Artigos - Cultura
Ouvimos certos pseudo-sábios do ateísmo afirmando que os religiosos são menos inteligentes do que os ateus, embasados em supérfluas e duvidosas “evidencias científicas”. Entretanto, eles não nos citam um Santo Tomás, um Santo Agostinho ou mesmo um Bach, Palestrina ou Josquin des Près que tenha sido ateu.
Intriga-me o atual ódio ao cristianismo. Às vezes me pergunto se há uma crise geral de estupidez, de ignorância ou um sentimento profundo de desprezo ao bem, ao belo e à virtude para se odiar a grandeza desta religião. Digo ignorância e estupidez, porque a grande maioria daqueles que dizem criticar o cristianismo mal conhecem a sua essência, a sua história e seus propósitos.
Quando vejo a tal “militância atéia”, esquerdista ou secularista, falando absurdos sobre os cristãos, noto que não criticam a religião, mas um espantalho, uma caricatura, uma imagem falsa; criticam algo que o cristianismo nunca foi. Na verdade, os inimigos do cristianismo forjaram um falso estereótipo para atacar. Talvez porque atacar o cristianismo de verdade é outro departamento, outra dimensão, e se realmente atacassem o que é o cristianismo na prática, não conseguiriam derrotá-lo.
A propaganda anticristã que se vê na internet, nas universidades, nas escolas e na imprensa, repetida à exaustão ao povo, envenenando-o, está criando toda uma atmosfera de ódio contra a civilização. Sim, o cristianismo é a civilização por excelência, que modelou costumes, moral, direito, filosofia, artes, arquitetura, música, pintura, instituições políticas. Somos o que somos por conta da fé cristã. Todavia, tudo que os maliciosos e ignorantes dizem é que a Cristandade foi uma “idade das trevas”, uma nomenclatura vergonhosamente idiota, que felizmente, apesar de tudo, está sendo cada vez mais desmistificada por historiadores sérios.
A civilização cristã não é perfeita. O ser humano não é perfeito. Dentro desta sociedade se cometeu erros, mazelas e muitas injustiças. Porém, o que se vê é que se criticou como regra algo que foi historicamente acidental, como se o cristianismo fosse o mal em si.
A religião que prega o amor universal, a justiça divina e a redenção da humanidade não pode ser responsabilizada se muitos dos seus seguidores fugiram de seus princípios. Ademais, é do cristianismo reconhecer as culpas da humanidade pecadora e redimi-la.
Quando a manada secularista cataloga a Inquisição, as cruzadas, as guerras de religião e reverbera outras críticas capciosas, sempre precisa descontextualizar a época, simplificá-la, deturpá-la, como se a história obedecesse a esquemas mentais de cartilhas de história do MEC.
Na verdade, é o que mais se percebe: o que se convencionou chamar “história”, tanto nas universidades, como principalmente nas escolas brasileiras, é, com honrosas exceções, uma mera patacoada ideológica do Estado. Um vendaval de mentirinhas didáticas, mastigadas, para idiotizar uma geração inteira.
Com certeza, o Estado brasileiro está longe de qualquer vínculo com o cristianismo. Ou melhor, o atual governo brasileiro demonstra, embora não abertamente, odiá-lo. Não me escandalizei quando escutava da boca de um professor de história, a tolice vaidosa de citar apenas livros de segundo grau, como expressão da mais alta cultura. Inclusive, ele achava que eu estava mentindo, porque meus conhecimentos não se adequavam ao horizonte mental estreito de suas leituras.
Não me escandalizei porque era perfeitamente previsível. Com tipos deste nível dando aulas, é claro que o cristianismo será objeto de ódio. Até porque para se descobrir a profundidade histórica e cultural desta religião é preciso estudar. A minha única teimosia (e por que não, reconheço, minha estupidez) foi discutir com ele.
A história é, por natureza, complexa. A civilização, como diz a palavra, é civitas, é interação entre os homens, compartilhamento de idéias e, também, conflitos. Eis o grande problema quando se discute historicamente a religião cristã. Particularmente é difícil debater com uma turba de indivíduos estúpidos, presunçosos e ignorantes, cuja única fonte de conhecimento é o ensinamento da escola ou da universidade. Ou mais, como também é comum, fontes viciadas de internet.
Na verdade, são incapazes de conferir fontes originais, referências, bibliografias. Tudo o que resta é um apego incondicional a um discurso irracional de ódio.
Como se sabe que só em nosso país, 38% dos alunos universitários sofrem de um grave problema de analfabetismo funcional, aí podemos entender que tipo de derrota nos espera. Ora, só há um debate quando tanto o debatedor, como os ouvintes, são capazes de entender o que está sendo discutido. Se não houver equiparação ou entendimento mínimo necessário para as partes, aí só resta pregar ao vento. Ou como na caricatura de Albrecht Dürer, tornar-se um néscio a pregar aos porcos.
