Reportagem de VEJA desta semana mostra como o prefeito Antônio Cordeiro, acusado de desviar recursos dos cofres municipais, pede votos
TEMPO REAL - Toninho, sua tornozeleira e o monitoramento da PF: ele estava em Brasília (Cristiano Mariz/Rodrigo Oliveira)
Um passo à frente, por favor, Toninho Tornozeleira. A população de Coração de Jesus, município no norte de Minas Gerais, assim apelidou o seu prefeito, Antônio Cordeiro (PSDC). Candidato à reeleição, ele foi afastado do cargo por denúncias de corrupção e, desde a semana passada, é obrigado pela Justiça a andar com uma tornozeleira eletrônica - aquele acessório destinado a evitar que criminosos que escaparam por pouco da prisão escapem também do radar da polícia.
A PF descobriu, em junho, que um esquema atribuído a Toninho surrupiou 2,7 milhões de reais de verbas federais destinadas à prefeitura. O dinheiro vinha de dois convênios com o Ministério da Integração Nacional. Um contrato, de 2009, destinou 1,2 milhão de reais à reconstrução de uma ponte e à reforma de duas barragens.
Outro, de 2010, no valor de 1,5 milhão de reais, previa a recuperação de 100 quilômetros de estradas vicinais. Segundo a polícia, nenhuma obra foi realizada, e o dinheiro acabou repartido entre Toninho, o contador da prefeitura (seu atual candidato a vice), o secretário municipal de Transportes e os donos das duas construtoras que venceram as licitações fraudulentas.
Cada um teria amealhado 540 000 reais. Durante a investigação, servidores e empresários disseram que estavam sendo ameaçados pelo grupo do prefeito para mentir nos depoimentos e negar os desvios. A PF pediu, então, a prisão dos envolvidos.
A Justiça rejeitou a solicitação, mas impôs medidas alternativas: afastou Toninho e os dois assessores dos cargos, mandou-os ficar a pelo menos 100 metros da prefeitura e proibiu o contato entre eles.
Para verificar se as ordens estão sendo cumpridas, determinou que os três utilizem tornozeleiras eletrônicas - monitoradas em tempo real na tela dos computadores da PF. Se alguma condição for violada, um alerta será disparado automaticamente - e o infrator pode ir para a cadeia.
O monitoramento não tem prazo estabelecido. A Justiça decretou o uso do equipamento até o fim das investigações, ainda sem previsão de conclusão. Toninho Tornozeleira nega todas as acusações: "Sou vítima da maior perseguição política da história do Brasil". Enquanto isso, o prefeito afastado tenta reverter a decisão por conta própria.
Depois de cruzar 500 quilômetros de estrada, passou a última semana inteira em Brasília, articulando com amigos e apoiadores o fim do seu "constrangimento", como ele diz. Sobre isso, afirma o delegado da PF Marcelo Freitas: "O político deveria ficar constrangido por roubar dinheiro público, não por usar uma tornozeleira". E a galeria cresce...
02 de setembro de 2012
Marcelo Sperandio, Veja
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