir que em amplos cenários do delito permeados por narcotráfico, tráfico de armas e lavagem de dinheiro, o terrorismo islâmico da Al-Qaeda, Hizbolah e Hamas, ou o terrorismo comunista das FARC, os inimigos declarados dos Estados Unidos, auspiciados ou respaldados por governos anti-yankees como Cuba, Venezuela, Equador, Bolívia, Irã, Coréia do Norte e outros, sigam imersos nos conteúdos de seus planos estratégicos de guerra revolucionária comunista ou de revolução extremista religiosa, para destruir a civilização ocidental que os Estados Unidos encabeçam.


Os atentados terroristas ocorridos depois da morte de Osama Bin Laden em países como Afeganistão, Paquistão, França, Indonésia, Egito, Iêmen, Somália, Quênia, Iraque, o Cáucaso e outros pontos, assim como o imparável tráfico de armas de combate tipo infantaria e a crescente indústria do narcotráfico, inferem que a guerra contra o terrorismo até agora está em uma etapa primária, que a luta contra as drogas é a primeira prioridade internacional, e que por se tratar de sérias agressões contra o destino da humanidade, a resposta contra o terrorismo internacional deve ser articulada e conjunta.


Eis aí a mais crua conclusão um ano depois da morte de Osama Bin Laden. O chefe terrorista foi eliminado, porém sua organização continuou intacta, sem que os governos do Paquistão, Afeganistão, Síria, Egito, Líbia e os demais afetados tenham tomado as medidas de fundo para combater e neutralizar milhares de células clandestinas da Al-Qaeda.
No momento a guerra contra o terrorismo continua e deve ser combatida com maior veemência do que o feito até agora. Do contrário, o problema persistirá.

Escrito por Cel. Luis Alberto Villamarín Pulido
Tradução: Graça Salgueiro

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