Media Watch - O Globo
Mas tentar encobrir esses quatro anos pintando uma atuação espetacular contra o furacão, na última semana de campanha, quando os americanos sobreviventes passaram mais de 5 horas na fila do combustível e milhares deles, especialmente em Nova York e Nova Jersey, entraram em desespero sem água, sem energia e morrendo de frio, aí é coisa que só a imprensa esquerdista pode e sabe fazer.
"Obama foi show na reta final, diante do furacão, isso vai ajudar", escreveu o correspondente obamista da TV Globo nos EUA, Jorge Pontual, em seu diário de torcedor, digo, twitter. Obama é sempre "show" para os nossos jornalistas, mesmo quando o caos se instala dentro ou fora de seu país, deixando um rastro de vítimas fatais.
É por isso que, a cada vez que um feicebuquiano grita "Go Obama!", não consigo deixar de pensar nos gestos heróicos da imprensa brasileira, que, diariamente, faz um furacão de notícias americanas darem meia-volta com um sopro.
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Arnaldo Jabor, nada tendo a acrescentar ao nada, reutilizou no dia da eleição o seu rap obamista de semanas antes, copiando e colando uma porção de parágrafos, sem avisar ao leitor e, imagino, ao editor, se é que existe algum em O Globo.
Ok. Na verdade, ele acrescentou um ou outro trecho - o que, em seu caso, é sempre um decréscimo -, dando ao rap recauchutado o título de "Hoje é dia de rock". Por diversão, comento aqueles trechos - e somente aqueles - em que a demência ideológica tem alguma utilidade elucidativa.
1. Se Obama pediu que seus eleitores votassem por "vingança", ninguém melhor do que Arnaldinho para traduzir de quem eles se vingam: "Se Obama ganhar, (...) teremos a felicidade de ver a derrota das famílias gordinhas dos boçais da direita, os psicopatas sorridentes de dogmas, seus hambúrgueres malditos, seus churrascos nos jardins e nas cadeiras elétricas (...), tudo sob um inferno de cânticos evangélicos e música country". Eu, que não sou gordinho nem como hambúrguer, já estou aqui com meu "sorriso de dogma", meu jardim e meus playlists do Jotta A. e da Dolly Parton para alegrar Arnaldinho. Vou ver se seu ídolo, Fidel Castro, me aluga a cadeira elétrica, já que ele sempre preferiu "el paredón".
2. Arnaldinho continua: "não veremos mais os meninos mortos voltando do Iraque como sanduíches embrulhados para viagem". É verdade (até porque Saddam Hussein está morto, graças a George W. Bush, esta "força do mal"...). Agora vemos embaixadores e oficiais mortos voltando de Benghazi embrulhadinhos para Obama, que preferiu deixá-los para trás a dar na vista que a Al-Qaeda, que ele dizia ter dizimado, ainda está a pleno vapor - e que o próprio embaixador lhes fornecia armas, em prol de outras aventuras. Se Bush era, para Arnaldinho, a "crueldade em nome da bondade", Obama seria o quê? A "crueldade em nome da política"?
3. Não, não. No Planeta Jabor, Obama é "um homem sério e culto", "um líder capaz de se haver com a complexidade política da época atual", "uma espécie de síntese de virtudes políticas que almejamos: tolerância, inteligência contra a mentira, pela superação da guerra partidária, contra os lobbies, contra a tirania do petróleo, contra o efeito estufa". Se Arnaldinho se esforçasse só um tiquinho para justificar cada elogio com as ações correspondentes, eu até respiraria fundo para refutar um por um. Mas aí não seria Arnaldinho, não é? De modo que, muito embora tentado a comentar o item "contra o efeito estufa" como uma das "virtudes políticas que almejamos", vou me limitar, preguiçosamente, a compartilhar um videozinho - feito para a campanha, mas eternamente esclarecedor - que mostra um pouco deste "líder" responsável que luta seriamente "contra a mentira", com uma margem de erro - modesta, sem dúvida - de 500% entre suas promessas e suas realizações.
Obama teve o seu dia de rock, garantindo mais quatro anos de golfe na Casa Branca.
Mas todo dia é dia de desmascarar os "vingadores".
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Sempre que faz bem à imagem, Obama tem uma foto prontinha para divulgar.
Mal garantiu a vitória, apareceu abraçado a Michelle, com um fundo celestial. Quando Bin Laden morreu - graças a todo o investimento bélico de Bush -, Obama apareceu no Situation Room, supostamente acompanhando a operação. Quando o furacão Sandy veio em plena campanha eleitoral, apareceu lá de novo discutindo respostas. Quando quatro americanos foram mortos em Benghazi... Ah, aí não. Nada de flashes. Será que foi o fotógrafo quem faltou nesse dia?
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Ok, ok. Ninguém quer saber se o sujeito deixou gente morrer, mentiu e empurrou o caso com a barriga para não compremeter a reeleição, com a ajuda dos Arnaldinhos locais. Muito menos se ele assina decretos como o Defense Authorization Act, arrogando-se o direito de mandar matar ou de prender por tempo indefinido, sem processo nem habeas corpus, qualquer cidadão americano. Do maior índice de desemprego que o país já teve desde a Segunda Guerra, então, nem pensar. Ele imposta bem a voz. Ele faz garrinha com a mão enquanto discursa. Ele mantém o queixo erguido e alterna o olhar entre ambos os lados da plateia. Obama é "show". E ainda - imagine - tem esperanças para dar e vender, como mostrou no discurso da vitória. É só confiar nele. É só confiar na imprensa. É só confiar no governo. É só esquecer os últimos quatro anos.
Os EUA têm muito a comemorar. Com sorte, Obama vem ao Rock In Rio 2013 e ainda estreia o nosso campo olímpico de golfe.
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Nota de rodapé 1:
Eu, Al-Qaeda e Putin estamos satisfeitíssimos com a vitória de Obama. Nosso trabalho fica bem mais fácil e divertido.
Nota de rodapé 2:
Nada é mais humilhante para mentes brasileiras que a matemática das eleições americanas.
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08 de novembro de 2012
Felipe Moura Brasil
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