Uma contribuição à memória na semana em que Dirceu começa a ser julgado: assessor e carregador de malas do réu do mensalão tinha autorização para sacar dinheiro da conta de Valério no Banco Rural
Por Reinaldo Azevedo
Por Reinaldo Azevedo
Pois é… Na semana em que José Dirceu começa a ser julgado no Supremo, cumpre lembrar uma reportagem da VEJA publicada no dia 3 de agosto de 2005. Sabem quem tinha uma autorização para sacar dinheiro da conta de Marcos Valério no Banco Rural? Um senhor chamado Bob Marques. E quem era Bob Marques? Assessor direto de José Dirceu e, literalmente, seu carregador de malas. O tal saque, descobriu-se depois, acabou sendo feito por outra pessoa. Naquele caso ao menos, o Bob não fez uso do tal documento. Mas tinha, sim, a autorização, o que era certamente uma coincidência… Alguém deve ter cometido um erro e, sem querer, acabou emitindo a autorização em nome do assessor de Dirceu, acertando em cheio até o número de seu documento! Há coincidências que só acontecem com petistas.
Leiam a reportagem, intitulada “Aonde Dirceu vai, o Bob vai atrás”. O assessor recorreu à Justiça para receber da VEJA R$ 100 mil de indenização por danos morais. O pedido foi negado pelo juiz Manoel Luiz Ribeiro, da 3ª Vara Cível do Foro Regional de Pinheiros, na capital paulista (aqui a está a decisão).
Segue a reportagem.
Não foi só o depoimento de Renilda Santiago que colocou o ex-ministro José Dirceu no epicentro do escândalo do mensalão. Um documento, apreendido pela Polícia Federal na agência do Banco Rural em Belo Horizonte, revela que, entre as pessoas autorizadas a sacar dinheiro das contas do publicitário Marcos Valério, estava um dos principais ajudantes de Dirceu, Roberto Marques, conhecido como “Bob”, que cuida da agenda e das contas do ex-chefe da Casa Civil. A descoberta surpreendeu a bancada petista na CPI dos Correios e provocou frisson entre os oposicionistas, que vêem no documento em poder da comissão o mais forte indício até agora da ligação de Dirceu com o esquema irregular de arrecadação de fundos. O documento, um fax com papel timbrado do Banco Rural, foi enviado à agência de São Paulo no dia 15 de junho do ano passado. Nele, um funcionário da agência mineira encaminha ao colega da Avenida Paulista uma autorização para o “sr. Roberto Marques receber a quantia de 50.000, referente ao cheque 414270, da empresa SMPB Comunicação”.
Os membros da CPI já sabem que, apesar da autorização dada ao ajudante de Dirceu, o saque foi feito no dia seguinte por Luiz Carlos Mazano, contador da corretora Bonus-Banval, que também estava autorizado a realizá-lo. A corretora informou que realmente tem um funcionário com esse nome, mas que o saque teria sido feito por um homônimo. O advogado da corretora, Antônio Sérgio Pitombo, vê armação. “Quando se associa o homônimo à corretora, o que se quer é agir de má-fé e desviar o foco das investigações da CPI”, diz. Não é a primeira vez que o nome da Bonus-Banval aparece na investigação do escândalo do mensalão. Em Brasília, as investigações identificaram saques no valor de 225.000 reais cujo autor é Benoni Nascimento de Moura, funcionário da Banval. A corretora diz que está realizando uma auditoria interna para descobrir se houve alguma irregularidade cometida pelo funcionário Benoni. Quanto a Roberto Marques, a Bonus-Banval diz que não conhece nem nunca ouviu falar do ajudante de Dirceu. Pouco se sabe ainda sobre as atividades da corretora paulista, exceto que ela empregou até o fim do ano passado como estagiária Michele Janene, filha do deputado José Janene, suspeito de ser um dos chefes do mensalão. Talvez um bônus do tipo banval.
O aparecimento de Roberto Marques deve pautar os debates da CPI dos Correios, que vai ouvir nesta semana a diretora financeira da SMPB, Simone Vasconcelos. Bob é uma espécie de secretário particular de Dirceu. Faz as vezes de motorista, de despachante e de carregador de bagagem. Funcionário da Assembléia Legislativa de São Paulo, ninguém sabe direito o que ele é realmente – só que está sempre na companhia de Dirceu. Em muitas ocasiões, foi visto circulando por gabinetes do Palácio do Planalto. Em março deste ano, Bob, sob o comando de Dirceu, foi um dos mais ativos operadores na campanha para a presidência da Assembléia Legislativa de São Paulo. A parceria entre Bob e Dirceu é tão intensa que o assessor chegou a representar oficialmente o então ministro da Casa Civil em solenidades, como a organizada pela Associação para Prevenção e Tratamento da Aids, realizada em 2003, em São Paulo. “Sou amigo do Zé há vinte anos. Faço companhia a ele nos fins de semana e ajudo no que for possível”, afirma Bob. Dinheiro de Valério? Ele garante que nada tem a ver com isso. É, segundo ele, coincidência ou armação. “Só em São Paulo existem 5.000 pessoas com o mesmo nome”, diz o amigo-secretário de Dirceu. “Nunca estive no Rural, não saquei dinheiro nenhum e se usaram meu nome foi indevidamente”, garante ele. O problema é que a CPI resolveu investigar e descobriu que a autorização foi, sim, dada ao assessor legislativo, embora ele não tenha sido o autor do saque. “Só pode ser então uma armação para complicar a vida do Zé Dirceu”, afirma. Esse Bob é mesmo esponja.
