"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 26 de agosto de 2012

TÁ TUDO DOMINADO...

 



As transações entre o Banco do Brasil, seu ex-diretor Henrique Pizzolato, a Visanet e o publicitário Marcos Valério - incluindo os embaraçosos
R$ 326 mil em espécie - colocaram o BB no olho do furacão
 
No julgamento do mensalão, além de se comprovar o uso de dinheiro público pelo esquema, escancararam-se os métodos inescrupulosos do PT na ocupação dos negócios de Estado.

E o PT não poupou seara alguma, nem mesmo a instituição bicentenária.
Nos últimos nove anos, o Banco do Brasil sofreu duros golpes.

Com diretorias ocupadas por sindicalistas desde que Lula chegou ao Planalto, patrocinou até festas petistas.

E foi tatame de lutas fraticidas, envolvendo também a Previ.

Em comum, BB e Previ administram dinheiro a rodo.


Fora do foco do mensalão, ministérios e estatais puras ou mistas foram portas de entrada de companheiros e aliados e de saída de recursos não contabilizados.

Foi assim nos Transportes, na Agricultura, no Turismo, no Esporte, nos Correios, na Valec...

E há o déficit de competência.

Na Petrobrás, por exemplo, a interferência obsessiva do governo acabou por criar um monstro.

Em nota do colunista Ancelmo Góes, o consultor Adriano Pires revela que entre 2002 e 2010 a empresa ampliou o número de servidores concursados em 75% e o de terceirizados em 175%.

Léguas de distância dos 45% de crescimento da produção de petróleo.

Esquizofrênico, mesmo quando convoca a iniciativa privada reconhecendo que não tem gás para cuidar dos gargalos da infraestrutura do país, o governo cria novas estatais.

Só neste mês foram duas: a Amazônia Azul Tecnologias de Defesa (Amazul), para construir o submarino nuclear nacional, e a Empresa de Planejamento e Logística (EPL).

A EPL é um caso curiosíssimo.

Criada por medida provisória, ela pode tudo e muito mais. Além de estradas e ferrovias, o texto amplo permite que ela se meta em outros modais, como portos.

Tem poderes para virar sócia e para prestar consultorias às potenciais compradoras. Verdadeira sopa no mel.

Para presidir a 127ª estatal brasileira, a presidente Dilma Rousseff não teve constrangimento em nomear o economista Bernardo Figueiredo. O mesmo que o Senado rejeitou para a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), em março deste ano.

A revanche da presidente parece traquinagem, mas não é.

Em um país em que até o Banco Central se sujeita às vontades do Executivo e o BNDES, maior banco de fomento da América Latina, financia preferencialmente amigos do poder, sabe-se que tudo está dominado.

Ao julgar o mensalão, independentemente do desfecho, a Suprema Corte começa a jogar luzes sobre essas trevas.

 
Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília.
26 de agosto de 2012

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