Análise:
O choque na oferta
de alimentos, que entrou pela porta de uma grande seca nos Estados Unidos e se
espalhou por mercados cerealistas locais, parece ter esgotado a capacidade de
empurrar a inflação para cima. Nem por isso o Índice de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA), que é base para o sistema de metas de inflação, deixará de sofrer
o impacto de altas de outros preços.
É certo que o índice
continuará a evoluir no fio da navalha, embora sem ameaça de superar o teto da
meta.
Vilões, mais uma
vez, da elevação do IPCA em outubro, os alimentos já deram o que tinham de dar
para desviar o índice da rota desejada para o centro da meta de inflação. Também
divulgado ontem, o Índice Geral de Preços (IGP-DI), da Fundação Getúlio Vargas,
apontou deflação, causada principalmente pelo recuo dos preços agrícolas no
Índice de Preços no Atacado, principal elemento da composição do
IGP.
É uma indicação
segura de que, nos próximos meses, os alimentos darão folga aos índices ao
consumidor.
Com a saída de cena
dos alimentos, porém, outros grupos de preços devem manter a inflação sob
pressão. Em outubro, houve altas em seis dos nove grupos do IPCA, com destaque
para vestuário, que subiu além do previsto, mesmo para o período de mudança de
coleções e consequente alta nos preços.
Também os preços dos
veículos voltaram a subir.
Todas as medidas de
núcleo de inflação continuaram avançando em relação a setembro. E, mesmo quando
se exclui o item alimentos, o índice de difusão de altas, tomado o conjunto de
preços do IPCA, manteve-se em torno de 65%. O fato de a difusão das altas ter se
estabilizado não indica despreocupação.
Ao contrário, mostra
que as pressões atingem quase dois terços dos preços.
A difusão das altas
nos preços, contudo, não pode ser tomada como indicativo de descontrole nos
índices de inflação. Nos próximos meses, os analistas preveem alívio nas
pressões em alimentos e vestuário e novas altas em itens dos grupos habitação,
transportes e despesas pessoais.
Tudo bem medido, as
projeções apontam para elevações mensais do IPCA entre 0,5% e 0,6%, nos dois
meses que faltam para fechar o ano. Isso significa que continuará a subir, mas
não a ponto de escapar das vizinhanças de 5,5% - ponto equidistante entre o
centro e o teto da meta de inflação.
José Paulo
Kupfer
O Estado de S.
Paulo
08 de novembro de 2012
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