A confirmação de que o Roberto Marques do documento do Rural é o mesmo Bob ajudante de Dirceu foi dada a VEJA na última sexta-feira pelo deputado Carlos Abicalil, do PT de Mato Grosso. Sub-relator da CPI dos Correios, o parlamentar contou que foi procurado pelo próprio Marques na semana retrasada para tentar esclarecer o aparecimento de seu nome nos documentos contábeis do Banco Rural. Segundo o deputado, o assessor repassou o número de sua identidade e de seu CPF, para que ele pudesse conferir com os documentos em poder da CPI. O resultado da pesquisa, nas palavras do próprio deputado, foi o seguinte: “O número do RG conferia. Só não conferia o saque”, diz.
Dirceu sabia que o documento com o nome do ajudante apareceria cedo ou tarde. O próprio Roberto Marques contou ter conversado com o ex-ministro sobre o assunto muito antes de surgirem os rumores de que o papel existia. “Eu disse que não tinha nada a ver com isso.” Desde o início da semana passada, Dirceu procurava insistentemente falar com o presidente da CPI, o senador Delcidio Amaral. Na terça-feira, Delcidio foi à casa do ex-ministro, onde passou meia hora. Os dois tiveram uma conversa dura, segundo relatos ouvidos por membros da CPI. Oficialmente, discutiram sobre o andamento dos trabalhos da comissão. O ex-ministro demonstrou grande preocupação com a velocidade da investigação e, principalmente, com o vazamento de documentos – um estranho incômodo para quem, em tese, nada tem a ver com o assunto. Dirceu também defendeu que seu depoimento era desnecessário. Por fim, fez uma proposta indecorosa ao presidente da CPI. Sugeriu a Delcidio que barganhasse seu depoimento em troca da não-convocação do presidente do PSDB, Eduardo Azeredo, cujo nome também apareceu como beneficiário do dinheiro de Marcos Valério. Delcidio desconversou. Outros parlamentares afirmam que Dirceu queria sumir ainda com a autorização de saque para Bob, sob a alegação de que era um papel avulso, sem validade jurídica. Sobre o aparecimento do nome de seu secretário particular, ajudante, amigo e, agora se sabe, pau para toda a obra, Dirceu mandou dizer que tudo indica tratar-se de uma “plantação” para prejudicá-lo. A convocação do ex-ministro para a CPI deverá ser aprovada nesta semana.
Tags: José Dirceu, Mensalão
01/10/2012
às 5:47
E Fernando Pimentel, hein?, ministro do Desenvolvimento Industrial? Como é que fica? Amigo de Dilma, seu ex-companheiro de grupos terroristas, o homem está na berlinda de novo. Ele já foi flagrado chefiando — e foi ele quem contratou a turma — o grupo encarregado de forjar um falso dossiê contra o tucano José Serra na campanha eleitoral de 2010.
Depois se descobriu que tinha um estranha empresa de consultoria. Aí veio o caso da viagem no jatinho de uma empresa privada quando estava, em tese ao menos, a serviço da Presidência. No novo inquérito que apura outras franjas do mensalão, surge o nome de um ex-braço-direito do ministro. Leiam o que informa a Folha:
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Os congressistas da oposição defenderam ontem o afastamento do ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) até que sejam concluídas as investigações de repasses do “valerioduto” para uma pessoa ligada a ele.
Os congressistas da oposição defenderam ontem o afastamento do ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) até que sejam concluídas as investigações de repasses do “valerioduto” para uma pessoa ligada a ele.
Ontem, a Folha revelou que o ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, autorizou a abertura de inquérito para investigar repasses de empresas de Marcos Valério -acusado de ser o operador do mensalão- não analisados na ação julgada agora pelo STF.
Dessa nova lista constam, além do coordenador financeiro da campanha de Pimentel à Prefeitura de Belo Horizonte em 2004, pessoas que trabalharam em campanhas dos deputados Benedita da Silva (PT-RJ) e Vicentinho (PT-SP), entre outras.
“Se ele [Pimentel] já não tinha condições de continuar no ministério por causa das consultorias e da viagem em jatinho de empresário à Itália [outras suspeitas levantadas contra ele], imagine agora”, disse o líder do PPS, deputado Rubens Bueno (PR).
“Pimentel tem sido protegido [por Dilma]. Não dá para protegê-lo sempre”, afirmou o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE). O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), disse que “o julgamento não vai se encerrar em si próprio”.
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01 de outubro de 2012
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