Depois de ler os inúmeros cartões recebidos com desejos de prosperidade e felicidades no novo ano, fiquei matutando em como escrever algo semelhante aos que perambulam nestas páginas. E depois de muito mastigar outras mensagens internéticas, todas alvissareiras, fiquei perdido, remoendo idéias de como também me comprometer em desejar votos de prosperidade e felicidade.
Mas como, diante do cenário que diariamente enfrento com notícias tão pouco radiantes?
Então, contrariando os otimistas, resolvi garatujar uma mensagem nem tão edificante, mas franca.
Entre denúncias, escândalos, julgamentos e impunidades, o ano de 2012 terminará sem deixar saudades, sem que possamos esperar uma nova aurora de esperanças.
Como será uma aurora com Renan, presidente do Senado, ou com Henrique Eduardo Alves, presidindo a Câmara, o deputado José Nobre Guimarães como líder da bancada petista, José genoíno voltando a sentar na poltrona de deputado... É a volta dos que não foram!!!
Há que se acordar desta letargia que adormeceu a consciência da nação, para com ardo labor possa semear-se para colheitas futuras. Que os grãos desta safra estão quase todos carunchados.
Todas as previsões não nos apontam rumos otimistas. A impressão que os analistas econômicos passam é a de um Brasil que navega entre o futebol e as celebridades das telenovelas, ou dos BBBs, em busca do seu iceberg. Ainda que não naufrague, fruto da incompetência de um Partido que chegou ao poder sem um projeto de governo, senão o de no poder permanecer, não importando os meios para alcançar os fins, ficaremos no mínimo à deriva.
O ralo da corrupção continua engolindo somas impressionantes! Recursos roubados do erário que deveriam ser investidos em infraestrutura, saúde, educação, segurança, saneamento... Recursos que poderiam sanar os grandes males do atraso. E o cinismo, a desfaçatez, o descaso com que os chamados "homens públicos" olham para esses eleitores que os entronizam no poder, é o indicativo pior da qualidade ética da política que se pratica no país. É inominável o cinismo e a caradura de um Demóstenes. Um Senador da República amancebado com a corrupção e a jogatina. Não lhe faltou o dedo em riste, as acusações de fraudes que imputava a seus pares, os discursos inflamados em prol da Ética. E quantos demóstenes estão por aí, mascarados nos desvãos do peculato
? E de quantos demóstenes se faz este Brasil? Ou de quantos estamos falando?
Relembro um caso dos mais curiosos, e não obstante, dos mais significativos, narrado por Marco Morel em seu livro "Corrupção, mostra a sua cara".
Butsé Dzuruna, mais conhecido por Mario Juruna, foi o primeiro e único índio eleito deputado no Brasil, lá pelos idos de 1983. Em suas idas e vindas pelos corredores do Congresso, também conhecido como a "casa do espanto", logo percebeu que a maioria dos parlamentares com quem discutia os problemas indígenas, não era lá muito confiável. O melhor exemplo do confronto de duas culturas...
Resolveu adotar uma estratégia: um gravador, que não ocultava nas suas interlocuções com a politicalha, onde ficava registrado o "papo furado".
Era um daqueles gravadores cassetes, que ele ligava na cara da pessoa, sem o menor acanhamento. Era um horror... As reações eram variadas. Os 'involuntários' entrevistados mostravam-se irritados, ofendidos. Muitos sentiam-se desrespeitados, negavam-se a conversar, ou se limitavam a falar amenidades.
Os jornalistas se divertiam e a população muito mais, com os feitos e efeitos, com a sinceridade ingênua do cacique xavante.
Certa vez, em plenário, acusou o presidente João Baptista Figueiredo - e seu ministros - de ladrões, corruptos e outros qualificativos pouco recomendáveis. Sofreu intimidações e ameaças de cassação de mandato e por aí a fora.
Corria o ano de 1984. A campanha das "Diretas Já" fora derrotada. A eleição presidencial seria indireta. Paulo Maluf, candidato situacionista, segundo rumores estaria distribuindo dinheiro aos parlamentares para derrotar seu adversário, Tancredo Neves.
O primeiro mensalão da história da política brasileira.
Em outubro, Juruna convocou a imprensa e mostrou uma valise cheia de dinheiro, afirmando ter recebido a "grana" do empresário Calim Eid - coordenador da campanha de Maluf, para que votasse no candidato. Ou não comparecesse. Os acusados negaram.
Mas qual o propósito desta historinha? Ilustrar a esperteza de um cacique xavante, que logo descobriu que na "casa do espanto", não se podia confiar na palavra de qualquer parlamentar? Ou demonstrar que vem de longe a corrupção, o mensalão e a falta de ética?
Novidade mesma, só a do xavante, apesar de antiga, pois ambas as coisas sedimentam a vida pública brasileira, e o propósito é exatamente este. Vem de longe a falta de escrúpulos e seriedade, que a ingenuidade de um cacique cedo percebeu e desnudou.
O Congresso está nu! - gritou o cacique.
Apesar de todo o sofrimento por que passa o povo brasileiro, continua acreditando em promessas eleitoreiras, elegendo uma gangue de espertalhões que apenas procura o caminho do cofre público, e ainda não percebeu a bandalha, como o cacique Juruna, e continua sendo enganado.
Conclusão: precisamos de mais xavantes, pois como profetizou o homem do lula, "o bicho vai pegar!". O velho ano novo promete ser animado!
Apesar de tudo, um ótimo Ano de 2013! Se for possível... Afinal, Deus é brasileiro, o que explica andar tão deprimido...
31 de dezembro de 2012
m.americo