"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 8 de novembro de 2012

JABOR SE REVELA E SOLTA A SUA FRANGA ESQUERDOPÁTICA, BURRA E ANTIAMERICANA

 

Embora ele às vezes dê uma dentro, eu, de uma maneira geral, nunca fui com as fuças do Arnaldo Jabor. Endeusado por aquela parte da classe média que “não tem tempo” para se inteirar com política, mas tem para ler a revista Caras, Jabor virou uma espécie de arauto dessa gente para quem o capítulo final da novela Avenida Brasil foi muito mais importante que o julgamento final do mensalão. Gente que ouviu o galo cantar, mas não sabe aonde.
 
Exatamente por causa da “falta de tempo” dessa gente, Jabor, um “intelequituau” low profile, boa-pinta, da esquerda festiva inofensiva, caiu como uma luva como porta-voz dessa classe média preguiçosa, com a vantagem – para ele – de não ser cobrado nunca por causa do desconhecimento de causa dos seus seguidores.
 
Mas dessa vez ele exagerou nas tintas e nos preconceitos falando sobre os americanos no seu artigo das terças em O Globo. Leiam (os grifos são meus):
 
Hoje é dia de rock
 
Se o Obama ganhar, teremos a felicidade de ver a derrota das famílias gordinhas dos boçais da direita, seus churrascos nos jardins e nas cadeiras elétricas
 
Hoje nossa vida vai mudar. Para pior ou melhor? Hoje vamos saber. Quem dá mais? Obama ou Mitt? A inteligência que resiste à estupidez ou aqueles 59 milhões de idiotas que elegeram o Bush na fraude da Flórida? Será que vão repetir a roubalheira? Estranha herança da democracia dos founding fathers — furos propositais no sistema eleitoral, “zebras” programadas. Será que ganha o racismo oculto, recôndito, a KKK na alma de wasps? Bush foi o macaco na loja de louças do Ocidente. Mitt Romney finge ser uma evolução da espécie dos símios, mas é macaco também. E não me venham chamá-lo de “sensato conservador”.
 
Barack Obama passou por Malcolm X, por Luther King e atingiu uma espécie de síntese de virtudes políticas que almejamos: tolerância, a inteligência contra a mentira, pela superação da guerra partidária, contra os lobbies, contra a tirania do petróleo, contra o efeito estufa. E não me venham chamá-lo de “esquerdinha sem programa”...
 
E aumentou o perigo da eleição de Mitt, depois do péssimo desempenho de Obama no primeiro debate, em parte por narcisismo, pois estava “se achando” e, em parte, por ingenuidade, acreditando que ideias verdadeiras impressionam os eleitores americanos.
 
Mitt Romney, bem treinado por sua equipe, despejou um discurso de mentiras com altivez e articulação, com sua cara perfeita para presidente, seu rosto mix de Clinton com Kennedy, cabelo grisalhos, olhos úmidos e um sorriso irônico nos lábios, tudo estudado para arrasar Obama, que a seu lado parecia um vendedor de amendoim. Os democratas esqueceram que no discurso político importa muito mais o tom, o ritmo da frase, o sorriso na hora certa, a ênfase de falsas certezas, a beleza do rosto wasp. Mitt parecia um Lula ou um Maluf falando inglês: tudo para a mídia, todas as inverdades ditas com precisão e certeza.
 
Aliás, durante a convenção democrata, notei uma súbita sombra que passou no rosto de Michelle Obama enquanto Clinton fazia seu discurso histórico, arrasando os republicanos. Senti que Michelle, por um segundo, percebeu que o charme infinito, branco e wasp de Clinton poderia eclipsar o marido, sabia que a ajuda de Clinton era excelente e ao mesmo tempo perigosa — poderia relegar Obama para um papel de coadjuvante. Pode ter sido impressão minha, mas confirmou-se no primeiro debate. Diante dos dois wasps clássicos, Clinton e Mitt se digladiando por ele, baixou-lhe um tremor de presidente negro, diante do sutil racismo que existe na maioria dos americanos brancos. Depois disso, tudo ficou por um fio, empate técnico, subida da confiança do republicano que, aconselhado por seus orientadores como Karl Rove, resolveu voltar atrás e bancar o “moderado”, negando todas as barbaridades reacionárias que já proferiu. E com a propaganda reacionária, Obama ficou de “radical”, “comunista”, “muçulmano e filho bastardo de mãe adúltera”.
 
Mitt é o delfim da pior face da América: o mundo psíquico dos republicanos, filhos de um deus duro e implacável.
 
Suas caras, suas fuças parecem dizer: “Não tenho dúvidas, não quero ouvir, já sei tudo, Deus me disse...!!”
 
Eles encarnam o pensamento dos milhões de americanos que jazem entre o hambúrguer e o sofá, diante da TV, gente que acha que problemas se raspam, que dissidências se esmagam, que complexidades se achatam, que o múltiplo tem de virar “um”, que tudo tem princípio, meio e um fim e que o fim deve ser igual ao início.
 
Quando Mitt declarou: “Eu não sou o Bush!” — mentiu. Ele é o Bush, sim; eles são produzidos em série no útero puritano da América, forjados na velha religião do século XVII, falando nas “forças do mal”, que são eles mesmos. Há um racismo sutil além da cor da pele.
 
Se o Mitt for eleito, voltará a grande máquina careta onde todos se encaixam como parafusos obedientes, uma máquina que paralisa o presente num passado eterno, para impedir um futuro que lhes fuja do controle. Os republicanos não têm mais nada a aprender; moram na certeza, na eternidade, exatamente como os suicidas de Osama. Como os islamitas, o grande desejo letal, funéreo dos republicanos é a cultura da morte, a destruição de todas as conquistas progressistas dos anos 1960 e 70: liberdade, antirracismo, direitos civis. Querem limpar tudo com o detergente da estupidez.
 
O maior perigo é no plano internacional, com a vitória da ideia de que a América é um país excepcional e que deve reconquistar sua liderança no mundo todo, hostilizando a China, a Rússia, apoiando a extrema direita de Israel contra o Irã, sem cultura política e sem habilidade para um mundo em crise econômica (em parte devido a eles) e diante de conflitos crescentes no Oriente Médio. O perigo maior é o que eles pensam: “Chega de frescuras de democracia, multilateralidade, tolerância, bom senso! Vamos botar pra quebrar!”.
 
Imaginem uma guerra na Mesopotâmia, em cima do mar de petróleo. A zona geral do Oriente Médio atingiria o mundo todo, quebraria o comércio internacional e nossos sonhos de emergentes privilegiados. Sente-se no ar o desejo inconsciente por uma tragédia que pareça uma “revelação”. Sim. Diante de tantos fatos insolúveis, surge a fome por algo que ponha fim ao “incontrolável”, a coisa que americano mais odeia. Mesmo uma catástrofe atômica parecerá uma “verdade” nova.
 
Por outro lado, se o Obama ganhar, além de termos um homem sério e culto no poder, um líder capaz de se haver com a complexidade política da época atual, teremos a felicidade de ver a derrota das famílias gordinhas dos boçais da direita, os psicopatas sorridentes de dogmas, seus hambúrgueres malditos, seus churrascos nos jardins e nas cadeiras elétricas, não veremos mais os meninos mortos voltando do Iraque como sanduíches embrulhados para viagem, a crueldade em nome da bondade, a fé contra a razão, a santidade da burrice, tudo sob um inferno de cânticos evangélicos e música country.
 
Não percam: hoje, mais um passo para o nosso destino!
08 de novembro de 2012

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