"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 30 de dezembro de 2012

AS ÚLTIMAS SANDICES DE 2012

 

Com a genial ideia de confeccionar mais de 500 cédulas com 463 páginas para votar de uma só vez 3.060 vetos, vários encalhados há mais de 12 anos, o senador José Sarney (PMDB-AP) atingiu o ápice nas trapalhadas que assolaram o país nas últimas semanas.

A maior cédula já impressa contrastou com o relatório de apenas duas páginas da CPI do Cachoeira. Essa conseguiu a proeza de não indiciar ninguém, nem mesmo o bicheiro que a batizou.

O desatino do livro-cédula deixou claro que o Congresso não dá a mínima para coisa alguma.

Com a molecagem, queria-se driblar a liminar do ministro do STF Luiz Fux, que considerou inconstitucional votar o veto aos royalties do petróleo fora da ordem cronológica. Como a armação de Sarney não deu certo, a decisão, talvez por birra, foi a de não apreciar o orçamento de 2013.

De pronto, veio a contribuição do Executivo para esse festival de insensatez. Sem capacidade de negociar, mesmo tendo maioria avassaladora – nunca antes vista neste país -, o governo preferiu o caminho mais fácil: editar uma Medida Provisória de constitucionalidade duvidosa.

Pior: cravou nela gastos de mais de R$ 42 bilhões, um terço do total previsto para o próximo ano.

Ou seja, se o Congresso nada votar antes do carnaval, pode-se passar pelas águas de março e tudo bem.

Por sua vez, a presidente Dilma Rousseff adicionou ingredientes à galhofa geral. Em entrevista, aconselhou os jornalistas a gargalhar se alguém atribuir apagões a raios, em franca divergência com o seu ministro da Energia Edison Lobão e com o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema (ONS) Hermes Chipp. Melhor seria demiti-los. Ou, no mínimo, calar-lhes a boca.

A presidente foi mais longe. Para ela, não existem apagões. O que o carioca viu na semana que passou ou o breu em meio país em setembro e de novo em outubro foi pura ficção.

E há outras. Sem arriscar números, Dilma garantiu que o PIB vai crescer em 2013 e que está reduzindo tributos. Só não contou para quem, já que para o trabalhador os impostos continuam a comer quatro meses de seus ganhos.

Como palhaçadas atraem palhaçadas, coube ao presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS) a máxima de se prontificar a dar asilo político na Casa do povo caso fosse decretada a prisão imediata dos mensaleiros condenados.

Após um ano que termina com tamanha zombaria não é de se espantar que o próximo comece com a posse como deputado federal do réu condenado José Genoíno.

Ainda assim, 2012 ficará na História. E deixará um legado que o país terá sempre de agradecer à sua Suprema Corte.

Feliz 2013.

30 de dezembro de 2012
Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília.

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