De onde menos se
espera... é que não vem nada mesmo.
Sim, estou falando
dos votos de Lewandowski. Por seu conhecimento especializado, um ministro do
Supremo Tribunal Federal (STF) tem o direito de votar como bem entender no
julgamento do Mensalão.
Mas nós, cidadãos,
desprovidos desse conhecimento, temos também o direito a nossa interpretação
quanto ao que está fazendo o ministro.
Lewandowski absolveu
toda a cúpula dirigente do PT envolvida no escândalo de corrupção: o
ex-presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha, o ex-presidente do
partido, José Genoino, e o ex-ministro-chefe da Casa Civil, José
Dirceu.
Confirmaram-se as
piores suspeitas levantadas pelo arguto observador político Merval Pereira,
ainda no início do histórico julgamento:
"De minha parte,
espero ter me precipitado ao afirmar que Lewandowski agia de modo a ajudar os
réus políticos, especialmente os petistas. Vamos aguardar para ver como
distribuirá sua justiça."
Não, meu caro Merval,
você não se precipitou. Apenas avaliou corretamente os primeiros indícios da
atuação do ministro.
Temos os mais
legítimos interesses no aperfeiçoamento de nossas instituições democráticas. O
julgamento do Mensalão é um momento decisivo nesse processo. Com a condenação de
representantes do Executivo pela compra de apoio parlamentar, os ministros do
STF demarcam agora a independência do Poder Judiciário.
É um passo importante
para a erradicação de degeneradas práticas políticas.
Lewandowski admitiu
que "houve crimes graves, e quem os cometeu vai ter de pagar". Condenou
publicitários, banqueiros e políticos dos demais partidos como corruptos e
corruptores. Mas, no Mensalão, o que nos interessa é o julgamento de um atentado
contra a independência dos poderes de um regime democrático.
Aqui reside a questão
fundamental de interesse público:
a condenação da
compra de apoio parlamentar pelo antigo núcleo político do governo.
Os votos de
Lewandowski transformam-se, portanto, numa brutal, expiatória e inverossímil
acusação ao tesoureiro Delúbio Soares, tornando-o inteiramente responsável por
toda a condenável manobra de articulação suprapartidária ora em julgamento.
Prevalece a forma sobre o conteúdo.
Mas quem vai julgar
Lewandowski é a História de uma Grande Sociedade Aberta em
construção.
O Globo
09 de outubro de 2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário