(continuação)
Cartier-Bresson, tal como os grandes documentaristas de Paris, Eugène Atget e Brassaii, caminhava pelas ruas sem destino específico, sempre com sua Leica e de tanto andar pela cidade, ficou conhecido como ‘o homem da Leica’. Queria registrar a tensão entre os privilegiados e os despossuídos, o espaço entre o fato extraordinário e o fato comum.
Vale recordar que ele na década de 30 trabalhou com Jean Renoir, o grande diretor de cinema, e com ele aprendeu que a estrutura humanitária e a consciência política deviam transpirar em seu trabalho.
Em 1947, Bresson funda, com Robert Capa e David Seymour, a agência Magnum. Quem gosta de fotografia, sabe o que é a Magnum – berço e repositório desde então, da obra de grandes fotógrafos. Fiz o link para quem quiser saber mais sobre a Magnum.
Estamos publicando aqui, nesta semana, retratos feitos por Bresson que, aliás, dizia não ficar muito confortável ao retratar pessoas pois para um bom retrato era necessário “se colocar entre a camisa e a pele do fotografado”...
Creio que conseguiu seu intento: suas fotos, como disse o editor do livro Tête à Tête, são como um diálogo entre o autor e seu modelo.
Mas é bom frisar que ele foi essencialmente um fotógrafo da vida, dos acontecimentos, do drama humano. Como ele disse de sua agência: “A Magnum é uma comunidade pensante, que cultiva uma qualidade do homem e a compartilha, a curiosidade sobre o que vai pelo mundo, o respeito pelos fatos e o desejo de relatá-los visualmente, com fidelidade”. (a continuar)
A fotografia:
Henri Emile Benoît Matisse nasceu em Le Cateau, no extremo norte da França, em 31 de dezembro de 1869. A casa de seus pais tinha duas peças e segundo o pintor, o chão era de terra batida e quando chovia, as goteiras molhavam a cama onde ele nasceu.
Sua família vivia naquela aldeia há muitas gerações e Henri nasceu num mundo que então começava a se descolar do modo de vida existente desde os Romanos.
Foi a estrada de ferro que colocou Le Cateau no mapa industrial, mas apesar do trem, as pessoas do lugar ainda preferiam viajar a pé ou a cavalo.
Seus pais eram herdeiros das tradições locais, ele, das tecelagens e ela, dos curtumes. Da mãe herdou a sensibilidade e dela falava sempre com ternura. Do pai, a noção de ordem, dever, respeito, disciplina. “Minha mãe gostava de tudo que eu fazia”. Do pai recordava as ordens: ‘não faça isso!’, ‘vá rápido!’, ‘preste atenção!’.
Muitos anos depois ele se culpava pela pouca disciplina com os filhos ou pelas demonstrações de afeto em público como fraqueza de sua parte. Mas durante os tempos duros da Guerra, quando ser comedido e disciplinado eram importantes, ele revelou ter orgulho em ser um homem do norte.
O que ele menos tolerou em sua infância e adolescência, e pelo resto de sua vida, foram os rigores do inverno. Sempre odiou o frio. A tristeza da paisagem invernal. Mas nunca deixou de falar e lembrar da casa, dos pais, do pombal que tinham no quintal, das sementes, das plantas, dos animais com os quais conviveu desde sempre.
Passou o resto da vida em busca do sol. E desde que começou a pintar, a cor passou a ser o ar que ele respirava. Matisse disse à noiva: "Vou te amar sempre, mas nunca mais do que à pintura...". Foi fiel à pintura.
Matisse não é pintor para se mencionar en passant, como retratado de uma foto, embora de Cartier-Bresson. Paro por aqui: disse o suficiente para que vocês compreendessem a indumentária dele dentro de casa e a pombinha com quem parece conversar para melhor desenhá-la.
A ele dedicaremos uma semana, certamente.
Os peixes dourados, Henri Matisse, 1912 - acervo Museu Pushkin, Moscou
01 de janeiro de 2013
Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa
in ricardo noblat
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