Ora, ser ignorante e feliz? Ser uma fera saciada de seus desejos? Ou sofrer irremediavelmente das dúvidas e das angústias que o saber proporciona? Ficar na pequenez e dela aproveitar os prazeres físicos? Ou se voltar para os horizontes de um infindável e enigmático universo?
“Nihil cogitatium jucundissima vita est”, assim não pensar deixa a vida felicíssima pelas sensações e prazeres que se apagam como um fogaréu de palha? Contrariando o caminho da ignorância, os estóicos diziam, “Sapere longe, prima felicitatis pars est”, saber enxergar longe é o primeiro passo para se chegar à felicidade.
Os dois são caminhos antagônicos, o do prazer fisiológico, fim a si mesmo, decididamente o mais usado pela humanidade, ou a busca da evolução espiritual que passa pelo estudo, pelo saber, pela abstinência.
Para alguns, a felicidade se concentra em copos de cachaça, mas não para nem na taça de champanhe, levando prematuramente aos incômodos da doença, se transforma em vaidade, em desejo de poder que nunca se sacia; para outros, menos numerosos, é a dedicação ao ideal transcendente que não vê no sacrifício um espantalho, mas uma passagem obrigatória, um pedágio à evolução.
Entre a cruz e a espada, o caminho passa “peráspera” e vai “ad astra”.
Subir as estrelas, aos píncaros da essência humana, transita justamente pela aspereza das renúncias, das quedas, da solidão e sempre pela incompreensão. O indivíduo consciente entende que sua vida não é o começo nem o fim de uma trajetória evolutiva. Em suas escolhas, vê oportunidades que formarão seu cabedal íntimo, indestrutível e eterno.
Dante avisou: “Feitos não fomos para viver como embrutecidos, mas para perseguir virtudes e conhecimentos”. Angústias, tristezas, melancolias, frustrações e até solidão do incompreendido são facetas a lapidar de uma pedra que se chama “vida”.
(Transcrito do jornal O Tempo)
30 de dezembro de 2012
Vittorio Medioli
Nenhum comentário:
Postar um comentário