Não é por acaso que ouvimos certos pseudosábios do ateísmo afirmando que os religiosos são menos inteligentes do que os ateus, embasados em supérfluas e duvidosas “evidencias científicas”.
Entretanto, eles não nos citam um Santo Tomás, um Santo Agostinho ou mesmo um Bach, Palestrina ou Josquin des Près que tenha sido ateu. Aí só resta a declaração patética, saída da boca de um destes ignorantes, de que o sinônimo da música “grandiosa” inspirada pelo ateísmo seria Imagine de John Lennon. Tal é a “elevada” cultura intelectual e musical do secularismo militante!
Outros citam dublês de filósofos, como Sam Harris, e dublês de cientistas, como Richard Dawkins. Ainda me lembro de uma amiga, que dizia, tal como uma devota, que Dawkins era idolatrado na universidade onde ela fazia o mestrado. Como se as credenciais de um estudioso fossem produtos de uma autoridade coletiva ou institucional, e não intelectual. Como a universidade dela, atualmente, é um verdadeiro hospício de idéias, pregando as mais monstruosas engenharias sociais, essa autoridade coletiva não conta. Convém dizer, nunca contou. Prefiro a autoridade da razão do que a razão da autoridade.
Recentemente chegou a mim a coleção de dez volumes do historiador francês Daniel Rops, sobre a História da Igreja de Cristo.Também comprei O Diário da Felicidade, um interessante diário do monge ortodoxo romeno Nicolae Steinhardt. Sobre Rops, quem tiver a felicidade de ler os dez volumes, vai descobrir a profunda riqueza intelectual e civilizacional que o cristianismo representou, não somente na história ocidental, como também na história mundial.
Os desafios, os conflitos, os enfrentamentos, as tragédias, como também a grandeza espiritual e intelectual da religião que moveu homens de várias culturas e origens diferentes, dá ao cristianismo um status de romance de Deus. Como a Bíblia, a história do cristianismo prossegue o legado das Escrituras. Os seus frutos. As suas ações.
Já a obra do monge Steinhardt dá continuidade a outra tradição literária, que remonta a Agostinho: a da confissão. Confissão esta que é um sacramento também da Igreja Católica e Ortodoxa.
Em particular, essa história confessional deve ser contada: Steinhardt, judeu de nascimento, converte-se a fé cristã, nos porões da ditadura do sanguinário Nicolae Ceaucescu.
O cristianismo consegue sobreviver nas catacumbas e nos campos de concentração comunistas. A cultura elevada sobrevive até nas adversidades. Pensar que este homem foi catequizado na cadeia é um grande sinal de força, de vigor intelectual, a despeito da loucura ao redor.
Folheei a obra, encantado com a cultura espantosa do romeno. Era um homem de erudição tão completa, que se ele chegasse ao Brasil, nós o receberíamos como uma sociedade de bárbaros, de botocudos. Sinceramente, dificilmente conheceria alguém com tanto conhecimento, em qualquer universidade brasileira. Talvez nem exista mesmo. E isto porque se fala de um país muito pobre, bem mais pobre do que o Brasil e que sofreu os horrores tanto do nazismo como do comunismo.
Escrever o Diário da Felicidade, num país culturalmente destruído pelo totalitarismo é mais do que força intelectual, é um ato de fé. E lembremos, pois, que o manuscrito foi confiscado várias vezes pela Securitate, a temível polícia política do regime comunista.
Talvez isso explique o porquê da alta cultura em alguns países do Leste Europeu ter sobrevivido, a despeito da ideologia imbecilizante do socialismo. Em particular, a fé cristã virou a fortaleza dos mártires e a resistência da erudição tradicional contra a ideologia estéril, medíocre e fake do socialismo. Se a cultura dos mosteiros resistiu à ação dos bárbaros de outrora, na Alta Idade Média, por que não sobreviveria ao barbarismo bolchevique, que assolou e destruiu uma boa parte da Europa e do mundo?
Infelizmente, o Brasil se afasta de suas origens cristãs. E perde com isso, a sua fortaleza. Está se vivenciando uma era de totalitarismo cultural. O país se idiotiza, se fragmenta e se rebaixa, numa completa desmoralização da moral e do livre pensamento. As humanidades ensinadas nas universidades são um arremedo deformado de idéias estúpidas.
As escolas são fábricas de doutrinação ideológica marxista descarada. As leis são feitas para a implantação de um Estado totalitário. E a demência socialista se impregna nos costumes e instituições, subvertendo-as. Se a Romênia comunista teve Steinhardt, o máximo que se tem no Brasil são as Ágapes da vida, a religiosidade medíocre dos marcelos rossis, fábios de melo e oportunistas embusteiros como os gabrieis chalitas da vida.
É claro que a campanha secularista só tem a ganhar com isso. Sem o norte moral e intelectual de um clero autêntico, a Igreja Católica se torna apenas uma vertigem daquilo que é. É necessário tocar fogo nos espantalhos, para mostrar o verdadeiro valor de nossa fé e tradição.
13 de agosto de 2012
Leonardo Bruno
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