Há uma pergunta que não quer calar: como fica o PT travestido de defensor do mensalão? Porque aos advogados dos mensaleiros, nada a opor. Cumprem função profissional, mesmo tapando o nariz e enchendo o bolso. Mas do partido que um dia se disse diferente, guardião da ética, artífice de transformações sócio-econômicas e crítico da corrupção, como justificar posicionar-se em favor do maior escândalo político jamais registrado na história da República?
Será que a preservação do poder vale tanto? Ou estarão, os companheiros, imaginando garantir o futuro pela adesão, no presente, às práticas que renegavam? Terá tudo começado após a eleição do Lula ou o germe já se encontrava inoculado desde antes? Porque passam recibo em posturas contra as quais se insurgiram quando de sua fundação?
Tanto faz, mas a verdade é que o vexame de os petistas virem a público defender o indefensável exprime um partido irrecuperável. Um grupo cuja máscara acaba de cair da face, revelando características que nem seus piores adversários ousavam mostrar.
É triste para quantos se empolgaram com a criação abençoada pela Igreja e sustentada pela intelectualidade ávida de transformar o país. Pior ainda para os operários confiantes nas mudanças sociais sonhadas em meio ao pior dos pesadelos, tanto os da ditadura militar quantos os do neoliberalismo imposto pelas elites.
O mensalão surge como epitáfio para mais um aglomerado de boas intenções. Não dá para entender como o PT, nas últimas semanas, lança-se na sustentação de Dirceus, Delúbios, Valérios e companhia, já condenados no tribunal das ruas e prestes a receber sentenças da justiça institucionalizada. Pior será se os réus não forem punidos à altura de seus crimes. Nessa hipótese, mais instituições ficarão desmoralizadas, ainda que hoje valha à pena cuidar apenas da partidária.
Desfaz-se a ideologia desse novo Terceiro Reich de Mil Anos, condenado a não durar sequer o tempo do antecessor. De 1933 a 1945 foi tudo para o precipício, mas de 2005 até agora, está indo tudo para o espaço...
OS MALES DA REELEIÇÃO
Este ano não dá mais. Em 2013, muito menos. Mas seria bom que o país, recomposto ou confirmado nas urnas de 2014, tomasse coragem para extirpar o segundo maior escândalo da história recente.
O primeiro foi o mensalão, ainda inconcluso, mas o seguinte foi a reeleição, arrancada do Congresso a preço de ouro.
Apesar de curta a memória nacional, será necessário lembrar que Fernando Henrique Cardoso foi eleito para permanecer quatro anos no governo, tendo ficado oito por patrocinar a mudança nas regras do jogo depois dele começado. Nada diferente dos sucessivos casuísmos praticados pelos governos militares. Os generais iam perder as eleições diretas? Impuseram as indiretas.
Da mesma forma, diante da perspectiva de deixar o poder, os neoliberais compraram com favores e com dinheiro vivo o direito de um governante disputar novo mandato, sem deixar o governo. Uma farsa prolongada até hoje pelos companheiros, que para o bem de todos e felicidade geral da nação precisa ser extirpada.
Que o próximo Congresso tenha a coragem de acabar com a reeleição, mesmo se necessário ampliar os mandatos presidenciais de quatro para seis anos. Mas só a partir de quem for eleito em 2018, quando nem se sabe se o planeta existirá ou terá explodido...
EXPLOSÕES PRESIDENCIAIS
Por falar em explosões, vai uma de tempos anteriores. O avião presidencial era um BAC-One Eleven, que de tão pouca autonomia, costumava aterrissar no aeroporto Santos Dumont, no Rio. Certa tarde o presidente Costa e Silva e sua comitiva preparavam-se para descer na antiga capital quando uma súbita ventania susteve a aeronave por alguns metros antes da pista, levando o trem de pouso a esbarrar nas pedras anteriores à cabeceira.
Trancos, barulhos inusitados, mas, felizmente, uma descida “de barriga” sem maiores conseqüências.
O chefe da segurança exigiu que todos desembarcassem como numa maratona olímpica, mandando que corressem a mais não poder, pois o avião poderia explodir. Costa e Silva desceu a escadinha e tomava a passo normal o rumo da estação de passageiros quando o coronel gritou pela terceira vez “corra, presidente, o avião vai explodir!” O velho parou, emperdigou-se e calou o auxiliar ao dizer: “um presidente explode mas não corre!”
A historinha se conta, figuradamente, a propósito de certos auxiliares da presidente Dilma que sugerem deva ela aplicar medidas de exceção para debelar a greve no funcionalismo público...
CERTOS, MAS NEM TANTO...
A propósito das informações de que a presidente Dilma teria cedido ao PMDB e aceitado as candidaturas de Henrique Eduardo Alves para presidente da Câmara e de Renan Calheiros para presidente do Senado, vale o comentário de um ministro, por sinal peemedebista:
“alguém já ouviu uma palavra dela, contra ou a favor?”
Pois é. Colocar o carro adiante dos bois geralmente não funciona.
13 de agosto de 2012
Carlos Chagas
Nenhum comentário:
Postar um comentário